Modelos plus size: as novas mulheres irreais | Pati Rabelo | Digestivo Cultural

busca | avançada
78345 visitas/dia
2,4 milhões/mês
Mais Recentes
>>> Exposição Negra Arte Sacra celebra 75 Anos de resistência e cultura no Axé Ilê Obá
>>> Com Patricya Travassos e Eduardo Moscovis, “DUETOS, A Comédia de Peter Quilter” volta ao RJ
>>> Op-Art – Ilusão e Inclusão na Galeria Espaço Arte MM
>>> Grupo Nós do Morro abre Oficina de Artes Cênicas com apresentação da Cia. TUCAARTE
>>> Livia Nestrovski & Fred Ferreira
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> A vida, a morte e a burocracia
>>> O nome da Roza
>>> Dinamite Pura, vinil de Bernardo Pellegrini
>>> Do lumpemproletariado ao jet set almofadinha...
>>> A Espada da Justiça, de Kleiton Ferreira
>>> Left Lovers, de Pedro Castilho: poesia-melancolia
>>> Por que não perguntei antes ao CatPt?
>>> Marcelo Mirisola e o açougue virtual do Tinder
>>> A pulsão Oblómov
>>> O Big Brother e a legião de Trumans
Colunistas
Últimos Posts
>>> Lygia Maria sobre a liberdade de expressão (2025)
>>> Brasil atualmente é espécie de experimento social
>>> Filha de Elon Musk vem a público (2025)
>>> Pedro Doria sobre a pena da cabelereira
>>> William Waack sobre o recuo do STF
>>> O concerto para dois pianos de Poulenc
>>> Professor HOC sobre o cessar-fogo (2025)
>>> Suicide Blonde (1997)
>>> Love In An Elevator (1997)
>>> Ratamahatta (1996)
Últimos Posts
>>> O Drama
>>> Encontro em Ipanema (e outras histórias)
>>> Jurado número 2, quando a incerteza é a lei
>>> Nosferatu, a sombra que não esconde mais
>>> Teatro: Jacó Timbau no Redemunho da Terra
>>> Teatro: O Pequeno Senhor do Tempo, em Campinas
>>> PoloAC lança campanha da Visibilidade Trans
>>> O Poeta do Cordel: comédia chega a Campinas
>>> Estágios da Solidão estreia em Campinas
>>> Transforme histórias em experiências lucrativas
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Elvis e Michael: do extrativo ao industrial
>>> A Espada da Justiça, de Kleiton Ferreira
>>> Sobre escrever a História
>>> A natureza selvagem da terra
>>> Políticas para a leitura
>>> Alterações pernambucanas
>>> Adriano Amui no #MitA
>>> A Feira do Livro de Porto Alegre
>>> Bate-papo com Lucas Murtinho
>>> O Natal quase sempre é um problema
Mais Recentes
>>> Quem Matou Palomino Molero ? de Mario Vargas Llosa pela Francisco Alves (1980)
>>> Sociologia Do Direito - O Fenomeno Juridico Como Fato Social de Felippe A. De Miranda Rosa pela Zahar (1975)
>>> O Homem Alfa e Ômega da Criação Volume IV de Charles Vega Parucker pela Não Identificado (1987)
>>> Padrões de Energia Vital de Julian Barnard pela Aquariana (1993)
>>> Análise de Regressão: Como Entender o Relacionamento Entre as Vari... de Cristina Werkema Sílvio Aguiar pela Werkema (1996)
>>> Microeconomic Analysis de Hal Varian pela Norton (1982)
>>> Quadrante 1 de Carlos Drummond de Andrade e Outros pela Do Autor (1989)
>>> Matemática Aplicada À Administração E Economia de Tan pela Saint Paul (2001)
>>> Matematica Aplicada de Larry J. Goldstein pela Bookman Companhia Ed (2000)
>>> A Importância de Compreender de Lin Yutang pela Circulo do Livro (1982)
>>> Utopia Selvagem de Darcy Ribeiro pela Nova Fronteira (1982)
>>> A Infantaria Ataca de Erwin Rommel pela Biblioteca do Exercito (2007)
>>> Jogo das Formas – Lógica do Objeto Natural de Luís Eustáquio Moreira e José Luíz Mendes Ripper pela Nau Edições (2014)
>>> The Radiance Of Being: Complexity, Chaos And The Evolution Of Consciousness de Allan Combs, Vilmos Csanyi, Robert Artigiani, Ervin Laszlo pela Paragon House (1996)
>>> Ary Barroso - a História de uma Paixão de Antonio Olinto pela Mondrian (2004)
>>> Como escrever boas notas de Sönke Ahrens pela Fisicalbook (2023)
>>> Introdução Ao Estudo Do Direito de Paulo Nader pela Forense (2004)
>>> A Geografia Da Pele de Evaristo De Miranda pela Record (2015)
>>> Tecnologia Mecânica. Estrutura E Propriedades Das Ligas Metálicas - Volume 3 de Vicente Chiaverini pela Pearson (1995)
>>> Tecnologia Mecânica. Estrutura E Propriedades Das Ligas Metálicas - Volume 1 de Vicente Chiaverini pela Pearson (1995)
>>> Em Nossa Proxima Vida de Lauren James pela Harpercollins Brasil (2016)
>>> Enhancing Food Safety de Operação Cavalo de Tróia - Vol 1 pela Mercuryo (1987)
>>> Passo De Caranguejo de Günter Grass pela Nova Fronteira (2002)
>>> Colunas do Caráter de S Júlio Schwantes pela Casa Publicadora Brasileira (1980)
>>> Chuva Miuda de Flora Machman pela Garamond (2011)
COLUNAS

Terça-feira, 19/11/2013
Modelos plus size: as novas mulheres irreais
Pati Rabelo
+ de 17900 Acessos

Não procure mulheres reais em anúncios de sapatos, num desfile da Dior, em editoriais de moda ou na capa da Nova. A tentativa tem tudo pra ser frustrante, pois você dificilmente achará. Talvez você pense ter encontrado ao se deparar com algo ligado ao segmento plus size. É que, nos últimos anos, querendo dar a entender que estão reconhecendo a cidadania das mulheres que não se parecem com manequins de vitrines vivos, a indústria da moda e a mídia colocaram esse padrão sob os holofotes. (Lá fora, esse rótulo engloba a numeração que vai do 12 a 24, o que no Brasil equivale ao intervalo que vai do 40 ao 52. Sim, é bastante absurdo dizer que plus size começa no 40, mas é verdade.)

À primeira vista, pode parecer que isso é um passo no sentido de universalizar o direito das mulheres de terem as formas corporais que elas quiserem e puderem. Sem pressão, sem alguém dizendo que elas estão erradas por destoarem das magérrimas modelos, que, por definição, significam referências, exemplos a serem imitados. Engano. Quando você encontrar mulheres gordas na mídia, elas terão rostos lindos de morrer, todas com suas medidas e formas também "ideais" pro padrão daquelas que vestem mais que 38. Sem contar que, assim como as magras, as modelos de manequins maiores só terão suas fotos publicadas após muitas camadas de tratamento digital: suas peles parecerão sempre lisinhas, uniformes e sem celulites, e elas terão cintura fina e coxas grossas em um conjunto que revelará proporcionalidade. Dessa forma, do ponto de vista da mulher da vida real, uma modelo plus size (e observe que aqui estamos falando novamente de um modelo) é tão idealizada e possui uma imagem tão inalcançável para a mulher comum quanto a Gisele.

Outro aspecto que parece indicar que a "inclusão midiática" da mulher gorda não passa de discurso fabricado pra vender coisas são os eufemismos: elas são chamadas de gordinhas, de "cheias de curvas" - de plus size, enfim. Porque falar que alguém é "plus size" (ou "tamanho extra") é utilizar um eufemismo, sim, como se dizer que a pessoa é gorda fosse um palavrão. Há toda uma construção social conferindo uma carga negativa a esse termo e que o faz soar como ofensa. Já a palavra "gordinha", assim no diminutivo, também parece uma manobra pra minimizar o problema, a gravidade da falha quase moral de possuir mais que o nível permitido de gordura no corpo. Se estivéssemos falando de uma democratização real no que diz respeito a pesos e medidas femininos, nenhuma adulta precisaria ser chamada de gordinha, pois não haveria nada de errado com o adjetivo gorda.

Assim, por mais que se tente fazer parecer o contrário, na moda e na mídia, só há espaço para mulheres idealizadas. Afinal, se é sempre aquilo que não se tem - a falta, o que não se alcançou ainda - que vai movimentar o desejo, que, por sua vez, é o principal motor do consumo, por que nesse caso seria diferente? O problema aqui é fingir que se está, finalmente, utilizando representações visuais condizentes com aquelas que as mulheres comuns veem no espelho, quando, de fato, o jogo continua o mesmo: segue-se vendendo imagens aspiracionais irreais. No auge da sua carreira e do próprio império das supermodelos, Cindy Crawford deu uma declaração que ilustra perfeitamente esse descompasso entre a mulher da revista e a mulher da vida real: "Todo mundo tem que entender que, antes de duas horas fazendo o cabelo e a maquiagem, nem eu me pareço com a Cindy Crawford".

Há ainda o fato de que a mulher gorda é tratada sempre como excentricidade, como algo não natural, já que natural é a magreza, segundo o discurso oficial. Nenhuma marca classifica uma calça 36 como tamanho especial, tampouco alguma revista destacaria na capa um editorial de moda cujo chamariz fosse o fato de só apresentar magras tipo Twiggy. É como se moças gordas fizessem parte de um gueto: estão em anúncios de produtos feitos especialmente pras elas; estão em editoriais de moda com o "tema" plus size. Veja que não se trata de mulheres aparecendo, em toda a sua diversidade, em uma campanha qualquer de um produto qualquer e não apenas daqueles direcionados às plus size. Assim, 48 não é um número dentro do espectro possível; é um tema. Mesmo no auge da febre plus size na mídia, por volta de 2009, não se viam modelos de aspecto renascentista em comerciais de xampu, por exemplo. E, em lojas de departamentos americanas como Nordstrom, Forever 21 e Macy's, você vê seções como men, girls e plus size. Fica claro que não estamos falando de mais um tamanho da grade e sim de um segmento à parte: há roupas para homens, roupas para mulheres e roupas para [mulheres] plus size.

A Dove, com sua "Campanha pela Real Beleza", que apresenta mulheres comuns com corpos, rostos e faixas etárias diversos em seus anúncios, é caso clássico de exceção que confirma a regra. Se a marca escolheu esse mote pra sua comunicação nos últimos anos, o motivo é justamente a homogeneização existente no discurso contemporâneo sobre o que é bonito e, por que não dizer, válido e certo. Claro que o objetivo último da campanha é vender mais, porém esse caso é digno de nota, pois não deixa de ser corajoso uma marca de produtos de beleza estampar, por exemplo, o close no rosto de uma senhora toda cheia de rugas em um anúncio de revista.

Então, magra ou gorda, não importa muito: você verá sempre uma figura moldada para gerar expectativas irreais nas mulheres em relação a si mesmas e às demais. Mas o público feminino parece perceber isso, ainda que intuitivamente. Um estudo conduzido, em 2009, por uma equipe de pesquisadores da Alemanha, EUA e Holanda, concluiu que as fotos das modelos em revistas, sejam elas magras ou gordas, fazem as mulheres acima do peso se sentirem piores com os seus corpos. E, na contramão disso, mulheres abaixo do peso normal se sentem melhores quando olham as mesmas fotos.

Essa conclusão põe em cheque as pretensas intenções democráticas da indústria da moda, tendo a mídia como fiel escudeira, ao difundir o rótulo plus size. Isso porque nos faz pensar que redefinir os padrões estéticos por meio das revistas e outdoors talvez não seja a panaceia pra já fragilizada autoestima das mulheres que estão fora dos cânones atuais da beleza.

Como a autoestima das mulheres consideradas com sobrepeso sempre diminui, independentemente das modelos que elas veem, o problema não parece ser uma imagem em particular que alguém olha, mas sim a apresentação da beleza sob qualquer padrão. Assim, ver uma modelo tamanho GG como a garota da capa não necessariamente fará uma garota que veste 50 se sentir melhor consigo mesma. A menos, claro, que ela já faça uma distinção saudável entre a fantasia embutida nas imagens da mídia, mesmo quando se trata das modelos plus size, e a realidade que ela vê todos os dias no espelho.


Pati Rabelo
São Paulo, 19/11/2013

Mais Pati Rabelo
* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site



Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Petit, o Monstro
Geruza Zelnys
Mov Palavras
(2014)



A Rebelião na Terra Santa
Menahem Beguin
Freitas Bastos
(1970)



Manual da Proéxis
Waldo Vieira
Iipc
(1998)



Espumas Flutuantes
Castro Alves
Abc
(2002)



Livro A Noiva do Highlander
Michele Sinclair
Astral Cultural
(2017)



O pai
Dirce de Assis Cavalcanti
Ltc
(1990)



Aprendiendo Sobre El Calentamiento global - lecturas modernas
Vários Autores
Moderna
(2007)



Arte e Artistas Plásticos no Brasil 2000
Vários autores
Metalivros
(2000)



Curso de Direito Constitucional Tributário - 25ª Edição
Roque Antonio Carrazza
Malheiros
(2009)



Ink Blot - the Badly Drawn Girl
Maria Eugenia
Callis
(2012)





busca | avançada
78345 visitas/dia
2,4 milhões/mês