Na minha coluna de abril, Etapas em Combustão, falei dos artistas que se permitem traçar o rumo das próprias carreiras, sem se importar com uma suposta lista de passos a seguir, ou de etapas que não poderiam ser queimadas. O texto de hoje é sobre um desdobramento específico deste tema: o lançamento de clipes.
Até o advento do YouTube, em 1997, lançar um clipe significava rodar um material, quase sempre em película, e batalhar por um lugar ao sol na programação da TV aberta ou de emissoras específicas de TV a cabo como a MTV; tanto investimento em geral só era justificado quando o artista estivesse com CD novo no mercado. O surgimento do site, aliado a fatores como a expansão da internet banda larga no país e a crescente digitalização de câmeras e ilhas de edição, acabou por virar esse jogo.
Hoje é acessível a bandas de todo o Brasil rodar e editar seus clipes em equipamento digital e divulgarem através da internet, independente de estar ou não lançando CD ou EP simultaneamente. Foi isto que fez a cantora paraense Joelma Klaudia, por exemplo: em abril de 2013, publicou no YouTube seu clipe para “Povo Daqui” (Edir Gaya – Cacá Farias), que não constava de seu CD Dias Assim, de 2009. Outra paraense, Lívia Mendes, divulgou o clipe de “Filme Europeu” em novembro de 2015, seis meses antes do lançamento oficial da canção no EP Lívia Mendes.
O formato não chega a ser tão importante; o clipe pode ter imagens externas, pode ser um trecho de um show ou pode se centrar na banda em estúdio - seja se dublando, seja tocando mesmo ao vivo (como é o caso de “Sem Mentiras”, do EP de mesmo nome que a Veludo Branco gravou no estilo ao-vivo-no-estúdio em abril de 2012; o EP saiu em julho e o clipe foi lançado no mês seguinte). Ou se a opção é criar na prática um curta-metragem que por vezes extrapole a duração da própria música (caso dos clássicos “Thriller”, de Michael Jackson, que inaugurou esta tendência em 1983, ou “Telephone”, que reuniu a incrível dupla Lady Gaga e Beyoncé em 2009, e mereceu um programa inteiro de lançamento, com meia hora de duração, na MTV).
O importante mesmo é perceber que, nesta era cada vez mais visual em que vivemos, um clipe não pode mais ser considerado um luxo, e sim encarado como artigo de primeira necessidade. Um clipe é uma ferramenta poderosa e indispensável para artistas em qualquer etapa da carreira. No caso de bandas independentes, então, que geralmente têm uma dificuldade maior para gravar CDs, ter um clipe bem produzido na rede pode ser o diferencial que irá alavancar uma carreira de sucesso.