O que o Homem-Aranha, Rubinho Barrichello e as eleições para presidente podem ter em comum? Antes de chegar nessa relação, é preciso introduzir uma outra idéia: a da repercussão provocada pelos mecanismos da mídia de massa.
A grande vantagem da mídia de massa é o alcance da mensagem. Uma mesma idéia pode ser transmitida para milhões de pessoas ao mesmo tempo. Se a mensagem for um bom conselho, então, quase que se desculpa todos os outros males causados por essa influência maléfica que nos atinge à revelia.
O Homem Aranha, o filme, o mais buster de todos os lançados até hoje no Brasil, pode ser considerado um bom exemplo de lição de moral pulverizada. Só neste último fim de semana mais de 1,3 milhões de pessoas assistiram o filme, que estreou em 600 cinemas brasileiros. Como todo grande lançamento da indústria cinematográfica norte-americana, o Homem-Aranha foi precedido de uma agressiva estratégia promocional, para valorizar ainda mais o produto. Produto sim, porque do super-herói em si aos mouse pads que estampou, o Homem-Aranha é um grande e bem vendido produto. Já estamos habituados com essa mercantilização de manifestações consideradas artísticas, mas dessa vez foi demais. Não sei se aconteceu o mesmo em outras cidades brasileiras, mas aqui em João Pessoa o preço do ingresso para assistir o filme subiu em relação aos outros filmes da programação. A justificativa da gerência do único Multiplex da cidade é que o aumento no preço do ingresso fez parte da negociação com a distribuidora, a Columbia Pictures. Ainda segundo suas palavras, essa foi a condição para que praças pouco representativas, como a capital paraibana e Campina Grande, a segunda cidade do estado, tivessem o privilégio de assistir a estréia do super-herói aracnídeo junto com o resto do país. Parece que o assunto está tergiversando, mas na verdade é necessário contextualizar a importância do filme no espetáculo midiático atual. Feito isso, é possível voltar ao traçado original do texto.
Peter Parker, um desajeitado adolescente, estereótipo do fracote sofredor das high schools americanas, é picado por uma aranha geneticamente modificada e acaba adquirindo superpoderes. Em meio às dificuldades normais da vida de um adolescente, Peter Parker encarna o Homem-Aranha para combater o crime. No começo, ainda deslumbrado com seus poderes, Peter toma atitudes inconseqüentes e irrefletidas, o que é perfeitamente normal na sua idade. Afinal, nem todos os adolescentes são maduros e bem resolvidos como a turminha de Dawson's Creek. Essas atitudes precipitadas têm um preço para Peter, que vai desde um leve arrependimento por ter machucado um colega da escola que antes batia nele, até um doloroso sentimento de culpa por ter sido indiretamente responsável pela morte do tio. Ao adquirir os superpoderes, Peter lembra do conselho desse mesmo tio: com grandes poderes sempre vêm grandes responsabilidades. É essa a lição de moral do Homem-Aranha.
Hora de Rubinho Barrichello entrar na história. O brasileiro também adquiriu "superpoderes" ao virar piloto de uma escuderia como a Ferrari. E com seus grandes poderes vieram grandes responsabilidades. Rubinho não é apenas um piloto, mas parte de uma engrenagem que tem normas de funcionamento muito mais intricadas do que as regras de uma corrida. O piloto brasileiro, ao topar o desafio de participar de uma equipe de ponta, assumiu responsabilidades com essa equipe, com seus interesses, com os interesses da mídia. E é por isso que Rubinho não mandou seu contrato às favas na última corrida.
O problema é que o povo brasileiro, de uma maneira geral, tem dificuldade em lidar com a responsabilidade. Por isso não consegue entender as motivações que fizeram o piloto decidir por cumprir seu papel nas teias de interesse de seus patrões ao invés de pisar fundo e finalmente vencer uma corrida. Não defendo aqui a deturpação que tem acontecido com as competições esportivas, espetacularizadas pela mídia com o objetivo de gerar dividendos para seus patrocinadores. Nesse contexto, as motivações originais que regem o esporte acabam sendo relegadas em detrimento de resultados que sejam favoráveis aos que estão apostando. Mas a realidade é que Rubens Barrichello, ao assinar seu contrato com a Ferrari, concordou em jogar esse jogo de acordo com as novas regras. É um preço que ele paga pela fama e pela oportunidade de fazer parte de um seleto grupo. E é o senso de responsabilidade que leva o piloto a agir de acordo com as regras com as quais concordou.
Agora é a hora em que entram as eleições, para completar a relação indicada no início do texto. Ao contrário do personagem e do piloto, o cidadão brasileiro não está preparado para assumir responsabilidades. Votar acaba sendo uma atitude muito mais emocional do que racional. É mais fácil se eximir da responsabilidade de uma atitude tomada por razões afetivas do que encarar uma escolha feita com racionalidade, mas que pode estar errada. E é por isso que as pessoas não conseguem aceitar uma decisão como a de Rubens Barrichello - tomada com base na racionalidade. Rubinho poderia alegar que, entusiasmado com a possibilidade de defender as cores da bandeira nas pistas de todo o mundo, aceitou um contrato com cláusulas que não tinha a intenção de cumprir. Isso justificaria uma transgressão na corrida passada, que poderia tê-lo levado ao primeiro lugar no pódio. Não há brasileiro no mundo que fosse contra essa atitude.
Por não levar em conta a responsabilidade que tem no processo eleitoral, o brasileiro prefere escolher com o coração, com base em critérios subjetivos, que sempre deixam espaço para justificativas. É por isso que mesmo partidos como o PT, que sempre procuraram apresentar propostas claras e objetivas nos programas eleitorais, resolveram falar a língua que mexe com as pessoas. Ao revestir a propaganda política com um verniz emocional, a ideologia partidária torna-se mais palatável à maioria das pessoas. Vale a pena agüentar a chiadeira da ala mais purista do partido para poder falar ao coração, órgão decisor do eleitor brasileiro.
Na esperança de que alguém resolva todos os problemas, as pessoas em geral eximem-se da responsabilidade que têm nas diversas esferas onde atuam, das mais próximas às mais distantes. É por isso que o lixo é jogado na rua, que os impostos são sonegados, que a corrupção é uma prática alimentada a partir das atitudes do cidadão. Sem se dar conta do seu poder, e das responsabilidades inerentes a ele, o cidadão de uma tentativa de governo mais arejada, menos paternalista, vê-se perdido. Não se dá conta de que seus atos têm a repercussão das ondas provocadas por uma pedra jogada em um lago. Ou se dá conta, mas não suporta essa constatação, e prefere deixar a emoção decidir.
Peter Parker deixou a emoção de lado ao optar pelos seus poderes e pelas responsabilidades que com eles vieram. Ao tornar-se o Homem-Aranha, o jovem precisou abrir mão da moça que amava. Rubens Barrichello precisou abrir mão da emoção de vencer uma corrida para agir com a responsabilidade inerente à sua posição na equipe. E o cidadão brasileiro, quando vai aprender a aceitar e a lidar com o fato de ser responsável pelo destino da sua vida, da sua família, da sua comunidade, do seu país? Que o filme do Homem-Aranha, no melhor estilo ética dos super-heróis, massifique também a noção de responsabilidade entre as pessoas.
Discordo em primeiro lugar rubinho não teve culpa da má indole do alemão, que famigerado aceitou o que a ferrari lhe propos se fosse de bom carater, e como sendo o supra sumo da fórmula teria ido para o box cruzando os braços, assim mostraria que é um campeão .
Queria ver a cara da ferrari bem tudo mudaria...
Outra o homem-aranha este sim o nerd que virou quase um Deus e trouxe a tona os defeitos que todos possuimos, em especial a vaidade, passou a vida inteira esperando o beijo da gatinha
quando consegue joga fora só em filme,
E falar de politica sabendo dos escandalo que veio à tona sobre as privatizaçoes das estatais nem comento; PT na veia, essa história de risco Brasil é ridicula pois na própria veja tem uma matéria nas capas amarelas que fala da podridão das multinacionais.Bem me alonguei muito no contra comentário Só desejo um mundo melhor, que não se de tanta atenção a detalhes mesquinhos como brasil em vez de BRASIL, tem é que mudar o todo e não só o que a mídia mostra.
Percebo que você estava precisando desabafar, porque a maioria dos seus comentários não se referem às opiniões colocadas no texto. Mas isso não é ruim, os foruns são feitos para isso mesmo. Em nenhum momento falo da culpa do Rubinho. A abordagem é sobre a responsabilidade dele em relação ao contrato que ele tem com a Ferrari, que por sua vez, lhe dá "poderes". Discordo que o "alemão" tenha má índole. Ele também está cumprindo as regras do jogo. Também gostaria que o Brasil mudasse, e acho que a mudança passa pela responsabilidade.
Realmente desabafei só que nada que eu
coloquei é novidade, opinião não muda o mundo eu sei disso. Só que contratos geralmente usa-se a submissão de uma das partes que ao ver como funciona o sistema se sente preso . Logo para quebrar tais contratos vem a tal da indole que se adquire até meados da juventude. Então o alemão que não consegue se relacionar nem com seu irmão este ao término da corrida olhou
para ele com uma cara de desprezo que me chamou a atenção. Só faltou o Ralph
falar poxa vc não é o melhor para que
aceitar este vexame, não foi isso que aprendemos me casa. E tb vc nem comentou sobre o homem aranha não ama e nem arranha.
Adrianna, quando você for falar da hipotetica índole fóbica do brasileiro em relação a responsabilida inclua a respectiva e correspondente indole austriaca, alemã ,italiana ,etc.Quero dizer, de todos os que assistiam o GP da Austria e vaiaram unissonamente a atitude inacreditavel que viam.E depois da maioria dos jornais europeus que fizeram o mesmo.Ou a indole humana está descambando para a inconsequencia ou essas analises no atacado são furadas.A menos que você me diga quais seus metodos de psicologia social, sua gigantesca amostra com milhares de entrevistados em todo o país me inclui fora dessa por favor.
Em primeiro lugar, antes de criticar a pontuação alheia, preste atenção na sua ortografia. Meu nome só tem um "n". Em segundo lugar, acho que você não entendeu o texto. Não louvo a atitude da Ferrari. E mesmo a atitude do Rubinho, só usei para exemplificar a responsabilidade. Em terceiro lugar, se você não está preparado para entender as generalizações presentes nos textos mais elaborados, atenha-se às histórias da carochinha.
Vinicius, você tem razão, os contratos normalmente são unilaterais, mas o que eu quis dizer é que o Rubinho também ganha com isso, e resolveu pagar o preço. Ele está sendo responsável com os compromissos que assumiu. Como disse no texto, não acho que essa situação seja certa. Não dá para ser maniqueísta, as situações têm várias facetas, algumas boas, outras ruins. Eu peguei só uma delas para analisar.
Oi!
Agora melhorou, bem mudando de saco para mala vc já veio para a festa do pinhão em Lages S/C? Bem, começa hoje
se quiseres vir é só combinar .
Um abraço.
Adoro pinhão, na minha terra (Curitiba) também tem de monte. Mas como estou em João Pessoa, vai ficar difícil estar por aí. De qualquer maneira, obrigada pelo convite!