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Quarta-feira,
26/6/2002
Formação e Informação
Rennata Airoldi
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Dizem que quanto maior a demanda, maior a oferta. Às vezes, porém, nem tudo que diz respeito à quantidade tem a garantia da quantidade. Na verdade, aqui em São Paulo, há uma enorme opção de cursos, oficinas e espetáculos teatrais. E conforme mais e mais pessoas têm esse desejo louco de tornar-se "ator" (atriz), mais e mais opções aparecem. É preciso, no entanto, conhecer bem o produto com o qual estamos lidando para não "comprar gato por lebre", como diz o velho ditado. O mais sofisticado e mais caro nem sempre é o melhor.
Estou escrevendo, portanto, uma coluna especial, dedicada a todos aqueles que têm me procurado perguntando a respeito de cursos, oficinas, etc. - almejando conhecer o ofício de ator. Sempre que perguntam: o que eu faço para ser ator? Eu sempre devolvo outra pergunta: que tipo de ator você quer ser? Essa questão é imprescindível para quem quer se formar e se informar a respeito. Qual é o seu objetivo dentro da profissão? "Status", fama, prazer, amor, devoção, paixão? Tudo pode acontecer num piscar de olhos e, assim sendo, é preciso estar atento ao que te move. Primeiro: é a arte que te move? Você foi apanhado por ela ou ela é só um meio de você se sentir importante e, de alguma forma, especial?
Na realidade, essa segunda opção cai por terra, quando descobrimos nosso verdadeiro ofício e concluímos que ele em nada se difere de qualquer outro. Luta, suor, estudo, desemprego - tudo é igual em toda e qualquer profissão (na nossa a situação é ainda pior pois estamos lidando com o "subjetivo" o tempo todo.) Não basta ser muito talentoso e ter apenas conhecimento. A diferença - o agravante que eu vejo em relação a outras profissões - é quanto à função do artista na sociedade. Informar, instruir, levar cultura, conhecimento ao maior número de pessoas possível; ou seja, ajudar a formar o cidadão. É pouco? Ao contrário: é muito. É, sem dúvida, uma missão muito importante e, assim sendo, é para ser levada a sério. Um personagem nada mais é que um "espelho", mais ou menos distorcido, de um ser humano, de um ser vivo ou, às vezes, até mesmo de um objeto inanimado, ganhando vida em cena. E, por refletir alguma forma de realidade, serve como "um exemplo a ser seguido". Daí a imensa responsabilidade. Desta forma, ao meu ver, o conhecimento é ainda a melhor arma. Informação acaba sendo apenas o ponto de partida.
Hoje existe uma escola de teatro em cada esquina. Todos os finais de semana, milhares de cursos com diretores de TV (que, por sua vez, prometem testes, papéis em novelas, etc.). Porém, ao invés de sair por aí gastando fortunas e engordando a conta bancária de alguns mercenários (sem generalizar, é claro, pois existem muitos profissionais e cursos sérios), procure conhecer melhor o teatro para ter a certeza de que você quer mesmo viver essa experiência.
Para tanto, existem oficinas semestrais gratuitas, em vários locais da cidade. Centros Culturais, Oficinas Culturais, etc., ligados à Secretaria de Cultura da cidade e do estado. São um bom ponto de partida para um primeiro contato com a arte teatral. Outra coisa: espetáculos. Assistir a várias peças também ajuda a pensar o teatro; conhecer e se encantar com ele, ou não. Existem igualmente muitos espetáculos gratuitos como os do Programa de Formação de Público, uma parceria da Cooperativa Paulista de Teatro e a Prefeitura da Cidade; os espetáculos do Teatro Popular do SESI, e muitos projetos do SESC que tem várias unidades espalhadas por toda a cidade.
Aproveitando o gancho, é sobre um dos projetos do SESC que eu gostaria de comentar. "Reflexos de Cena" acontece no SESC Consolação e é muito interessante para quem faz teatro, quer fazer ou é apenas um entusiasta. Consiste na apresentação de partes, ou da totalidade, de peças teatrais que são abertas ao público. Para isso, basta que a pessoa chegue um pouco antes do horário, retire uma senha e pronto. Antes de começar há até um cafezinho, uma boquinha livre... (quem não gosta?) Então, depois, assiste-se às cenas ou peças da noite e, no final, há uma mesa-redonda com atores, diretores e espectadores. Assim, debate-se ARTE e TEATRO. Processos de criação, o trabalho do ator. TUDO! É uma forma de encontrar profissionais acessíveis, formular suas questões, tirar suas dúvidas e obter informação.
Esteja atento para ir ao encontro das boas oportunidades que a cidade oferece e que muitas vezes são gratuitas, abertas e tão esclarecedoras quanto um curso que qualquer um pode ministrar numa escola caríssima.
Outro ponto que gostaria de levantar é o seguinte: até onde você quer chegar com o teatro? Uma coisa é fazer um curso por mera curiosidade, fazer algumas peças de fim de ano para parentes e amigos (também maravilhoso pois nem todos querem e vão se tornar profissionais), etc. Para isso, existem cursos em todo o canto. Agora, para aqueles que querem ser profissionais de verdade, querem estudar, se formar, há infelizmente menos opções sérias. Existem as faculdades de Artes Cênicas: USP e UNICAMP, que exigem do estudante um processo de vestibular como qualquer outro curso universitário; existe também a EAD, que se difere apenas por não ser um curso universitário (mas é tão bom quanto). Há ainda os profissionalizantes: dentre mais estruturados, estão o INDAC, o Teatro Escola Macunaíma, o Célia Helena. Isso - volto a repetir - para quem quer fazer TEATRO profissional. (Se você não está disposto a estudar, ler muito, ensaiar, não leve isso tão a sério. Faça do teatro um "hobby". Divirta-se com ele nas horas vagas, use como terapia. Às vezes pode ser tão ou mais gratificante.)
Finalizando, se você quer apenas o suposto "status" da profissão, a "badalação", o mundo encantado de Caras, esqueça tudo que eu disse acima e se pergunte: porque eu quero ser ator? A fama, o entusiasmo passam, como vemos ano após ano pessoas aparecendo e desaparecendo do cenário artístico, num piscar de olhos. Será que o ápice compensa o tombo?
Informações
SESC Consolação - Tel.: 3234-3009
Teatro Escola Macunaíma - Tel.: 3667-0807
Oficinas Culturais
Oswald de Andrade - Tels.: 221-5558 e 222-2662
Centro Cultural São Paulo - Tel.: 3277-3611
INDAC - Tels.: 3862-0947 e 3816-6558
Célia Helena - Tel.: 279-0470
Rennata Airoldi
São Paulo,
26/6/2002
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