A cada momento surgem novas perspectivas de comunicação e de contato entre os homens em qualquer parte do planeta. A internet, sem dúvida, é uma grande conquista nesse sentido. É um mundo ilimitado e quase infinito com informações, possibilidades e acessos. Proporcionou-nos um parque de diversões com atrações contínuas. São informações que se desdobram em mais informações, abrindo um leque diversificado e caminhos novos a serem desvendados. E isso sem qualquer forma de julgamento ou preconceito, pois as janelas não excluem assuntos. A partir do momento em que se tem um portal aberto, não há exclusão. Você pode pesquisar e divulgar tudo e qualquer coisa através desse veículo.
Por isso é que ela é tão importante e banal ao mesmo tempo. Tudo que é lixo está no mesmo pacote que inclui as coisas boas e agradáveis. Como está no dito popular: "é tudo farinha do mesmo saco!" De qualquer forma, cada indivíduo tem livre escolha a partir do momento em que aparece na tela do computador um sinal avisando: você está conectado! Daí, cada cabeça é uma sentença.
Para a arte em geral, é mais uma forma de pesquisa e de divulgação. Grupos de teatro criam sites, recebem e-mails e passam a ter um contato muito mais direto com seu público. Sites especializados como este, fornecem uma série de informações ao mesmo tempo: teatro, música, literatura, artes plásticas, cinema... E talvez o melhor da rede seja o "efeito dominó" que proporciona. A medida em que escrevo sobre um determinado assunto, muitas associações serão feitas e novas janelas abertas, com mais e mais informações.
Entretanto, pessoas falam de experiências virtuais, contatos, amizades. Não acredito na sinceridade através do teclado do computador. Viajar nos caminhos virtuais, ler, adquirir conhecimento é maravilhoso. Mas, substituir o encontro o olho no olho, o suor das mãos se tocando; não me convence. É o mesmo que escrever sobre algum espetáculo que eu não tenha visto. Ler uma resenha e copiar. Ler um resumo de um livro e falar sobre ele. Não acredito nas experiências que não transmitem um sentimento real. Eu posso ler um texto e me emocionar. Mas ler um resumo não vai trazer a total dimensão da obra.
Sei que há pessoas que adoram o sexo virtual, salas de bate papo, etc. Não julgo ninguém, pois cada um sabe o que é melhor para si. Agora: não consigo pensar que essas experiências substituam o real. O contato pele com pele, falas improvisadas e textos não premeditados. É fácil brincar de faz-de-conta através da internet. Assim, todas as pessoas podem imaginar ser o que não são. Eu posso fantasiar tudo e isso, sem dúvida, é muito bom, uma vez que eu sou a única pessoas que pode comandar a minha mente. Dessa forma, claro, a brincadeira é agradável. O problema é que nunca há o "elemento surpresa" que uma outra pessoa pode proporcionar.
Para o ator, a internet ajuda com conceitos, palavras, popularidade, mas não com arte. Não há como realizar uma peça através dela. Você pode ver um filme, mas não uma peça que não tenha sido registrada. Na verdade, teatro filmado não corresponde à aquilo que é efetivamente realizado. Tudo que o ator carrega para a cena transforma-se, com os diferentes espectadores, numa nova experiência que só acontecerá uma vez na vida! Assim, não haverão duas sessões iguais nunca. É como quando você conhece uma pessoa, se apaixona, divide muitos momentos especiais com ela e, depois, tudo acaba. Essa pessoa nunca será substituída por outra. Você pode se apaixonar novamente, amar, mas a experiência passada existirá, sempre, em alguma gavetinha dentro da sua memória. Não se pode julgar o que foi melhor, pior, etc.; o fato é que cada experiência é una.
Complicado? Um pouco. A vivência no teatro depende da presença física, da troca de olhares e sensações. Não é possível, por exemplo, ensaiar virtualmente uma peça. É preciso estar no palco, comparecer, suar a camisa. O teatro sempre vai exigir do ator uma espécie de celibato. Como um padre, o ator assume uma nova "religião" quando é tomado pelo vírus dos palcos! Na verdade, como comentava com uma outra atriz esta semana, nós somos agentes e reféns de nossa grande paixão. Se por um lado, trabalhamos apaixonadamente e com os aplausos ao término de um espetáculo, nos redimimos, por outro: nós nunca deixamos de pensar o mundo, a vida, enquanto atores. Somos atores o tempo todo, observando o mundo através de uma lente artística. As pessoas passam a significar muitas coisas diferentes, cada gesto, cada ação. Um espera num ponto de ônibus pode fornecer uma gama infinita de informações. É preciso conhecer o homem e seu mundo para falar com propriedade deles. Somos presos e libertos por nossos olhos famintos que tentam entender a vida de uma outra perspectiva!
É nisso que acredito. O que quero dizer? O teatro é arcaico, insubstituível por exigir a presença física de um ser humano, por ser uma arte efêmera. A internet é um novo mundo que está sendo desvendado e isso encanta as pessoas. Mas não deve substituir alguma coisa. Não existia uma "lacuna" por onde passa a rede agora. Existiam outras formas e mecanismos. Folheávamos uma enciclopédia, escrevíamos cartas, íamos ao cinema! O que mais odeio em relação às novas tecnologias é a teoria da "substituição". Nada deve ser excluído das nossas vidas. Devemos continuar folheando livros, pegando uma caneta e mandando cartões postais escritos a mão! Sair de casa, ir ao supermercado, ao cinema, ao teatro e nos conectarmos nas horas vagas... Maldita mania que temos de achar que as coisas não podem coexistir.
Então, a internet vêm somar. O homem assim como o ator se constrói a partir de experiências reais, e isso fica inviável se estiver sempre protegido por um teclado e uma tela. As pessoas amadurecem e aprendem na dificuldade e nas surpresas de nosso cotidiano. E a vida, sim, é um palco de acessos ilimitados e infinitos! Cada um que escolha o seu próprio fardo a ser carregado.
Boletim da Mostra A "II Mostra de Teatro 'Cemitério de Automóveis'" continua, graças ao esforço dos atores, do diretor, dos técnicos e da presença do público, um sucesso. Quem ainda não assistiu nada pode se preparar para muitas estréias durante a semana. Aliás, hoje estréia às 21hrs. o premiado texto "Nossa vida não vale um Chevrolet", vencedor do Prêmio Shell 2000. Para quem não sabe: a cada dia, são duas peças diferentes em cena. A semana fica assim:
31/07
19hrs. "Diário das Crianças do Velho Quarteirão"
21hrs. "Nossa vida não vale um Chevrolet"
01/08
19hrs. "Vamos Sair da Chuva quando a bomba cair"
21hrs. "Ovelhas que voam e se perdem no céu"
02/08
19hrs. "Os anjos vão para o Céu"
21hrs. "Fucky you, Baby"
Olá,
O que diz neste texto é em parte uma grande verdade, a cada dia as pessoas estão se prendendo mais e mais a internet e muitos deixam de ler obras maravilhosas que poderiam preencher sua cultura.
Um grande abraço
Ozeas