Quem Não Lê Não É Humano | Alexandre Soares Silva | Digestivo Cultural

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COLUNAS

Sexta-feira, 3/5/2002
Quem Não Lê Não É Humano
Alexandre Soares Silva
+ de 19100 Acessos
+ 60 Comentário(s)

Alguns anos atrás (calhou de ser alguns anos atrás, mas poderia ter sido ontem, amanhã) vi na esquina da minha casa alguns operários descansando. Eles estavam sentados na grama, sem comer, sem conversar. Como é uma rua quieta, não podiam nem se distrair vendo carros ou pessoas. Olhavam, acho, o muro de tijolos do outro lado da rua, ou talvez alguma rachadura tortuosa na calçada. Estavam assim quando desci a rua no caminho do supermercado, e continuavam assim quando voltei com uma sacolinha na mão. Quando passei andando, olharam fixo pra mim; e eu não os culpo, porque a minha passagem, em contraste com o muro e a rachadura, deve ter tido para eles a importância cerebral que a obra de Aristóteles teve para Santo Tomás. (Um ser humano se mexendo! Óia! O que será que ele tem na sacola, etc.)

Quem não lê está condenado a estar preso num lugar só. Eles não liam, e por isso eram forçados a ficar ali naquela esquina olhando o asfalto. Dez minutos, quinze, meia-hora. Se estivessem lendo, poderiam sair dali, ir para a Samotrácia; mas não liam, e estavam ali, com uma atividade mental provavelmente parecida com a da grama na qual estavam sentados. Quando passei, e o deslocamento do meu corpo criou uma brisa, a atividade mental deles talvez tenha subido drasticamente para o nível de um dente-de-leão sendo despedaçado pelo vento. Mas isso é tudo.

Valei-me! Um livro! "Ah, Alexandre, que feio, fazendo gozação com os menos favorecidos". Bom, estou fazendo gozação agora, e confesso que acho as classes iletradas (às quais pertencem Jeca Tatu, Popó, Gugu Liberato e Moisés Safra) um tanto engraçadas. Mas na hora fiquei horrorizado. Percebi o que é ser iletrado: é ser forçado a estar onde se está e na companhia em que se está. Como um cupim. Como uma drosophyla melanogaster olhando para uma banana. Como um jogador de futebol olhando para a capa de um livro de auto-ajuda, ou um sindicalista tentando ler Karl Marx.

Quem não lê, no entanto, geralmente se sente superior a quem lê. Se sente mais prático, mais direto. "Me formei na escola da vida". "Não tenho tempo para essas coisas. Trabalho muito. Quando pego um livro pra ler, sinto sono". A sensação que tenho, quando vejo alguém que se sente orgulhoso de não ler, é a que eu teria se fosse convidado para jantar na casa de alguém e, de repente, o anfitrião me mostrasse todo orgulhoso o próprio pênis guardado numa caixinha. "Não tenho tempo pra essas coisas, então mandei remover. Quando tentava usar, pegava no sono". Bom, só posso pensar- azar o seu. Grande parte do prazer da sua vida foi embora.

Mas não me basta dizer que quem não lê é uma espécie de castrado; meu ponto é que ele é um boi castrado. Que pertence a outra espécie. Que uma pessoa assim está para Oscar Wilde como um pé de milho está para um macaco.

Está bem, imagine o seguinte: alguém acabou de entrar num clube que existe, digamos, desde a década de cinqüenta. Ele está entrando no salão onde todos os membros estão reunidos. São cerca de cem membros, e estão de pé conversando, em grupos. O novo membro não conhece ninguém; mas digamos que é uma dessas pessoas sociáveis e práticas, e em dez minutos já se apresentou a uns vinte membros, e já guardou o nome de uns dez.

Der Bucherwurm, Carl Spitzweg Meu ponto é este: que ele não sabe nada da história do clube. Não sabe que aquele velhinho ali era amigo do fundador (alguns dizem, até, amante); que aqueles dois homens de costas um para o outro brigaram feio na década de setenta, dividindo o clube em dois grupos, que existem até hoje; que a antiga sede era na casa daquela mulher gorda; que em cima daquela mesa (é o que se diz) foi concebido o membro número 96. Se lesse todas as atas do clube, o novo membro saberia disso. Mas, pelo fato de não ter lido, e de não saber nada sobre a história prévia do clube e as correntes invisíveis de amizades e hostilidades que circulam por ali, o novo membro é necessariamente menos membro do clube do que os outros.

Assim no caso do clube, assim no caso do clube mais vasto chamado humanidade. É um clube antigo- o que é mais um motivo para ler as atas. Quem não leu é menos membro do que quem leu. Talvez nem sequer seja membro. Claro, deve ser bem-tratado; que se sente e converse com todo mundo, e em nenhum momento seja humilhado. Mas não é bem um dos nossos, é? E talvez se sentisse mais à vontade - digamos - no clube do pebolim?

Objeção
Mas, pô, Alexandre, você não vê que isso é o que os totalitarismos sempre fizeram- escolher um grupo qualquer e dizer que eles não são humanos, e que portanto podemos fazer o que quisermos com eles?

Resposta
Bom, mas quem é que disse que humanos podem fazer o que quiserem com não-humanos? Quanto a mim, sou definitivamente a favor do anti-vivisseccionismo - que é a doutrina, um tanto fora de moda, de que aqueles que são mais desenvolvidos intelectualmente têm que defender os menos desenvolvidos, e nunca o contrário. Cabe a um anjo, por exemplo, defender um homem; um homem que quisesse defender um anjo estaria cometendo um tremendo faux pas. Esse é um princípio universal, pura e simplesmente - adultos têm que tomar conta de crianças, e se preciso têm também que se sacrificar por elas- e não o contrário. Estendendo esse princípio aos animais: sou definitivamente contra que se façam experiências médicas no José Luis Datena para o benefício da espécie humana; temos obrigação de usarmos nossa inteligência para cuidar dele, e não para fazê-lo sofrer.

Só mais uma coisa, para que não pensem que estou falando de pobres. Não estou falando de pobres. Estou falando de iletrados. Isso inclui a maioria dos ricos do país. Executivos, de modo geral, são como os operários do início deste texto, mas com a seguinte diferença: a rachadura tortuosa na calçada recebeu o nome de Nasdaq, ou de Projeção de Custos para o Segundo Trimestre. Mas a falta de intelectualidade é a mesma.

Ser humano, ao contrário de ser uma joaninha, é uma aquisição cultural. Para ser uma joaninha, basta nascer no corpo de uma joaninha. Mas para ser humano, não basta nascer num corpo humano - como provam os casos de todos esses exemplares de homo ferus que foram criados por lobos ou jaguatiricas. É preciso ler.

Objeção
Você está querendo dizer que a minha avozinha italiana analfabeta, que veio toda miudinha e cheia de garra ganhar a vida no Brasil, não era humana?

Resposta
É. Exatamente.

Exatamente!



Alexandre Soares Silva
São Paulo, 3/5/2002

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Observações:
COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
2/5/2002
11h29min
Alexandre, essa está demais! Foi como lhe disse, são tantos os brasileiros que usam essas frases para explicar sua falta de interesse pela leitura... é uma pena saber que isso não vai mudar...
[Leia outros Comentários de Juliano Maesano]
3/5/2002
09h11min
Alexandre, Você acertou no alvo. Faltou entanto, uma proposta: O que a pequena parcela dos letrados pode (e deve) fazer para içar da areia movediça da ignorância aqueles, digamos, menos favorecidos? Onde entra a responsabilidade da elite cultural? E do Estado? E dos políticos? Abraços, Bernardo Carvalho Goiânia - GO
[Leia outros Comentários de Bernardo Carvalho]
3/5/2002
09h29min
Alexandre, você se supera a cada semana! Como pode isso!?!?! Não contente em nos levar para a cabana no topo da montanha, ainda nos fornece um telescópio - mais que um binóculo - para que olhemos as pessoas lá em baixo. E consegue nos fazer sentir ternura pelas pessoas que geralmente nos desprezam ('é um sonhador, vive com a cara nos livros...'). Mais que parabéns, obrigada... Bernardo, como se tira da 'areia movediça' alguém que luta contra você a chutes e pontapés para permanecer lá? A busca pelos livros e pela cultura é estritamente pessoal, e como disse o Alexandre, independe totalmente de classe social. Quanto aos políticos, eles geralmente estão no mais fundo da areia movediça, você não percebeu? Beijos da Sue
[Leia outros Comentários de Assunção Medeiros]
3/5/2002
09h55min
Gostei do texto, especialmente pelo tom irônico. Seria legal, no entanto, para adicionar ainda mais ironia, que aqueles operários fossem apenas um grupo de amigos literatos, como Bukowski e pares, num dia de trabalhos nos correios da cidade angelical, ignorados em suas facetas mais verdadeiras pela visão míope do observador, apenas a descansar sobre a relva urbana. Creditar à leitura a qualidade da superação da condição humana, que aqui já se traveste de proto-humana, como bem deve ser ressaltado, é de bom tom acatar. Mesmo porque a crença segue igual sentido. Interessante é que o autor parte do princípio que ser homo literalis já é, para si próprio, uma verdade tão absoluta, que a refutação é digna de considerações obsequiosas. De um cavalo ao chão poderia ter nascido a teoria newtoniana. Foi de uma maçã. Bem, ao menos alguns podem nisso crer: Um charuto também pode ser só um charuto. Menos, Alexandre, menos. Mas ainda assim, meus parabéns.
[Leia outros Comentários de Homer]
3/5/2002
09h56min
Alexandre, obviamente, no clube da humanidade, se um membro não quer saber de ler as atas, sua presença ali será, digamos, pouco significativa, ao menos no hall principal. Mas há gente que quer ficar mesmo na cozinha, na ante-sala, no quintal. Quer estar nesses locais, pois lá é melhor prá fornicar, prá beliscar sorrateiro a broa de milho, prá opinar sem responsabilidade sobre a nova roupa da senhora gorda, sobre o novo automóvel do senhor de casaco preto, sobre o cofiar de bigodes do velho barrigudo, etc. Acho que foi o Victor Hugo que disse "tudo que aumenta a liberdade aumenta a responsabilidade". Há quem abra mão da liberdade que o conhecimento traz para não ter que carregar o fardo da responsabilidade. Há quem prefira deixar nas mãos dos governantes a solução de seus problemas mais comezinhos. É em última instância uma escolha pessoal. Como nos grandes centros urbanos, na cidade do saber há a periferia do conhecimento. Só que nesse caso eu acho que o inchaço populacional da periferia é menos uma questão social do que espiritual. Há, claro, o aspecto social, pois há quem nasça e morra nesse país sem nunca ter passado diante de uma biblioteca pelo fato de não haver bibliotecas nesse país. Mas quem não lê porque "logo me cansa a vista" está mentindo prá si mesmo e nem que morasse dentro duma biblioteca saberia que há mais Capitus nesse universo do que aquela putinha da novela das oito. Pessoas muito ligadas a mim já insinuaram que eu devo ser um idiota, dada a quantidade de tempo que "perco" diante de meros pedaços de papel salpicados de letras. Obviamente não tenho o louvável ânimo de um Alexandre para pegar tal pessoa pelo braço e dizer-lhe que "não é bem assim" ou, se o humor não estiver lá essas coisas, um "você quase nunca sabe do que está falando e eu sei a causa disso". Já tomei minha decisão: danem-se, fiquem na sua areia movediça que eu fico no meu vale das sombras. Mais uma coisinha óbvia, mas que pode explicar alguma outra coisa: as pessoas conseguem emular uma vida feliz longe do conhecimento, longe do desejo de saber algo mais do que aquilo que lhes dê um bom bocado da broa de milho. E essa emulação é um mistério da perfeição que suscita uma pergunta fundamental: as pessoas são realmente mais felizes na ignorância ou pensam que são mais felizes na ignorância? É tentador escolher a segunda opção, mas não dá prá fazer isso, pobres humanos caídos em pecado que somos, sem uma considerável dose de soberba. No entando não é soberba ou extrema vaidade o que me leva a concordar com o Alexandre: há muito de joaninha em quem não lê por não nunca ter sido apresentado aos livros. Mas há seres muito mais primitivos, que vivem em fossas abissais, aqueles que tiveram um pouco da educação formal mas que não lêem porque "não tenho tido tempo e quando tenho logo me dá um sono"... Abraço fraternal no amigo Alexandre Rogério Macedo P.S. Mais das minha abobrinhas em http://pradomacedo.blogspot.com
[Leia outros Comentários de Rogério Macedo]
3/5/2002
10h40min
Alexandre: Está de parabens, pois é exactamente o que acontece com as pessoas que não procuram os livros, são pessoa cegas, que pensam ou imaginam que sabem alguma coisa, mas no fondo ñada sabem, e infelizmente temos tantos especimem de essa natureza e o pior, isto está dideminado en todas partes e em todas as classes sociais.
[Leia outros Comentários de Roberto Mauricio]
3/5/2002
13h56min
Cara, fantástica sua coluna. Uma das suas melhores (como todas as outras, aliás). É um privilégio poder lê-lo e compreendê-lo - azar das joaninhas prados, condenadas ao asfalto e ao silicone. Mas confesso que de vez em quando, de vez em quando, eu gostaria de ser um abacate. Ignorante e burro como um abacate. Sem dúvida sofreria menos - mas também viveria menos. Um grande abraço, Fabio.
[Leia outros Comentários de Fabio]
3/5/2002
15h10min
Foi mal aí, Fábio. Mas o que é uma joaninha prado?
[Leia outros Comentários de Rogério Macedo]
3/5/2002
15h15min
Sinceramente, não entendi. No comentário inicial eu não fiz outra coisa senão concordar com o Alexandre. Aí o Fábio vem, também concorda com o Alexandre, diz que o Alexandre tá certo, que o texto é fantástico e... me trata de forma pejorativa (ao menos foi isso que depreendi do "joaninha prado"). Sinceramente, desculpem-me a extensão da minha burrice, mas não entendi patavuna. Vou considerar que o Fábio, por motivos que desconheço, não compreendeu o que escrevi. E não compreendeu, estou certo, porque eu talvez não saiba escrever algo que o Fábio possa "ler e compreender". Foi mal. Rogério
[Leia outros Comentários de Rogério Macedo]
3/5/2002
15h29min
Rogério, tenho certeza que o Fabio se referiu à Joana Prado, a Mulher que Me Dá Medo. A Feiticeira, cujo apelido já nasce da ignorância (erraram o seriado). Não a você. Há Prados e Prados...Um abraço, Alexandre Soares.
[Leia outros Comentários de Alexandre ]
3/5/2002
15h39min
Juliano, Sue, Homer, Rogério, Roberto, e Fabio- mil obrigados pela visita e pelas palavras. Bernardo, obrigado também. Mas solução não é comigo...Está bem, lá vai uma soluçãozinha: revistas do tipo Playboy, ao invés de fotografarem as mulheres brincando com bolas gigantes de plástico, como se elas tivessem 5 anos, vão fotografá-las lendo, com os óculos na pontinha do nariz. Ler é sexy! Ou essa solução é nerd demais? Não, não acho- gostei. Um abraço, Alexandre.
[Leia outros Comentários de Alexandre ]
3/5/2002
15h53min
Rogério, eu não lembrava que seu sobrenome era Prado e confesso que ainda nem li sua outra mensagem neste forum. Mas já visitei seu blog e tenha certeza de que sou capaz de compreender e gostar do que você escreve. O Alexandre está certo, eu estava me referindo a joaninha Feiticeira. Um abraço, Fabio.
[Leia outros Comentários de Fabio]
3/5/2002
15h54min
De novo: foi mal, Fábio. Como sou burro! E como eu pude depreender que a joaninha prado era alusão ao meu sobrenome se tenho assinado com o sobrenome Macedo? Putz, que melada, hein? Rogério
[Leia outros Comentários de Rogério Macedo]
3/5/2002
15h59min
Fiquei meio atordoado com o negócio ao ponto de cometer o seguinte paradoxo: "... por motivos que desconheço ..." e logo depois digo que conheço o motivo "e não compreedeu porque..."
[Leia outros Comentários de Rogério Macedo]
3/5/2002
16h17min
Acontece, acontece...Isso só prova a minha teoria de que a Internet é um Ambiente Altamente Paranóico...
[Leia outros Comentários de Alexandre ]
3/5/2002
16h30min
Caro Rogério, lendo todos os comentários anteriores, pude perfeitamente entender o motivo de sua confusão. Não se sinta mal... mas nunca pense que o Capitão Fabio seria capaz de uma falta de classe destas! Achei o seu prado em particular bastante verde e convidativo, e vou dar uma olhadinha no seu blog já, já. Beijos da Sue
[Leia outros Comentários de Assunção Medeiros]
3/5/2002
16h51min
E eu que já me considerava portador de uma "paranóia controlável"... Mas tenho melhorado. E obrigado pelo acalanto, Sue. Cê é muito doce (controle o ciúme, hein, Fábio).
[Leia outros Comentários de Rogério Macedo]
3/5/2002
22h39min
Concordo Que Parece Assim... Do que gosto e do que não gosto se é que posso separar. Gosto do estilo, gosto dos bons livros, gosto das joaninhas, gostaria que a vida fosse tão simples, gosto da vida dos que na sua coluna podem ler, tenho simpatia pelos que gostariam de ler mas realmente não podem. Gosto até dos livros que ainda esperamos que sejam escritos. Tirando o que menos gosto, sua coluna parece, tal como a anterior, uma ode aos livros, é praticamente uma poesia. Não gosto da menção negativa e gratuita a pessoas determinadas que estão sendo julgadas sem direito à defesa, e sem que as razões da acusação sejam esmiuçadas. Talvez a acusação em alguns casos seja justa, talvez não. Que culpa têm as joaninhas por não poderem se deleitar com algumas das maravilhas humanas ? Que culpa têm aqueles operários que na hora do almoço, olham imbecilmente, sentados na grama, para o muro ainda não pronto ? Levantaram-se às quatro e meia da madrugada, tomaram três conduções, trabalharam feito uns mouros, pelo menos quatro horas e estão sendo esperados para mais quatro de trabalho pesado. Depois tomarão de novo mais três conduções, chegarão em casa arrebentados, querendo comer e dormir, porque amanhã, de nôvo, às quatro e meia ou cinco horas, estarão novamente começando a viagem para mais um pedaço dum muro, e quando aquele terminar haverá mais infinitos muros esperando por eles. Quando poderão eles ler ? Quando não terão eles sono ? Saberão ler ? Aprenderam eles a saborear a leitura ? Em que familia nasceram ? Em que lugar nasceram ? Em que meio passaram a infancia ? Que cerebro têm ? Que mente e que espírito possuem ? Ouvi hoje notícia de que em determinado lugar seria, entre outras, executada a Sinfonia nº 40 de Mozart, e o locutor teceu os maiores elogios ao autor e à obra. Não pude deixar de associar sua coluna a essa notícia, e fiquei pensando qual a diferença entre esse operário descansando cinco ou dez minutos para voltar aos seus tijolos, e Mozart. Eu sei que isto parece uma tolice do tamanho de mil bondes, mas ainda assim ouso perguntar, que mérito tem uma pessoa que aos seis anos pôde fazer uma obra prima como ele fez ? Com o cerebro dêle, com a mente dêle, com o espírito dêle, seria uma vergonha se não o tivesse feito, e até, talvêz, tenha feito pouco. Por favor não se choque, eu já estou chocado por todos nós. E eu acho que não há mérito em gostar do que é belo, nem demérito em não o apreciar. São tantos os fatores determinantes ! Entretanto e apesar disso tudo, eu ia lamentar as pessoas incapazes de apreciar o belo, em qualquer de suas expressões, mas, por outro lado, quem disse que o homem é mais feliz do que a joaninha ? Ou é ?
[Leia outros Comentários de Valentim Carval]
3/5/2002
23h01min
Caro Valentim, permita que eu discorde de algumas colocações suas. A menção que o Alexandre faz a um determinado TIPO de pessoa, não a uma determinada CLASSE de pessoas, até pode ser considerada negativa, mas não gratuita. Por favor, não estenda a teoria do "bom selvagem" à procura da cultura e dos livros. O amor aos livros é algo que se tem ou não se tem. Tenho dois exemplos muito próximos, de pessoas humildes, dois homens favelados, pessoas que jamais tiveram uma oportunidade de frequentar óperas ou ouvir Mozart. Um deles abandonou o ensino oficial ainda no ginásio (naquela época era ginásio). Amante dos livros, no entanto, está montando lentamente uma biblioteca com livros usados, e hoje, já um senhor, ajuda os filhos de seus vizinhos com as pesquisas escolares. Isso entre os pesados trabalhos de marcenaria que faz. O outro deles, que além de pobre e favelado é negro, decidiu que aprenderia idiomas estrangeiros. Usando bibliotecas públicas, comprando livros como podia, ele hoje é autodidata em inglês e alemão, professor de um famoso curso de idiomas. Ah, e o Alexandre também fala na responsabilidade daqueles que enxergam mais longe com aqueles que não o fazem. Salvemos, portanto, as joaninhas! E eu, da minha parte, adiciono que, mesmo reconhecendo os diferentes "graus de humanidade" de cada pessoa, amemos a todos, já que o maior Ser Humano que já existiu, do alto de um grande sofrimento físico, vilipendiado por todas as joaninhas à sua volta, implorou: Perdoai-os Pai, eles não sabem o que fazem. E cada vez que olho em volta, reconheço: não sabemos mesmo. Mas alguns querem aprender. Beijos da Sue
[Leia outros Comentários de Assunção Medeiros]
3/5/2002
23h19min
Rogerio, meu querido, sempre que você quiser meu "acalanto" (que palavra linda!), ele está à sua disposição. O Fabio não se incomoda não, nem o Alexandre, que são meus oficiais superiores no Exército de Pedro (vide texto anterior de Alexandre). Eles bem sabem qual é a nossa missão aqui... Beijo carinhoso da Sue
[Leia outros Comentários de Assunção Medeiros]
4/5/2002
15h00min
Sou um leitor oblomovista: enfio-me na cama com meus livros e não há o que me tire de lá. E que pereça o mundo! Sei que no Juízo Final, os que puderam ler e não o fizeram (ou dedicaram-se à auto ajuda e esoterismo) serão condenados ao lugar com choro e ranger de dentes, enquanto aqueles que não leram porque não tiveram a oportunidade, talvez sejam merecedores de uma segunda chance. Quanto aos operários o intervalo do trabalho: adiantaria colocar Homero nas mãos deles? Schopenhauer? José de Alencar ou Agata Christie pelo menos? Não adianta ... Agora, os que podem ler e não o fazem, esses são condenados por si mesmos à sofrer as consequências da própria inércia.
[Leia outros Comentários de Ricardo]
6/5/2002
04h38min
Ricardo: mas a punição para quem não lê é não ler- já basta isso, você não acha? Tento imaginar a vida sem ler- me parece horrível. Seria atravessar a existência no nível mental de um Eurico Miranda... Isso já é punição...Eurico Miranda pode nem perceber, mas depois de morto, vai respirar fundo, e cair em si: "Meu Deus, fui Eurico Miranda...". Isso já não é o inferno? Um abraço, Alexandre.
[Leia outros Comentários de Alexandre ]
6/5/2002
04h45min
Não, não, Valentim- você tem que gostar de tudo o que eu escrevo. Se não gostou, sugiro que releia uma, duas, quantas vezes for preciso, até atingir um estado de saturação zen e passar a adorar cada linha que eu escrevo. Vai lá, eu espero. Até lá, um abraço... - Enquanto isso: o que vc disse, sobre eu ter atacado pessoas que não estão aqui para se defenderem, me fez pensar. Será verdade? Será covarde da minha parte? Mas depois reli a minha lista de iletrados. Fora Jeca Tatu, que nem sequer existe, são todos ricos. Juntos, poderiam comprar a Biblioteca do Vaticano. Poderiam contratar Harold Bloom, John Updike e Camille Paglia como "personal teachers". Mas não fazem isso. Ter pena dessa gente? Falar mal deles aqui não é falar pelas costas- é um ato público. Para se defenderem, eles podem: 1) Me processar; 2) Usar o espaço aí embaixo, se defendendo com palavras- mas para isso eles teriam que ler o meu texto, ou mandar que alguém leia por eles; e 3) se eles quisessem mesmo se defender da acusação de que são iletrados, eles bem que poderiam (oh, hipótese radical!) abrir um livro de vez em quando, não é? O que acha, Valentim? Um abraço- Alexandre.
[Leia outros Comentários de Alexandre Soares]
6/5/2002
09h57min
De onde foi que tirei mesmo "acalanto"? Demodé, não?
[Leia outros Comentários de Rogério Macedo]
6/5/2002
11h43min
Querido Rogério, certas coisas, coma a Catherine Deneuve, receber flores e homens de bengala nunca perdem sua validade e beleza. Nem palavras como acalanto. Beijo da Sue
[Leia outros Comentários de Assunção Medeiros]
6/5/2002
21h39min
Meu Caro e Entusiasmado Alexandre E quem é que disse que eu não gosto de tudo que você escreve ? E quem é que disse que eu só li uma vez a sua cacetada nos "iletrados" ? Quanto aos ataques a determinadas e nominadas pessoas que se supõe e se depreende que não lêem é que eu efetivamente não aprecio. Contraria a elegância de quem gostaria de usar bengala. Por outro lado, como atacar os que, podendo ler, não o fazem, se, ao não ler, eles já estão se autoflagelando, ainda que inconscientes do fato ? Não seria para lamentá-los ? Talvez até mais dos que não lêem porque não podem - apesar da Sue não concordar muito com a existencia deles. Por falar nela, eu penso que talvez ela até concorde, mas como sua fiel escudeira, ela não admite que alguém possa ousar pretender - realmente é pretensão - retocar algum pensamento de seu General. Se isso não fosse suficiente, e é, ainda tem você o Fabio a defender você pelo outro flanco. Então, com esse escudo impenetrável e atento, você nem precisa rebater minhas observações -não críticas, que eu a tanto não ousaria - pelo que me sinto muito honrado, por ser rebatido pelo próprio General em pessoa, como se não fosse mais que suficiente, alguém ter que enfrentar tão decididos e magníficos escudeiros. Entretanto, continuo achando que houve uma injustiça com as simpáticas joaninhas. Meus parabéns a você. Peço que os divida com seus amigos guardiães Sue e Fábio. Pena que a Sue não tenha (ainda) uma coluna própria no Digestivo. Seu apreciador, ocasionalmente discordante. VC
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7/5/2002
02h17min
Caríssimo Valentim, é claro que eu concordo que existem pessoas que não lêem porque não podem, só não concordo com você quando implica que estas pessoas tenham sido criticadas pelo meu General. Ele tão fala delas. Os pedreiros, ele menciona como exemplo trágico da escravidão a que são submetidos aqueles que não lêem. Eu concordo plenamente. Afinal, só posso de bater verbalmente com 'adversário' de tal gabarito e galhardia porque você leu meu comentário, não é? Você não é pretensioso, é valente! Eu e Fabio somos realmente assustadores quando unimos nossas forças - o que nem sempre acontece - e ainda por cima o General mesmo respondeu seu comentário! Quanto à história do crime já ser castigo suficiente, eu até concordo, mas é obrigação de quem vê mais longe ao menos tentar iluminar os que insistem em caminhar olhando para o chão. O mundo é tão belo! Sei que joaninhas são simpáticas, mas experimente deixar algumas em seu jardim e veja o que acontece com as flores! Beijão da Sue! P.S.: Quer uma coluna minha no DC? Que maravilha! Estou totalmente tonta com o elogio... (escreve para o Júlio!!!hehehehehe)Beijos...
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8/5/2002
03h08min
Ah, Valentim- não poderia concordar mais. Uma coluna para a Sue! Ela vai ser um dos poucos casos de escritora que se tornou escritora porque pediram pra ela...Mas me deixe discordar só dum ponto- a sua afirmação de que atacar alguém verbalmente "contraria a elegância de quem gostaria de usar bengala" (mensagem 26). Ser elegante não é, necessariamente, ser banguela - ser alguém incapaz de mostrar os dentes de vez em quando, just for the hell of it. Mas se for, prefiro ser deselegante de vez em quando, e conservar os caninos...Ah, a melhor literatura do mundo foi escrita na pele de umas poucas vítimas com os caninos de uns escritores malvados...Um abraço- Alexandre. E volte sempre!
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9/5/2002
09h11min
Ah, Valentim, ah, Alexandre... assim vocês vão me estragar completamente! Não poderia ficar mais feliz do que fiquei com o comentário dos dois. Vou escrevendo meus comentários, nos fóruns de gente que move meu coração como o general aqui, e quem sabe um dia eu tenha gabarito para ser uma colunista de uma organização com o o DC. Enquanto isso, um beijo na bochecha dos dois. Sue
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9/5/2002
18h07min
Uma das miopias contemporãneas mais atrozes é a de decretar que todas as pessoas são rigorosamente iguais; qualquer desvio desta norma advém (segundo a tese humanista) da exclusão social, da injustiça social, dos designios dos privilegiados, do egoismo das elites. Em sua vertente mais radical os advogados dessa idéia chegariam ao extremo de proibir que uma pessoa pudesse optar, ela própria, por viver em pobreza. Na verdade essa forma de ver a humanidade não é apenas babaca mas também perigosa pelas consequencias nefastas que provoca (basta observar os efeitos deleterios na sociedade americana advindos da assim chamada affirmative action). Já a coluna do Alexandre, condimentada com fina, elegante e, por que não, mordaz ironia, mostra em boa hora que as pessoas são sim diferentes umas das outras. Enquanto isso, o leitor Ricardo (comentário 21) vai um passo além e assinala que as pessoas não apenas são diferentes mas também têm vocações diferentes; nem todos, por exemplo, se destinam a apreciar a leitura de um Schopenhauer, A. Christie, J. de Alencar, etc. De minha parte gostaria de acrescentar (admito a influência algo religiosa/budista) que o bacana na vida é as pessoas virem a realizar suas potencialidades, seja lendo Schopenhauer, seja construindo um belo muro de alvenaria, seja escrevendo uma inspirada coluna para o DC. Um abraço.
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12/5/2002
19h33min
Tenho-me sentido extremamente inclinado a concordar com o fato de que quem lê é mais humano que quem não lê. Ou que quem busca o conhecimento é mais humano que quem não busca. Mas vou contar uma coisa, só para complicar. Você conhece uma pessoa e passa a viver com ela. Ela é, digamos sua namorada. Depois de uns seis anos juntos, você se adoram, se amam mesmo. Moram juntos e até pensam em casar. Só tem um problema: ela só lê uns dois livros por ano, ou nem isso. De repente você descobre que ela é menos humana do que você, que lê, digamos, uns 40 livros por ano. Como contar isso a ela? Será que, se isso acontecesse com vocês, vocês teriam tanta certeza sobre essa teoria? Será que não existem outras qualidades que pesam para a "humanidade" de uma pessoa, além da leitura e do conhecimento? Essas são perguntas para as quais não tenho resposta. Mas são muito sérias.
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12/5/2002
21h06min
Amigo Evandro: ao procurarmos uma companheira, queremos uma com afinidades de gostos. Eu não esperaria seis anos para saber se minha namorada é uma leitora substancial ou não ... Não só verifico a quantidade, mas o conteúdo da leitura das mulheres pelas quais me interesso (sou chato, sei disso). Num momento de questionamento, como tantos em minha vida, se uma mulher aconselha-me a leitura de Paulo Coelho para clarear-meas idéias, qualquer relacionamento futuro está automaticamente abortado.
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12/5/2002
21h56min
Caro Ricardo, essa é uma situação-limite. Se a pessoa te indica Paulo Coelho, fica fácil dar o pé nela. Estou falando de alguém de quem você realmente gosta e que não é nenhum ignorante, mas que tem um nível intelectual razoável. O que quero dizer é o seguinte: é possível amar uma pessoa que não faz as mesmas coisas que você. O mundo dá muitas voltas e pode ser que duas pessoas se conheçam e se amem e depois comecem a seguir caminhos diferentes e continuem se amando mesmo assim. Mas mesmo sem levar em conta nada disso, já há um problema aqui, e é esse problema que eu quero ressaltar: é fácil afirmar, por exemplo, que um professor de filosofia é mais humano que uma ginasta. Mas imagine-se no lugar da ginasta ouvindo isso... Esta é uma questão prática e séria que não tem solução dentro de um âmbito de discussão puramente teórico. Quero dizer, se uma pessoa tem uma vida que para ela faz sentido, se ela tem amigos, se ela é feliz, que sentido há em falar que ela é menos humana que outra? Que direito nós temos de julgar quem é mais humano? Você acha que Aristóteles foi mais humano que você? Ou ainda: você acha que, caso Aristóteles tenha sido mais humano que você, isso vai fazer alguma diferença na sua vida? Isso aqui está mais parecendo uma terapia, né?! Aliás, se tivesse algum psicólogo aqui, poderia me ajudar em meus argumentos, pois os terapeutas têm muita experiência prática com clientes e sabem que as coisas não são tão simples assim. Estou dando uma de Sócrates de propósito. Não deixo de reconhecer os méritos de quem busca o conhecimento. Acho isso uma das coisas mais bonitas do ser humano, talvez a mais bonita. Mas ao mesmo tempo me recuso a adotar a postura fácil de dizer que todo mundo deveria ser filósofo. Ou que, como dizia Platão, o verdadeiro filósofo é o ser mais perfeito que existe. Quanto mais eu estudo, mais vejo erros nas opiniões das pessoas "comuns". Mas vejo que algumas pessoas são abertas ao que eu digo e outras não. E tenho a impressão de que talvez seja isso que torne as pessoas mais humanas. Muitas vezes vejo mais humanidade em um motorista de taxi do que em um doutor em filosofia, que já leu centenas de livros.
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13/5/2002
34. Tati
06h03min
Mas Evandro, o melhor argumento contra o que eu disse é, acho, Jacques Tati, o diretor de cinema francês. Ele não gostava de ler. Mas se Jacques Tati não era humano, quem é humano? É claro que algumas pessoas que não lêem são melhores que algumas pessoas que lêem. Mas mesmo assim acho que bem que elas podiam ler as atas do clube de vez em quando- para entrar mais "no espírito da coisa", como se diz. Se são tão humanas assim sem ler (e algumas são, reconheço), imagine como ficariam depois de ler Walt Whitman. Não é? -Toni, obrigado pelo "inspirada" antes de "coluna no DC". Obrigado ao Ricardo, que é um leitor oblomovista, por ler um leitor peripatético (duas tribos diferentes, mas amigáveis). Um abraço a todos, Alexandre.
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13/5/2002
10h30min
Nem tanto ao mar, nem tanto à terra ... Um "professor de filosofia" que leia de um livro apenas a página da qual necessita para fundamentar uma tese inútil, é tão "não-humano" como o ginasta que não lê. Aliás, ninguém mandou seu ginasta manter o corpo e esquecer o espírito. Se ouvir de alguém que ele não é humano, a culpa é dele mesmo. Cito uma máxima bem batida do próprio Aristóteles ao qual você recorreu: "A virtude está no meio". Cultive o corpo, mas não esqueça do espírito! A pressa com que escrevo só permite-me lembrar de máximas conhecidas de todos, mas mantendo-me na Antiguidade, lembro os romanos: "mens sana in corporem sanum". Se eu acho que Aristóteles foi mais humano que eu? Acho que nem somos pessoas que possam ser comparadas, pobre de mim ... (rs). Esses problemas que você aponta, pelo menos por mim têm sido evitados, pois aproximo-me de uma pessoa por afinidade, não aleatoriamente. Mesmo assim, a decepção não é algo raro. Acho que você está misturando duas coisas: 1ª relações travadas com uma pessoa que não faz as mesmas coisas que nós. Nisso eu não vejo problema algum. Um advogado e uma bióloga podem relacionar-se perfeitamente. 2ª, que é o problema que acho ter sido apontado inicialmente, relacionarmo-nos com uma pessoa de nível intelectual inferior àquele em que nossa presunção nos coloca. Aí e outra coisa. Um leitor de Proust não se relacionará plenamente com uma leitora de Depark Chopra, e se insistirem, sofrerão inafastavelmente as penas da imprudência. Será apenas uma questão de tempo.
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13/5/2002
17h15min
Alexandre e Ricardo, Particularmente, acho descabida uma discussão onde se vincule questões qualitativas do ser humano à prática de leitura - ou o tipo de leitura. A qualidade das pessoas se mede, em primeiro lugar, à luz da moral e da ética, que é o que norteia as suas ações. Se a pessoa lê pouco ou muito, e que tipo de leitura é essa, isso tem mais influência no aspecto meramente quantitativo, ou seja, a pessoa tem MAIS ou MENOS conhecimento. Então, são múltiplas as combinações entre "quantidade de conhecimento" e "ética e moral", o que, além das questões físicas, é o que gera a multiplicidade de pessoas que há no mundo: há modelos lindas, burras, mas sérias; há modelos lindas, inteligentes mas prostitutas; há médicos cultos pedófilos; há psiquiatras cultos assassinos (jornalistas também); conheço um açogueiro filósofo e sério. Enfim, há de tudo e cada um escolhe com que se relacionar. Já acabei um relacionamento onde eu achava que era por questão cultural, mas hoje sei que faltou foi amor. Antes, pus a culpa na minha ex-parceira. Hoje penso que ser iletrado não é necessariamente um ERRO. Pode ser falta de sorte, destino, sei lá, mas erro não, pois só erramos quando temos amplo conhecimento das coisas e mesmo assim tomamos algumas atitudes erradas, como por exemplo, o advogado ladrão, o padre que mantém uma amante, etc. Mas se desconhecemos a origem e a razão das coisas, onde há o erro? Tive um professor que dizia o seguinte: "a felicidade pressupõe uma boa dose de ignorância...). Abraços, Bernardo
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15/5/2002
09h42min
... realmente a leitura é que faz a diferença, amigo Bernardo. Pena que não andamos 24 horas por dia com uma câmera ou gravador. Se ontem eu tivesse uma em mãos, enviaria o que ouvi, da forma como foi ouvido, e seria difícil não dar razão ao Alexandre. Aliás, a coluna dele está ficando científica, pois até uma amostra eu já consegui. Dá vontade de espetar com uma agulha e guardar num mostruário. Caso isolado? De forma alguma, é o que vejo diariamente, mas ontem com maior destaque. Você colocou a questão ética e de ação. OU a pessoa nasce ética, OU não nasce (nada de "sementinha" ética a ser desenvolvida, por favor). Se nasceu ético, a leitura que a fará desenvolver-se, atuar ainda melhor dentro de seus parâmetros éticos inatos. Se não nasceu, a leitura é a última chance de ser ético ao menos por osmose. O papel da leitura é de real destaque, porque infelizmente não temos mais abundância de pessoas pelas quais posamos pautar nossa conduta, até pisarmos firmes com nossos pés. São poucos, pouquíssimos os modelos vivos que temos "a disposição". A pessoa de ética inata procura seus pares, não encontra, e tendo oportunidade, refugia-se nos livros. Já a questão da oportunidade é relativa. "Ah, não posso comprar livros" ... Para que servem as bibliotecas públicas? "É longe de casa" ...Mas não inacessível ... "É difícil para mim ler" ... Sabe ler? Adquira então o hábito que fica mais fácil. Por fim, a quantidade do conhecimento é uma decorrência natural do envolvimeto. Um só livro pouco explica, daí a necessidade de recorrer-se a outros e outros, inclusive para tornar o lido eficaz.
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15/5/2002
12h54min
Ricardo, quisera eu que mais homens cobrassem de suas mulheres seu grau de leitura e humanidade. Assim teria mais amigas! :o) Eu já disse tempos atrás que amor aos livros é inato, porque a busca do conhecimento como um todo pressupõe a busca pelo auto-conhecimento e melhoria do mundo que nos cerca. Ética é tão parte disso quanto a alfabetização. E Evandro, meu querido, se já existe um relacionamento de tanto tempo, que tal tentar mostrar que você ficaria feliz em compartilhar algumas de suas leituras com ela? Escolha uns poemas bem bonitos, leia para a moça em voz alta... depois faça muito carinho e diga que ela o inspira da mesma forma. DUVIDO que depois disto ela não fique sentadinha do seu lado enquanto você lê... Dê a ela livros - pequeninos, no início - de presente, e diga que é "a cara dela". Logo logo, vocês vão ter de comprar um sofá novo para a sala de leitura dos dois! Os conselhos são de coração. Beijos a todos, da Sue
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15/5/2002
14h28min
Cara amiga Sue. Aprecio muito sua sugestão, mas acho que seria muita ingenuidade a minha se eu já não fizesse isso desde o início da realação, não é? Na verdade a situação que descrevi não é exatamente a minha, como pode ter ficado implícito. Sempre escrevi poemas para minha namorada e até textos e artigos e ela adora todos eles. Entretanto, eu quis apresentar a situacão hipotética pelo fato de que muitas pessoas simplesmente não desenvolvem o gosto pela leitura, ou até gostam de ler, mas têm sono ou preguiça. Eu mesmo já trabalhei por um tempo - hoje só estudo - e chegava em casa às 9 da noite, morto de cansaço e não conseguia ler nada, embora morresse de vontade. Em algum lugar de seus escritos, Olavo de Carvalho afirmou uma coisa com a qual eu concordo em gênero, número e grau. Era algo como: "um sujeito que trabalha até as 8 da noite não vai chegar em casa e ler a Metafísica de Aristóteles". Então penso que essa coisa de achar que alguém vai buscar o conhecimento independentemente de qualquer coisa é bobagem. Ou a pessoa se dedica inteiramente a estudar, gastando não mais do que umas 5 horas por dia com trabalho (trabalho esse que não pode ser manual, pois dessa forma se cansaria muito), ou então ela pode até ler um pouco, mas suas leituras nunca vão passar de um certo grau de profundidade. E essa pessoa, por mais que pense que se livrou do senso-comum, será sempre mais uma figura de um nível intermediário entre a ignorância e a sabedoria, apenas portadora de uma "opinião" mais sofisticada que a dos outros. Mas, por mais estranho que possa parecer, não vejo nada de errado nisso. Esperar que todos virem filósofos só não é mais ingenuidade que achar que o indivíduo "antenado" e semi-culto é mais humano que um peão de obra, por exemplo. Portanto, acho que é preciso buscar outros parâmetros que auxiliem nessa análise do Alexandre (e sei que ele tem consciência disso, pois seu artigo não pretende esgotar o assunto). O problema é que, trabalhando apenas com situações-limite não se chega a lugar algum. É lógico que o relacionamento entre uma patricinha e um filósofo é inviável. Mas, segundo a perspectiva do Ricardo, qualquer relacionamento é inviável, a menos que os dois leiam quase que igual quantidade de livros. Com isso não concordo de modo algum.
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15/5/2002
15h29min
Querido Evandro, que bom então que não é você que está enfrentando a situação hipotética que você descreveu. Agora eu entendi como duas pessoas tão diferentes quanto as que você descreveu podem se relacionar tão bem... no reino das conjecturas, é claro! Bom, eu não sou muito boa de lidar com conjecturas, talvez por possuir imaginação excessivamente fértil e me perder entre elas... Prefiro lidar com fatos, que são mais irredutíveis e não cedem diante de minhas fantasias. Bom, quanto às minhas dicas parecerem ingênuas, não sei não... só conheço um casal onde exista tamanho disparate intelectual quanto você descreveu. Um amigo meu, intelectual bastante produtivo, com alguns livros publicados, doutorado, um membro clássico da classe pensante, é casado com uma dona de casa militante, que acha que livros são aquelas coisinhas irritantes que juntam poeira e atrapalham a faxineira na hora da limpeza. Duas situações na vida deste casal -- que parece bem equilibrado em outros aspectos, e que não parece ser infeliz -- me impressionaram bastante. Primeiro, quando meu amigo fazia mestrado, tinha de comprar muitos livros, e isto era sempre motivo de briga entre os dois, porque ela achava tal coisa "jogar dinheiro fora" (!!). A solução encontrada por ele foi contrabandear os livros para dentro de casa e escondê-los, assim ela, que sequer percebia títulos e capas, pensaria que já estavam ali há tempos. A segunda situação foi, e é, ainda mais triste do MEU ponto de vista. Veja bem, digo meu, porque repito que o casal PARECE bastate satisfeito com a situação. Na hora da defesa de sua tese de mestrado, este meu amigo me ligou e disse que fazia questão da MINHA presença, pois era um momento importante de sua vida. Ele sempre divide comigo estas suas atividades. Toda a sua família estava lá comigo, exceto... a dita esposa, que não achou o momento importante o suficiente para faltar ao trabalho. Portanto, na minha humilde e algo ingênua opinião, o relacionamento deles só funciona porque meu amigo busca FORA DELE, em mim e talvez em outras amigas, o que precisa intelectualmente, e tem com a mulher um contrato social para a manutenção da casa e criação dos filhos. Eu não sei você, mas isso para mim seria a morte em vida. Sou incuravelmente romântica e busco sempre o contato entre as almas. Quanto ao cansaço, bom, eu dou aula em duas universidades, faço trabalhos imensos de tradução, faço parte de um grupo de estudos de cultura celta e germânica, estou preparando um livro, sou dona de casa, com tudo o que isto acarreta, e ainda sou aluna do Seminário de Filosofia do próprio Olavo de Carvalho. Sabe o que faço para relaxar, nos poucos intervalos que tenho? Leio. Ler me dá um prazer incrível, e nem tudo o que se lê é a Metafísica ou a Suma Teológica. Concordo que estudos profundos e trabalho mecânico não combinam quando há excesso, mas nada num profissional atarefado impede a leitura prazerosa de bons textos. Um beijo da ingênua Sue. :o)
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15/5/2002
16h59min
Cara Sue. Concordo plenamente com você. Acho absurdo não compartilhar as maiores realizações com o cônjuge. É realmente triste uma relação como a desse amigo seu. Mas, como eu estava a dizer, é uma situação-limite, entende? Há relações em que os dois parceiros se respeitam e se admiram, e nas quais há uma substancial diferença no número de livros que um e o outro lêem. Esse é o meu caso. E posso dizer que minha namorada jamais faltaria à minha defesa de tese. Mesmo porque ela sempre me acompanhou nessas apresentacões acadêmicas. E o que quis dizer é que o texto - que ficou até distante depois de tantos comentários :) - não ajuda muito a percebermos que esse tipo de relação é possível, muito menos os comentários do Ricardo. Mudando de assunto, podemos nos encontrar então no dito seminário, pois eu também sou aluno! Gostei do "ingênua Sue". Muito espirituoso. Um abraço do hipotético Evandro.
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15/5/2002
17h23min
Não falei que era para o casal transformar o relacionamento em um seminário literário. Apenas aponto como ideal que cada um leia o que puder, o quanto puder. O desnível intelectual causa transtorno e até constrangimento (contrabando de livros) conforme a Sue demonstrou com um exemplo. Aproveito para cobrir uma lacuna que deixei. É em relação ao comentário 30, do Toni. Ele entendeu ter eu dito que há diferentes vocações, devido à variedade de autores que citei. Nada disso, apenas falei que se não adianta colocar nas mãos dos operários citados leituras mais leves como A. Christie ou José de Alencar, QUANTO MAIS Homero, Descartes, etc ... Infelizmente, eles não têm base para ler nem os mais leves, nem os mais pesados. Talvez sejam merecedores de uma segunda chance, conforme falei simbolicamente no meu primeiro comentário. O porteiro do meu prédio, por exempo, teve depois de maduro a segunda chance de alfabetizar-se, e aproveitou. Escapou à geena. Já uma colega de profissão, toda pose, indignou-se porque comentei do lançamento de mais um livro do L. F. Veríssimo, o "Sexo na Cabeça". "Mas como! Você tem que se manter dentro da sua área! Não tem que ficar lendo essas coisas!" ... "Coisa" é ela ...
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15/5/2002
17h38min
Escrevi um pedaço do comentário no espaço reservado ao título e esqueci de consertar. Sem contar os erros decorrentes da pressa.
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16/5/2002
02h28min
Evandro, só nos encontraremos se você frequentar o Seminário no Rio... mas se o fizer, já deve ter-me visto! Não costumo ficar apagada num canto! :o)Bom, eu continuo achando que ler é algo de EXTREMA importância na vida de qualquer um, mesmo que sejam livros de mistério bem chinfrins, para aqueles que ainda não têm o prazer de ler. Depois, aos poucos, descobrir que alguém que viveu centenas ou até milhares de anos antes de você sentia igual, amava igual, sofria igual, tinha o mesmo deslumbramento com o mundo,isso dá um brilho no olhar e uma força no sorriso que faz com que os seus iguais reconheçam você como um deles... E o mais importante, remetendo ao texto do meu General, liberta você do aqui-agora como nada mais consegue. Você está um instante na Grécia antiga com Ulisses, então voa correndo para a Idade Média e conversa com o monge Beda, o Venerável, e logo está sentado no colo do velhinho safado, Walt Whitman, usufruindo do prazer da companhia do OUTRO. Todo este mundo mágico só está à disposição de quem lê. Não é uma tragédia para aqueles que ficam restritos ao bom dia do porteiro e às manchetes de jornal? Também acho Ricardo, que os relacionamentos não são o lugar de fazer serões literários, mas não é para o outro que se lê, é para si. Evandro, nada contra sua menina, tenho certeza que ela é uma pessoa fantástica, mas eu sempre teria a incômoda sensação de que grande parte de mim se tornaria initeligível para o outro que não lê. Beijos da Sue
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16/5/2002
09h43min
Que se leia! Independentemente da quantidade, mas com plena atenção à qualidade! Insisto que o desnível intelectual estraga qualquer relacionamento, mas não falei que a QUANTIDADE é fundamental. Eu mesmo, em algum ano, devo ter lido pouco, mas devido a minha mania de ler devagar, digerindo ... Leio hoje, e amanhã paro para observar algum fato real análogo ao lido. Livros não são as únicas fontes de cultura, mas são os que melhor nos preparam para apreciar as outras. Quem entenderia "A Última Noite de Boris Grushenko", de Woody Allen, sem ter lido antes meia dúzia de romances russos de época? O quanto não seria perdido do filme? Ainda, livros não são a única leitura, pois temos jornais, revistas, tanto as de público geral, como as especializadas (quando legíveis). Em suma: leia-se! Ouça-se boa música! Assista-se bons filmes! Ao teatro! Mas sempre movimentando o espirito, escapando à inércia intelectual! Tudo começa com a leitura, mas não se esgota nela.
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17/5/2002
13h25min
Não podemos tirar os méritos de imigrantes que vieram aqui sem lenço e documento e conseguiram o que muita gente boa não conseguiu ainda, manterem seu sustento e da família, criando empregos com empresas que fundaram e que levantaram sózinhos sem ajuda de nenhuma entidade, claro que os tempos eram outros mas mesmo assim vieram de fora e construíram suas vidas. A leitura serve para ampliar os horizontes e não como fonte de inteligência, que muitas vezes já é nata, sei de casos de crianças que gostam de ler antes dos três anos e aprendem sózinhas sem interferência de adultos, eu conheço pelo menos um caso real. A leitura é fundamental para aprimorar a inteligência, ampliar horizontes de informações. Ouvi casos de gente do morro, humilde e que sem acesso a leitura tinha grau elevado do seu Q.I. Quero deixar claro a importância da leitura, com certeza é fundamental, mas nada adianta cultura sem força de vontade de vencer, de criar, arriscar e inovar. A tal falada inteligência emocional. Falando nisso, vocês acham o Jô Soares inteligente? foi questionamento de um fórum que participei.
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17/5/2002
15h51min
De tudo que eu li nessas 46 mensagens mais o texto, conclui que cada um deve seguir seu caminho e quem tem a capacidade de ver mais longe, poderia dar um pezinho para os menos intelectualizados.
[Leia outros Comentários de Vinicius Brown]
21/5/2002
15h36min
Suely, desculpe a demora, mas quis pensar bem no que ia dizer. Minha opinião é que sim, Jô Soares é inteligente- que tem muitos defeitos, que são bem visíveis, mas que burrice não é um deles. Ele é repetitivo, satisfeito consigo mesmo, frequentemente sem graça, e um tantinho filisteu- mas burro não. Ele lê, me parece- mas eu não leria os livros que ele lê (política, memórias de músicos de jazz, memórias de "artistas" da década de 20...- e nada, nunca, que tenha o menor valor literário). Um abraço, Alexandre.
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23/5/2002
03h01min
Não podemos nos esquecer daqueles que lêem três livros por dia e continuam não sendo humanos.
[Leia outros Comentários de Eduardo]
25/5/2002
22h29min
Só tenho que concordar com o Eduardo. Ler nunca foi sinônimo de humanidade. Hitler e cia limitada que o digam...
[Leia outros Comentários de Rodrigo]
25/5/2002
23h13min
Ah, mas Rodrigo, Hitler não é exemplo: era um ignorante e um filisteu. Seu autor favorito era Karl May (que é divertidinho, mas convenhamos). Sua música favorita era "A Viúva Alegre". Se fosse hoje, diria, em resposta à primeira pergunta, e com sotaque atroz: "Paulo Coelho", e, com relação à segunda: "Macarena...". Se lesse um pouquinho mais, e um bocado melhor, não seria Hitler, nem seria tão tolo a ponto de ignorar o que quer dizer ariano, nem adoraria aqueles quadros de segunda de homens loiros se banhando em cachoeiras...Um abraço- Alexandre.
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29/5/2002
20h08min
Concordo quanto ao Hitler, Alexandre. Mas e os cultíssimos nazistas/fascistas Martin Heidegger, Ezra Pound, Louis-Ferdinand Céline? Não me parece que, nesses casos, "mais e melhores leituras" tenham adiantado muito. Um abraço.
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29/5/2002
21h26min
Você tem razão. Martin Heidegger é a vergonha de todos os letrados. Mas ainda acho que ele não é representativo dos nazistas; quantos Heideggers havia entre os nazistas? Um só, é claro- a grande maioria seguindo mais ou menos o perfil de Hitler, que era só um pintor semi-analfabeto e filisteu. Digo isso porque não consigo deixar de ser otimista- ainda acredito que os relatos de nazistas cultos tocando Bach enquanto matam judeus foram um pouco exagerados em número, mesmo que tenham acontecido uma vez ou outra (e, mesmo assim, acho que deviam ser pianistas de segunda- se fossem realmente grandes pianistas, teriam mais o que fazer); e que, depois de ler Laforgue, por exemplo ("Lune, ô dilettante lune..."), se torna um pouquinho mais difícil para um ser humano metralhar outro ser humano. Quanto a Céline, só lia jornais, e era um idiota. Resumindo, só digo isso- se , num passe de mágica, todos os que apoiaram o nazismo recebessem a cultura de Heidegger, quantos seriam tão estúpidos quanto Heidegger? É mais fácil acreditar que o exército nazista diminuiria um bocado - e que na verdade Hitler nunca chegaria ao poder. Um abraço- Alexandre.
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30/5/2002
08h07min
Educação: Educação no Brasil, uma triste História No final do ano passado, o PISA - Programa Internacional de Avaliação de Alunos, mantido pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), com a finalidade de analisar o contexto educacional em países ricos e em desenvolvimento, divulgou o desempenho de seus testes realizados no segundo semestre de 2001. O Brasil, com cerca de 5 mil alunos avaliados, considerando apenas respostas de textos lidos, da rede pública e particular, ocupou a última posição entre 32 países participantes. Os estudantes da Finlândia atingiram o primeiro lugar, nível 4; os do México, Rússia e Polônia, nível 2, penúltima posição. Triste resultado. Estudantes brasileiros tiveram a pior avaliação, não entendem bem o que lêem, ou melhor, não conseguem decifrar a linguagem de um texto com precisão. Isso é mal. Influencia negativamente na compreensão de matérias como física, química, filosofia e outras ciências do currículo escolar. Como também prejudica o entendimento de contratos, normas e até bulas de remédio, interesses que qualquer cidadão é obrigado a decifrar no seu dia-a-dia. Para o Professor Marcos Bagno, doutor em Lingüística pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP ... o problema tem origem no tratamento dado à língua no Brasil, onde o foco do ensino está na gramática, quando deveria ser na leitura e na escrita. Na Inglaterra há muito sugere à comunidade escolar, dos alunos à diretoria, interromper o que está fazendo em cada turno e, por um tempo determinado, se dedicar à leitura; cada um lê o que achar melhor. Depois, tudo volta ao normal. O interessante é que ninguém lê para fazer exames, mas é surpreendente o resultado: espontaneamente surgem comentários, análises e discussões sobre as histórias. Com a iniciativa, cresce o nível de leitura e as pessoas passam a se expressar melhor. Ler é muito bom. Criança ou adulto que tem costume de ler aprende muito mais, é claro. A literatura, além de mostrar a beleza da língua, produz conhecimento, desenvolve imaginação e permite sonhar. As escolas não podem manter a política de retirar da Sala de Aula a Literatura, como está acontecendo pelo país. Mais do que nunca, precisamos fazer do Brasil um país de Leitores. IBOPE Para confirmar o desastroso resultado do Programa Internacional de Avaliação de Alunos, o IBOPE, em 11 de dezembro do ano passado, divulgou outra pesquisa no mesmo sentido, entre dois mil brasileiros de 15 a 64 anos. Os números: 09% dos entrevistados são completamente analfabetos 31% leram um texto e não entenderam a mensagem 34% somente foram capazes de entender textos curtos 26% apenas leram um texto e entenderam a mensagem O Ministro da Educação, ex-Professor Paulo Renato, ao comentar a participação dos brasileiros na avaliação internacional, declarou que ficou satisfeito com o resultado. Foi mal. Um atento leitor, na seção de cartas do jornal Estado de Minas, dia 12/12/2001, respondeu no mais fino humor: baseada na declaração do Presidente Fernando Henrique Cardoso (também ex-Professor), de que “...se a pessoa não conseguir produzir, coitada, vai ser professor...“ – é de que esta pessoa quando fracassa como professor, vai ser ministro do atual governo tucano. Dias mais tarde, até o SBT entrou na briga, levando ao ar um programa para também avaliar o desempenho cultural do estudante brasileiro. Dos milhares de alunos, entre 13 e 14 anos, inicialmente avaliados pelas Escolas, apenas 60 foram indicados para participar do programa de televisão, apresentado por Sílvio Santos. A primeira colocada, uma estudante do Rio de Janeiro, acertou sessenta por cento das perguntas, errando até o nome do rio que os Bandeirantes seguiram o curso para atingir o interior do Brasil: rio Tietê. ENSINO PÚBLICO DE MINAS, OUTRA BOMBA. Dia 2 de abril último, o SIMAVE – Sistema Mineiro de Avaliação da Educação Pública, divulgou os números do último resultado: 83,4% do alunos da rede pública não sabem Física; 82,1%, reprovados em Química; 70,42%, em Biologia; 47,4%, em Matemática; 20,4%, em História; 16,3%, em Língua Portuguesa e 8,9%, em Geografia. Diante dos resultados, o Secretário de Educação, Professor Murilo Hingel ressaltou: ...se a maioria dos alunos apresenta desempenho crítico nestas disciplinas, podemos concluir que algo está errado. Lógico que sim. Basicamente creditamos ao problema a falta de nível de formação dos Professores e a ausência do hábito de leitura e interpretação de texto nas Salas de Aula, além de outras questões de fundo, como deficiência de recursos pedagógicos, instalações escolares inadequadas, salas lotadas, baixos salários dos Professores e profissionais desatualizados. Seria este quadro responsável por abomináveis recordes no Brasil? * A marginalidade consagra o Brasil como um dos países mais violentos das 192 Nações do Mundo. * A corrupção coloca o Brasil no pódio dos primeiros na lista de países que mais toleram esse tipo de crime. * O Brasil é o campeão mundial em número de torcedores fanáticos por esportes competitivos. Será que o Brasil ainda insiste em manter a política de estancar o nível de conhecimento do ensino fundamental, pensando na eleição de políticos que se aproveitam dos currais eleitoreiros? Lembrando Monteiro Lobato: um país se constrói com homens e livros. * Welington Almeida Pinto, escritor e publicitário. Consultoria cultural na internet através do www.sabesabe.com.br - E-mail: [email protected]
[Leia outros Comentários de Welington A. Pinto]
30/5/2002
55. ...
20h20min
Isso não é humano ...
[Leia outros Comentários de Ricardo]
31/5/2002
04h41min
O ensino anda muito caro, muitas pessoas largaram o estudo por falta de condições para pagá-los, e aqueles que estudam com sacrifício não tem condições de competir vagas públicas com outros que tem um horário mais livre para estudar, e também uma melhor bagagem de conhecimentos. Trabalhar e estudar é duro, e existe muita gente boa fazendo isso. Em relação a leitura, os colégios poderiam dar mais incentivo, pedindo que os alunos lessem e comentassem em sala de aula, normalmente os petizes gostam de brincar, portanto talvez seja necessário que se torne uma obrigação prazerosa.
[Leia outros Comentários de Suely Coelho]
4/6/2002
19h06min
Alexandre, tenho de dar a mão à palmatória: de fato, não é possível pôr o Céline ao lado dos outros dois letrados. No mais, entendo que seu texto é uma bem-vinda reação aos deploráveis hábitos do "homem-massa" de que o Ortega y Gasset falava. Mas, dados os contra-exemplos (que, ultimamente, parecem se multiplicar) e o que o próprio Pound chamava de "the grimace of the age", tenho achado difícil compartilhar seu otimismo iluminista. Não esmoreçamos, contudo. Abraços laforgueanos do Júlio ("je marche droit, je fais pas de mal").
[Leia outros Comentários de Júlio]
5/6/2002
21h49min
Só posso agradecer a maneira inacreditavelmente cavalheiresca e galante com que as pessoas concordaram ou discordaram do que eu disse no texto. Voltem sempre. Não, melhor ainda- fiquem, conversem um pouco mais. E está vendo, Júlio, como você mesmo é um exemplo de que o meu otimismo iluminista às vezes tem lá a sua razão de ser?;>) Abraços a todos, Alexandre Soares.
[Leia outros Comentários de Alexandre ]
5/6/2002
22h30min
Maravilha! De nada, Alexandre! Que felicidade sinto ao ver as coisas darem certo e as pessoas conseguirem estabelecer um diálogo racional! Nem tão feliz assim foi o Eduardo com seu texto sobre o Saia Justa. Os ânimos por lá estão quentíssimos. As carapuças rolaram soltas e pousaram em muitas cabeças. É pena, porque o Saia Justa não é um programa ruim. Só não é muito bom e, como todo programa de televisão, não sai do campo do "achismo". O problema são os referenciais. Um professor meu dizia que se você quer escrever como Dante, tem de aprender com alguém melhor que ele, pois se aprender com ele, você só conseguirá escrever como Balzac, por exemplo. O nível da leitura condiciona o nível intelectual. Logo, se você só lê Fernanda Young, escreverá como Paulo Coelho! E achará a Rita Lee o máximo da erudição. Portanto, vamos a Dante e deixemos os coelhos e as youngs para as horas (mais) vagas!!
[Leia outros Comentários de Evandro Ferreira]
5/6/2002
22h46min
A glória do Senhor, que tudo move,/ no Universo difunde-se e esplandece / onde mais, onde menos se comprove./ No Céu que mais a sua luz favorece / estive, e coisas vi que redizer/nem sabe ou pode quem de lá ora desce;" (A Comédia - Paraíso, Canto I, 1-6) Estive no Céu aqui com vocês, obrigada pelo interlúdio... Beijos da Sue
[Leia outros Comentários de Assunção Medeiros]
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