COLUNAS
Quinta-feira,
11/7/2002
Saiba o que os astros não dizem sobre você
Adriana Baggio
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Você acredita em horóscopo? Não mesmo? Nem um pouquinho? Ah, vai dizer que você nunca deu uma olhadinha básica nas previsões para seu signo no jornal... Duvido que você nunca tenha lido as previsões que as revistas femininas fazem todo começo de ano. Mesmo que tenha sido com um pouco de ceticismo misturado à curiosidade, será que não?
Bem, se você é daquelas pessoas que respondeu com um não categórico a tudo isso, talvez esteja certo. Um dos mais conhecidos e respeitados astrólogos do país, Oscar Quiroga, rejeita esse tipo de previsão em seu livro. Se bem que o próprio já fez esse trabalho, não é mesmo?
Em Astrologia real: o que seu signo quer dizer a você (Editora Rocco, 2002), Quiroga procura mostrar que astrologia é uma coisa séria, e que aceitá-la sem preconceito pode melhorar nossas vidas. Afinal, fazemos parte do cosmo, assim como os astros. A orelha do livro nos prepara para um passeio através da história da astrologia, seus princípios, conceitos, funcionamento, etc. Tá bom, tá bom, depois eu leio isso. Quero saber o que ele diz sobre meu signo. Vou direto para a página de Gêmeos, e uma advertência corta meu barato:
"Advertência: Iniciar a leitura deste livro a partir do próprio signo, ou do de gente conhecida, trará resultados imprevisíveis. Se continuar, você estará ao sabor de sua decisão!"
Ôxe, esse aviso me deixou curiosa. Será que o negócio é sério mesmo? No mínimo, dá pra perceber que o autor conhece bem seu eleitorado. Quantas pessoas como eu não vão direto à parte que interessa? Pois bem, segurei a curiosidade para ver o que de tão importante precisava saber antes de ler o que Quiroga tem a dizer sobre os geminianos.
O início do livro fala sobre a história da astrologia. A astrologia parecida com o que conhecemos hoje, teria surgido no Egito Antigo. Mais tarde, teria sido levada para a Babilônia, onde os caldeus se encarregaram de deturpá-la e divulgá-la para as gerações futuras. Segundo Quiroga, os caldeus usavam a astrologia para ler os augúrios que estariam escritos no céu. Essas leituras determinavam a criação das leis na terra. As previsões eram normalmente nefastas e assustadoras. Os babilônicos, assim como outros povos antigos, tinham uma fixação, uma obsessão pelo cataclisma, pelo apocalipse. Na verdade, eles nem estavam tão errados assim, visto que civilização babilônica desapareceu do mapa mesmo. Enquanto os babilônicos usavam um calendário lunar, o que causava distorções na medição do tempo e nas previsões astrológicas, o povo que os conquistou - os persas - utilizava um calendário solar, mais exato. Fica subentendida a relação entre a correta leitura dos astros e o desenvolvimento das civilizações. Aliás, o autor coloca que, muito antes dos egípcios, outros povos já estudavam e acompanhavam a relação entre os movimentos do céu e os acontecimentos na Terra. Os povos que tinham essa habilidade puderam se desenvolver, já que a capacidade de prever os eventos climáticos, as estações, a época de colheita, etc, permitia que as pessoas pudessem se proteger e programar o cultivo.
O preconceito de que é vítima a astrologia hoje teria surgido com os caldeus. Os astrólogos da época eram corruptos e desonestos. Faziam a leitura dos céus ao rei de acordo com seus interesses, deturpando o verdadeiro sentido da astrologia, que é o de buscar a harmonia entre o céu e a terra. Esse preconceito teria sido alimentado com mais força pelo racionalismo da nossa época, que exige provas concretas para a crença em alguma coisa. Para Oscar Quiroga, essa resistência em creditar nada mais é do que medo. Na medida em que as pessoas libertem-se deste medo, será mais fácil para elas se entenderem e entenderem o universo.
É dentro dessa filosofia que o autor propõe a astrologia real. Essa modalidade de astrologia "busca uma melhor maneira de viver, associando uma condição física precária a uma imaginação que levita no infinito cósmico". Dentro dessa linha, Oscar Quiroga faz uma colocação que pode relaxar uma das principais objeções à astrologia: a de que todo mundo do mesmo signo funciona da mesma maneira. Para ele, nossa personalidade, nossas atitudes e nosso destino são guiados por três fatores: genético, cultural e cósmico. É por isso que não valem para todas as pessoas do mesmo signo as previsões feitas para esse signo. Porque se o fator cósmico pode ser considerado na astrologia, o genético e o cultural não.
Muito coerente com essa teoria, o autor não faz previsões sobre o futuro e nem revela traços exatos da personalidade de cada um dos signos do zodíaco. Talvez um leitor mais afeito à astrologia de almanaque fique um pouco decepcionado com as mensagens quase enigmáticas. Casa signo apresenta uma característica, mas ela é delineada, rascunhada, sem muita exatidão. Seria um aspecto comum entre todos os nativos de determinado signo, mas sem estabelecer traços categóricos que possam excluir alguém definitivamente. Achei as colocações interessantes e válidas para meu signo. A novidade também, pelo menos para mim, é que os signos estão distribuídos em 7 categorias. Vou dar uma palhinha:
Signos de poder: expressam força de vontade. Criam regras de vida e tentam depender o menos possível de circunstâncias para realizar a vontade. Fazem parte deste grupo os nativos de Peixes e Touro.
Signos de amor: emitem constantemente um chamado e esperam evocar uma resposta e, da conjunção dos fatores, irradiar sabedoria. São os nativos de Leão e Aquário.
Signos de inteligência: colhem informações e experiências e com elas tecem nova realidade. Vale para você que é de Sagitário ou Capricórnio.
Signos de criatividade: vivem em conflito, e no puxão dos extremos inventam a possível harmonia. São os virginianos e arianos.
Signo de raciocínio: discrimina e classifica as diferenças, os opostos e os contrastes, preservando o vaivém das contradições. Exclusivo para os nativos de Gêmeos.
Signos de paixão: consagram intenso ânimo a uma coisa ou a alguém. Fazem parte deste grupo Câncer e Escorpião.
Signo de ordem: dedica-se às formalidades, e pela constância e desenvoltura praticadas, estabiliza um ritmo, tornando-se inadvertido produtor de equilíbrio. Vale para os librianos.
Com este livro, Oscar Quiroga torna a astrologia mais palatável àqueles que precisam de uma explicação racional para tudo. Não que o livro mostre como a posição das estrelas no céu no momento do seu nascimento pode determinar, mesmo que seja de maneira tênue, um traço comum de personalidade entre você e outras pessoas nascidas no mesmo momento. O argumento de Oscar é que todos nós fazemos parte de algo muito maior do que a vida na Terra., e que isso nos assusta. Para ele, poderíamos ser muito mais felizes se aceitássemos nossa participação no cosmo, sem ficar tentando atribuir sentido a tudo. Afinal, quem pode explicar a situação onde você sonha com alguém que não vê há muito tempo, que não tem menor possibilidade de encontrar, mas topa com essa pessoa pela manhã? A resposta? Está no cosmo.
Para ir além
Adriana Baggio
Curitiba,
11/7/2002
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