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Terça-feira, 11/11/2014
O Trovador, romance de Rodrigo Garcia Lopes
Jardel Dias Cavalcanti
+ de 5700 Acessos

Agraciado pela Bolsa Funarte de Criação Literária, o poeta, tradutor, músico e ensaísta Rodrigo Garcia Lopes acaba de publicar pela Editora Record o seu primeiro romance: O Trovador.

Trata-se de um romance policial, que tem como centro da narrativa o desvendamento de uma série de assassinatos, crimes e trambiques comerciais envolvendo empresas, autoridades públicas e membros da corte inglesa. A partir das pistas contidas em um poema provençal, e da busca, dentro deste poema, pelo significado da palavra Noigandres, Adam Blake (personagem chave do livro, espécie de detetive-tradutor) envolve-se numa trama perigosíssima que tem como objetivo desvendar os crimes a partir do próprio entendimento do poema e das pistas ali escondidas.

Para a criação de O Trovador o autor partiu da ideia da semelhança entre a tarefa do tradutor e a do detetive: "Comecei a enxergar algo de detetive no poeta e no tradutor. Como o tradutor, o detetive tem que reconstruir um texto, decifrar o que o autor quis dizer, discernir pistas verdadeiras das falsas, recuperar o momento da criação do poema", diz Rodrigo Garcia Lopes, em entrevista a Manoela Sawitzki.

Outra ideia que serve como base para a construção da narrativa de O Trovador é a do "assassinato como uma das belas artes" (referência ao escritor inglês Thomas De Quincey). No romance, os crimes e a constituição engenhosa das pistas deixadas pelo assassino se transformam em verdadeira obra a ser decifrada pelo detetive, que assim se faz também intérprete-tradutor.

Mas muito além de sua intrincada trama policial, o romance reconstitui a história da colonização da cidade de Londrina nos anos 1930, momento em que se dava nas terras paranaenses a exploração comercial do café e da madeira pela empresa inglesa Paraná Plantation Limited.

Não querendo destruir o prazer do leitor, deixaremos de comentar detalhes do enredo do livro. Interessa-nos mais aqui falar sobre a estrutura do romance.

Historiadores em geral não sabem narrar. O passado que reconstroem é, além de frio, dominado por uma suposta "verdade objetiva" que os documentos prometem revelar. O caso do escritor é diferente. A história que ele recupera se inscreve numa outra forma de apreensão do tempo, do espaço e da vida. É o que Rodrigo Garcia Lopes faz em seu romance, elaborando através da ficção, que funciona quase como uma cápsula do tempo, o encontro vivo e radiante entre fatos históricos (colonialismo), situação geográfica (Londrina nos anos 1930), tensões existenciais (amor, desejo, poder), natureza e cultura (a busca pelo eldorado).

Para compor as 400 páginas de seu romance, fica evidente a grande pesquisa que o autor fez, selecionando materiais de várias áreas: de documentos empresariais e fotografias de época aos estudos sobre as preocupações e tensões político-econômicas do período. Tudo tão bem amarrado que o leitor, ao mesmo tempo em que sente a presença da história, percebe-se dentro da dinâmica da natureza humana no momento da construção de sua própria existência como agente dos fatos.

A questão lapidar é que o autor consegue dar vida à história, imprimindo-a no próprio corpo dos personagens, nas suas angústias diárias (como, por exemplo, a tensão que os emigrantes judeus sentem com o avanço do Nazismo na Europa). Isso faz de Rodrigo Garcia Lopes um grande escritor, que imprime no cerne da própria narrativa as reflexões que pretende expor. Não teoriza sobre os acontecimentos, mas inscreve-os na dinâmica interna de cada personagem, nas suas ações dentro de cada desdobramento do romance.

Para jogar o leitor dentro da trama, com se ele tivesse voltado no tempo, Rodrigo lança mão de descrições minuciosas do espaço físico e da presença humana em relação com esse espaço, reproduzindo a sensação causada pelo cheiro da terra, pelo calor, pelas chuvas, pelo odor das bebidas, cigarro e perfume das mulheres, pela imagem da rusticidade das matas virgens, pelo vento e pela cor do solo. Mas esses elementos jamais se estruturam apenas como simples pano de fundo para os personagens terem chão ou como material enfadonho e descartável. Ao contrário, interagem com as sensações vividas pelos personagens, seu estado de alma, seu dinamismo na trama.

Rodrigo Garcia Lopes realiza de forma impressionante aquilo que desejou ao buscar as características que P. D. James elenca como essenciais para a criação de um bom romance policial: "Trama bem construída e interessante, cenário original, personagens multidimensionais, pistas inteligentes, detetive cativante e vilões memoráveis".

Mas buscou mais do que isso, como disse na entrevista citada acima: "Com O Trovador eu quis mostrar que o gênero permite levantar reflexões históricas e questões sociais, morais e de identidade, temas como corrupção, relações internacionais, colonialismo, propondo, ao mesmo tempo, uma reescrita da história. O desafio era conseguir fundir a história de mistério com a colonização de Londrina ao mesmo tempo."

Para essa tarefa, conta o autor, "li biografias, livros de história dos anos 30, da região norte do Paraná, teses de doutorado, no Brasil e no exterior. Assisti documentários, entrevistei pilotos, peritos, historiadores, consultei jornais da época como o The Times, de Londres, o Paraná-Norte e O Cometa, de Londrina. Vi muitos filmes e trabalhei com fotografias para a composição de algumas cenas e cenários."

Toda essa pesquisa, evidentemente, nas mãos de um autor fajuto jamais se tornaria o que O Trovador se tornou. Rodrigo tem uma história ligada à produção poética, tradução e crítica que lhe dá ferramentas para amalgamar documentos, imagens, relatos, impressões como só um poeta pode fazer. O resultado do livro, pela impressão que causa nos leitores, fazendo-os voltar no tempo, penetrarem nas entranhas dos personagens e na trama da História, é o exemplo cabal de que uma força poética direciona sua narrativa.

Criando uma espécie de sertão-babel, o romance faz transitar figuras inesquecíveis, de nacionalidades que vão dos europeus aos asiáticos, todos presos a uma rede de intrigas, meias-verdades, onde crimes se sucedem ao sabor de tramas comerciais escusas que partem do império colonial inglês e deságuam na terra vermelha do Paraná.

Chamando atenção para uma parte de nossa história, a colonização do Norte do Paraná, humaniza a prática da história, nos aproximando do cheiro dos aventureiros, seus sonhos do Eldorado, suas angústias na vida no novo mundo, seu trabalho e a existência no contexto da colonização e da história internacional que antecede a segunda grande Guerra e que teve consequências negativas para várias etnias que emigraram para nosso país.

Também nos obriga a reler a História do Brasil, com lentes mais agudas para o Norte do Paraná, naquele momento em que aportaram na região migrantes que formaram uma sociedade composta por militares, médicos, juristas, artistas, cientistas, aventureiros e trabalhadores vindos de várias regiões da Europa e do Brasil.

Mas para além da história, o autor nos devolve o prazer de ler. Como disse Daniel Pennac "um romance deve ser lido como um romance: saciando primeiro nossa ânsia por narrativas". Isso porque, toda grande obra literária nos ensina: "O tempo para ler, como o tempo para amar, dilata o tempo para viver".

O Trovador, no seu primor narrativo, nos devolve a felicidade de sermos leitores, porque ele representa essa qualidade demoníaca da linguagem que consiste em abrir em expansão o mundo para provar que dentro da literatura a história é mais surpreendente do que se pensava.

Nota sobre o autor:

Rodrigo Garcia Lopes é tradutor, poeta, músico e ensaísta. Traduziu Sylvia Plath, Rimbaud e Whitman. É um dos editores da revista literária Coyote. Publicou os seguintes livros de poesia: Solarium, Visibilia, Polivox, Nônada e Estúdio Realidade. Lançou o CD Canções do Estúdio Realidade em 2013.


Jardel Dias Cavalcanti
Londrina, 11/11/2014

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