COLUNAS
Sexta-feira,
14/6/2002
A origem do Senhor dos Anéis
Gian Danton
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Quem assistiu ao filme O Senhor dos Anéis deve ter ficado curioso para
saber como Bilbo, o tio de Frodo, conseguiu o anel que dá origem à história
e causa tanta confusão. Para esses que querem se aprofundar mais na obra de
J.R.R. Tolkien, a Martins Fontes lançou O Hobbitt, o primeiro livro
da série.
O Hobbit foi escrito por Tolkien para divertir seus filhos, razão pela qual
a linguagem é bastante acessível. Na época ele ainda não tinha idéia de
fazer uma grande saga épica, mas o sucesso comercial desse primeiro livro o
levou a imaginar a trilogia chamada O Senhor dos Anéis.
Quem leu os livros da trilogia vai sentir rapidamente a diferença: nada
daquela narrativa angustiada e carregada de suspense. Em O Hobbit predomina
o humor. Humor britânico por sinal, difícil às vezes de entender, mas
absolutamente delicioso.
Bilbo Bolseiro era o mais pacato dos hobbits e vivia sossegado em sua toca
no chão. Uma toca muito confortável, por sinal, com uma porta redonda
pintada de verde, mais cozinha, sala, adega e muito mais cômodos. Bilbo
nunca quis saber de aventuras, pois elas são desconfortáveis e fazem com que
você se atrase para o jantar.
Tudo mudou um dia em que ele estava fumando seu cachimbo na frente da casa e
avistou um velho com um chapéu pontudo e uma longa barba.
É claro que o velho era ninguém menos que Gandalf, o mago, que colocou na
cabeça uma idéia estranha: aquele hobbit poderia ser um bom ladrão.
Bilbo, claro, não gostou nem um pouco da idéia e se trancou dentro de casa,
dizendo: "Sinto muito, eu não quero aventuras, muito obrigado. Hoje não. Bom
dia! Mas, por favor, venha tomar chá, a qualquer hora que quiser! Por que
não amanhã? Venha amanhã! Até logo!".
Como todos sabem, ou deveriam saber, pois esse é o tipo de coisa importante
de se lembrar, um mago sempre volta quando convidado. E o Hobbit o havia
convidado para tomar chá.
No dia seguinte, a casa de Bilbo foi inundada por uma verdadeira multidão de
anões, com suas barbas azuis e seus capuzes. Todos muito famintos por bolos
e chá.
Finalmente chegou Gandalf e, depois de grande festa, foi anunciado o plano:
roubar um tesouro de um dragão maligno.
Quando soube, Bilbo caiu duro no chão.
É claro que anões desconfiaram de que ele pudesse não ser o ladrão ideal
para a situação, mas Gandalf os acalmou afirmando que Bilbo era feroz como
um dragão num aperto.
Claro que, segundo Tolkien, a comparação só podia ser uma licença poética.
Nenhum Hobbit podia ser comparado à ferocidade de um dragão, nem mesmo o
bisavô do avô de Bilbo, Urratouro, que era tão grande que conseguia montar
um cavalo. Esse hobbit era tão valente que, na Batalha dos Campos Verdes,
arrancou a cabeça do rei dos Orcs. A cabeça voou longe e caiu numa toca de
coelho. Dessa forma a batalha foi vencida e, ao mesmo tempo, foi inventado o
jogo de golfe.
Antigamente os anões viviam numa montanha e tinham grande quantidade de
ouro e jóias, que trabalhavam com grande maestria.
A grande riqueza acabou chamando a atenção do dragão Smaug, que veio do
norte e pousou sobre a montanha em um jato de fogo e incendiou toda a
floresta que rodeava a montanha. Os anões tentaram fugir pelo portão
principal, mas foram todos tostados. Os únicos que se salvaram foram os que
estavam fora e os que saíram por uma porta secreta. Depois disso, Smaug
empilhou todas as riquezas e passou a dormir sobre elas, como se fossem uma
cama, pois os dragões, embora adorem roubar ouro, pedras e coisas
semelhantes, jamais usufruem delas.
Assim, a missão do grupo é entrar pela porta secreta e roubar do dragão
tudo que ele furtou dos ladrões. Uma aventura nada fácil, mas muito
lucrativa, especialmente para quem sobreviver.
Para terror de Bilbo, que, como eu já disse, odeia aventuras, especialmente
as perigosas, lá se vão eles.
No caminho eles encontram trolls, que, como todo mundo sabe, se transformam
em pedras se não se entocam debaixo da terra antes que amanheça, mas durante
a noite fazem muitas barbaridades, em especial caçar humanos para comer. Dão
de cara com elfos e muitas outras espécies interessantes... e claro, passam
por maus bocados.
Como se vê, tudo muito parecido e muito diferente de O Senhor dos Anéis.
Parecido porque o livro trata do mesmo universo mágico que transformou o
primeiro filme da trilogia em um sucesso. E diferente porque a narrativa é
muito menos adulta.
Tolkien brinca com as palavras, sendo muitas vezes irônico e espirituoso,
como nos melhores livros infantis. E a trama também é mais simples.
É, portanto, um livro indicado para quem é fã da trilogia do anel e quer
apresentar o universo mágico de Tolkien aos seus filhos, incentivando-os na
leitura (claro que essa também é uma boa desculpa para você se divertir com
mais um livro do mestre inglês).
E, como último comentário, embora a narrativa seja mais infantil, O Hobbit
mantém as ótimas e detalhadas descrições, que fazem todo o diferencial de O
Senhor dos Anéis. São descrições exatas, mas poéticas, que nos fazem
imaginar exatamente como seria um mundo habitado por hobbits, anões, elfos e
trolls. Veja um exemplo:
"Parecia não haver árvores, vales ou colinas pra quebrar a monotonia do
terreno à sua frente, apenas uma vasta ladeira que subia lentamente até
encontrar o pé da montanha mais próxima, um trecho extenso, da cor do urze e
cheio de pedras se esboroando, com trechos e manchas de verde-grama e
verde-musgo, indicando onde poderia haver água".
Gian Danton
Macapá,
14/6/2002
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