Vou mudar o foco da coluna e voltar a falar sobre algo que era pra ser mais constante: cinema. Deixo um pouco as explicações sobre cargos técnicos (a não ser que alguém escreva pedindo mais explicações ou gostando do assunto) para me aventurar no ramo estético. Falar sobre linguagens visuais. Eu o faço sabendo do risco.
Esse é um terreno complicado, pois estética visual esbarra no "gosto". E como sabemos, gosto não se discute, se lamenta. Os filmes (atrás deles, os vídeos e a TV) evoluíram rapidamente em 100 anos. No início, fotogramas embaçados e prateados rodavam à manivela numa velocidade de 15 quadros por segundo, depois foram ganhando tinturas, um pianista ao vivo, ruídos em disco, velocidade constante de 24 quadros/segundo, sons sincronizados, cores, bitola larga como a de 70mm, Dolby, DTS, SDDS, etc... Chegamos hoje em películas que parecem impossíveis de serem superadas, na qualidade técnica.
A linguagem hoje é outra, claro. Quem vê filmes dos anos passados como Fight Club, Three Kings, Matrix e Armaggedon nota que o cinema está contando estórias rapidamente, numa sucessão veloz de imagens. São tantos cortes e ruídos que nossa mente avançada não aguenta mais assistir a um filme "parado". Ficamos impacientes. Quem hoje consegue assistir 2001, Uma Odisséia No Espaço e não se mexer na poltrona ou dar um fast-forward? Poucos. Hoje compreendemos cedo a velocidade da informação: enquanto eu passava uma tarde inteira fazendo lutas de comandos-em-ação ou corridas de carrinhos matchbox, um moleque hoje não aguenta um jogo no Playstation que dure mais do que 5 minutos por etapa.
É claro que, se há uma imensa velocidade de processamento, é necessário um número muito maior de informações para preencher os buracos. E com isso aceita-se quase tudo, desde que seja rápido e não tome muito do nosso tempo. Eu diria que essa é a maior diferença estética depois de décadas de cinema e técnicas visuais. A Velocidade. Antes, era necessário mostrar tudo num filme: a arma, onde estava escondida, a razão, os envolvidos. Mostrava-se calmamente. Hoje não: um breve gesto de cabeça, um corte rápido e pronto: já entendemos tudo.
E isso não tem volta. Podemos ser nostálgicos e dizer: "Ah, era melhor antes". Mas voltar não é mais possível. Assim como o mundo, a economia e as nações tentando conter a chamada "globalização", o capitalismo moderno e tudo mais. O máximo que podemos fazer é assistir a antigos filmes, ouvir um CD dos Beatles e pensar: "Como era bom."
"Hoje não: um breve gesto de cabeça, um corte rápido e pronto: já entendemos tudo." Pelo contrário - entendemos nada, pois nada é tudo que cabe num gesto ou num corte ou num filme deles composto. Mas nada queremos, nada vemos, nada pretendemos, e eis que descobrimos também rápido que saber nada é extremamente desejável.