COLUNAS
Quarta-feira,
31/7/2002
Obesidade e dietas
José Knoplich
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No início do século 21, a população dos países industrializados do mundo e inclusive do Brasil considera que a obesidade é uma "doença" das mais freqüentes, apesar do grande contingente de pessoas pobres e desnutridas.
Em 2001, foi feita uma estimativa do Ministério da Saúde do Brasil, em que 6% dos homens e 12% das mulheres com mais de 18 anos têm grande obesidade, apontada como fator de risco para problemas cardíacos, diabetes e câncer de mama.
Além disso, um terço da população brasileira tem um excesso de peso, de até 10% acima do saudável. Isso significa que quase 65 milhões de brasileiros, com certeza, ouvem de seus médicos e de seus familiares que devem emagrecer. Nos últimos 20 anos, as crianças até 15 anos com excesso de peso, no pais, triplicaram e já estão na faixa de 14%, portanto, acima do índice dos adultos, o que preocupa as autoridades sanitárias. A obesidade passou a ser um problema mais sério que a desnutrição no Brasil. Nos últimos dezesseis anos, o índice de obesidade entre as mulheres mais pobres saltou de 6% para 15%. Proporcionalmente, o consumo de alimentos gordurosos está aumentando com mais intensidade nas regiões onde a miséria está sendo erradicada. As pessoas estão ganhando acesso à comida, comem de modo errado e praticam cada vez menos atividade física.
Portanto existe público com motivação para ler livros sobre dietas e sobre os perigos da obesidade. O site da Amazon books registra 26.197 títulos com a palavra dieta e o site da loja virtual Submarino tem 567 livros sobre dieta, 505 internacionais e 62 nacionais.
Mas qual é o vilão do problema? O modo de se alimentar ou os tipos de alimentos? Falta de exercícios? Fatores psicológicos? Fatores endócrinos ou orgânicos?
Todos os tipos de dietas têm adeptos e detratores, e todos os regímens alimentares têm seus modismos. Até existem médicos contrários à idéia de realizar uma "dieta", dizendo que o que realmente conta é uma reeducação alimentar. Dieta seria uma alimentação com restrições por um prazo de tempo limitado. A pessoa não pode passar a vida inteira de dieta, mas tem que continuar comendo para permitir um gasto de energia para amar, trabalhar, pensar, exercitar-se, etc, etc.
As dietas com base nas calorias dos alimentos, que somam pontos permitindo que a satisfação de um pequeno gosto alimentar seja compensado por um sacrifício logo em seguida, têm tido um número decrescente de adeptos.
A obesidade é configurada pela medicina oficial, como sendo resultante de um excesso de alimento, e em porcentagem muitíssimo pequena de casos é resultado de problemas orgânicos ou doenças. Uma pessoa normal precisa de um certo número de calorias (quantidade de alimentos) para desempenhar as suas atividades diárias, mas tudo que a pessoa come a mais, em forma de proteínas, açúcares ou gordura, acabará se acumulando em forma de gordura no organismo. As restrições seletivas de cada um desses três elementos, durante um certo tempo, é considerada uma dieta, com resultados quase sempre concretos, mas impossível de se manter durante muito tempo. A dieta de certa forma é um radicalismo alimentar, que é difícil de manter por longos períodos sem trazer efeitos colaterais.
A base da chamada dieta protéica é evitar na alimentação as proteínas da carne, ovos, leite e derivados, adotando uma dieta vegetariana radical ou total, conforme os quilos a perder. Nos últimos anos surgiu a dieta contrária aos açúcares, preconizando evitar as massas e doces apontados como os vilões, pois obrigam o organismo produzir mais insulina, o hormônio responsável pela absorção de açúcar no organismo. A energia gerada por esses tipos de alimentos, e que não é consumida, fica depositada no corpo, na forma de gordura, dizem os adeptos. Essa dieta dos açúcares é favorável ao aumento das proteínas, que muitas vezes vêm em forma de sopas, pós preparados com proteínas vegetais e fibras, para misturar em sucos ou leite. Vários estudos demonstraram que se a pessoa reduzir simplesmente a ingestão de gordura pode comer os outros alimentos, inclusive doces e proteínas, e ainda assim emagrecer. O problema é que o brasileiro está comendo cada vez mais gordura. No Brasil, nos últimos 15 anos, o índice de gordura na alimentação básica, aumentou de 18% em média nas grandes cidades.
Um pouco de gordura pode ajudar na perda de peso a longo prazo, algo constatado quando se comparou dois grupos de pessoas obesas: o primeiro grupo seguia uma dieta com baixos teores de gordura e outro grupo tinha um cardápio com níveis moderados. Nos primeiros seis meses, a perda de peso foi igual nos dois grupos. Depois de um ano, o primeiro não só ganhou de volta o que havia eliminado como ficou 2 quilos mais gordo. Já no segundo, perderam em média 4 quilos.
Os regímens restritivos, chamados de dietas, por mais ponderados ou ousados que sejam os métodos, não funcionam indefinidamente, pelas dificuldades de mantê-los, pois na maioria das vezes são anti-naturais.
A nova orientação nessa matéria de emagrecimento é que o médico, a nutricionista, a psicóloga, o treinador, o professor de educação física devem passar a ser educadores da alimentação.
Todos os autores de livros sobre esse tema do emagrecimento, afirmam que os pacientes devem adotar alguns critérios:
* comer moderadamente várias vezes ao dia (ao menos quatro refeições diárias), e incluir em todas algum tipo de açúcar ou massa, pão, arroz, macarrão e batata.
* dentre as proteínas, dar preferência a carnes não gordurosas.
* evitar o colesterol e gorduras inadequadas, tais como gemas de ovo ou laticínios gordos.
* deve-se comer o máximo possível alimentos ricos em fibras, como frutas, verduras e legumes, sempre que possível.
* nada é proibido, definitivamente.
* o importante é fazer exercícios moderadamente.
* olho na balança, nos períodos de maior stress, no inverno, e algumas situações emocionais mais difíceis.
Alguns mitos, que atrapalham:
1- O principal deles é achar que fechar a boca emagrece. A redução drástica de alimentos em parte do dia, geralmente é compensada a noite ou no dia seguinte.
2- Doce e açúcar sempre engorda. Uso de adoçante de forma constante ou alimentos diet, fazem emagrecer. A total ausência de açúcar na alimentação, causa uma queda nos níveis de uma substância cerebral chamada serotonina. Esse fato biológico, deixa a pessoa vulnerável a uma compulsão alimentar ou uma depressão, que às vezes melhora com a ingestão de chocolate.
3- O conceito do peso ideal foi praticamente abandonado, sendo substituído por uma faixa de peso saudável, para cada pessoa, de acordo com a altura, sexo, idade e doenças preexistentes.
4- A mulher que procura resultados mais imediatos, faz dietas rigorosas muitas vezes incompatíveis com equilíbrio metabólico e hormonal da mulher, de determinada idade. O uso de remédios para acelerar a perda de peso, como hormônios da tireóide, diuréticos e inibidores de apetite em doses altas, só agravam o problema, pelos efeitos colaterais. Os pós, sopas, laxantes e saunas também têm efeitos muito limitantes.
5- Os quilos que são perdidos rapidamente têm a tendência de rapidamente serem readquiridos.
Nos Estados Unidos, o Dr.Robert C. Atkins há muitos anos defende que as dietas devem ser ricas em gordura ("A Nova Dieta Revolucionária do Dr. Atkins", Editora Record, Ano: 2000, Número de páginas: 408, R$ 35,00 )
Mas o Dr. Dean Ornish, cardiologista do presidente Clinton, que esteve no Brasil, por seu lado, defende alimentação muito pobre em gorduras ("Salvando o Seu Coração", Editora Relume Dumará, Ano: 2002, Edição: 5, Número de páginas: 339, R$ 39,00). São livros muito conhecidos, mas muito radicais, pois defendem pontos de vista restritivos nas receitas, defendendo a linha de pensamento do autor.
Dois professores Geraldo Medeiros e Alfredo Halpern, do Departamento de Endocrinologia da Faculdade de Medicina da Universidade de S. Paulo, se preocuparam em escrever livros de divulgação sobre esse tema, além de seus artigos científicos. O primeiro a fazê-lo foi Alfredo Halpern, que já escreveu em 30 anos de carreira os livros: "Entenda a Obesidade e Emagreça", "Obesidade" e "Pontos para o Gordo", todos para o publico leigo, mas esgotados. Em 2001, publicou, com a ajuda do jornalista Claudir Franciatto, o livro cujo titulo é "Desta Vez Eu Emagreço!" (Editora: Record, Ano: 2001, Número de páginas: 159, R$ 12,90), argumentando no prefácio: "É importante que a ciência seja do conhecimento popular. Os cientistas ficam enclausurados em suas descobertas, formando uma espécie de elite distante do povo. Enquanto isso, os preconceitos e os frutos de ignorância se disseminam. Há muito tempo, me convenci de que a população leiga tem todo o direito de receber, por profissionais capacitados, informações sobre os problemas que a aflige. Um dos objetivos deste livro é exatamente este!". O livro tem como subtítulo: "As peripécias de um gordo em busca do emagrecimento", até chegar ao balanço de pontos, pois ele foi o criador (mais ou menos há 30 anos) de um sistema de pontos para o controle do peso que, agora, chama de "balanço de pontos", ajudando a pessoa a emagrecer e continuar com o peso diminuído, comendo sempre de tudo. O objetivo é o próprio paciente encontrar a sua alimentação adequada e balanceada.
Halpern diz em relação à polêmica de Atkins versus Ornish: "Na minha opinião nenhum dos dois tem razão; gorduras e carboidratos (açúcares) são componentes naturais dos alimentos e ambos têm funções muito importantes para o organismo. Dietas muito ricas em gorduras, no entanto, são muito prejudiciais para a saúde, principalmente as gorduras saturadas (gorduras animais) que fazem aumentar os níveis de colesterol e triglicérides no sangue e propiciam o aparecimento precoce de arteriosclerose. Além disto, inúmeros estudos científicos demonstram que as gorduras ingeridas são as que mais "viram" gordura no organismo.
Alimentação muito pobre em gorduras, além de ser pouco saborosa, freqüentemente se associa com "prisão de ventre" e possivelmente interfere na absorção de vitaminas, tais como, A, D, E e K, que dependem da presença de gordura no intestino. Hoje procura-se o bom senso, na alimentação sem sacrifícios com comidas gostosas e saudáveis que devem ter cerca de 25 a 30% de gordura, 55 a 60% de carboidrato e 10 a 15% de proteína.
Geraldo Medeiros acaba de lançar "O Gordo Absolvido" (Editora: Arx, Ano: 2002, Edição: 1, Número de páginas: 208, R$ 25,00), onde, como diz o próprio titulo, o obeso é absolvido de qualquer culpa por ser gordo, pois a culpa é devido a insulina secretada pelo pâncreas. Não se trata de aceitar a dieta dos açucares, mas sim de constatar que a genética tem papel preponderante nesse mecanismo que causa a obesidade. Os gênes é que estão errados. O gordo está absolvido, ele ingere mais alimentos, não porque quer, mas porque existe um determinismo que está em seu código genético. Isso pode servir de consolo, mas não emagrece.
A influência genética em famílias com obesos (antes atribuída apenas à transmissão de hábitos alimentares) foi valorizada, nesse livro, porque está associada a distúrbios da insulina, que faz com que certos indivíduos acumulem quantidades diferentes de tecido adiposo graças a uma mesma quantidade de comida ingerida.
De 24 a 29 de agosto de 2002 será realizado em São Paulo o 9º Congresso Internacional de Obesidade, que será coordenado pelos dois professores e deverá trazer muitas novidades.
A revista Times, do início do mês de Julho de 2002, dedicou a sua reportagem de capa ao tema do vegetarianismo, afirmando que cada vez mais americanos, particularmente os jovens, estão adotando essa prática, comendo mais legumes, grãos e verduras. Numa pesquisa dessa revista que entrevistou 10 mil adultos, em todos os estados americanos e extrapolando os resultados para toda a população americana, deduziram que atualmente cerca de 10 milhões de americanos se consideram vegetarianos praticantes, outros 20 milhões já fizeram uma dieta vegetariana alguma vez na vida.
No Brasil não temos esses dados estatísticos, mas se fosse usado o critério estatístico e comparando as populações dos dois países, poder-se-ia admitir que cerca de 6,5 milhões de brasileiros seriam vegetarianos praticantes (evidente que com as ressalvas de praxe). Há um grande debate sobre o tema, com vários itens: Quem faz esse tipo de dieta tem vida mais longa e mais saudável? Essa dieta é adequada para todas as idades, para o jovem que precisa crescer e o idoso que precisa recuperar massa muscular? E o atleta, e o trabalhador braçal que tem perdas protéicas diárias, seria um tipo de dieta adequado?
Na evolução da espécie humana, os antropólogos constataram que os primatas primitivos (orangotangos e gorilas) eram vegetarianos, se alimentando do produto das árvores; foram obrigados a ficar de pé e desenvolveram o cérebro, com a lateralizarão dos olhos e aumento do crâneo. Os primeiros hominídeos (espécie humana descendente dos macacos) deram um passo ousado quando começaram a comer a carne dos outros animais, rica em proteínas e nutrientes. Os humanos em evolução comiam de tudo; será que agora. com maior sofisticação intelectual e tecnológica, deve-se voltar para dieta vegetariana primitiva?
A Associação Dietética Americana proclamou que "dietas vegetarianas apropriadamente planejadas são saudáveis, nutricionalmente adequadas e fornecem benefícios de saúde na prevenção e tratamento de certas doenças". Há um século, dizia-se a mesma coisa de uma dieta rica em carne.
As crianças americanas de hoje são a primeira geração a viver em uma cultura onde a obesidade juvenil (resultante de excesso de alimentos) esta tendo de ser combatida, sem tantos sacrifícios, com as delícias de um hambúrguer competitivo oferecendo a versão vegetariana com soja, grãos torrados de trigo, arroz, cogumelos, picles, cebolas e condimentos mais adequados a dietas de emagrecimento. Essas crianças podem estar educando seus pais e talvez se tornem adultos seguidores desse tipo de dieta. O que está chamando a atenção é que as vendas desses tipos de alimentos está crescendo muito, aumentando os restaurantes naturais e os alimentos vegetarianos, que estão entrando no cardápio dos restaurantes tradicionais. Essas pessoas já têm ate o Partido Verde, com guia político em vários países.
O movimento tem varias nuanças entre seus seguidores: o mais radical é o "vegans" (em inglês), o tipo "puro" que exclui a carne, assim como todos os alimentos originários dos animais (leite, ovos, mel, etc). A dieta macrobiótica é composta principalmente de arroz integral, no tipo "frugivorismo" (em que só são incluídas as frutas), no tipo "crudivorismo" (em que os alimentos são crus ou pouco fervidos), há também os que se consideram-se vegetarianos mas comem ovos, leite, mel e pescados. Há muitos anos, a medicina e os médicos recomendam uma alimentação mais balanceada e que contenha mais frutas, verduras, grãos, legumes e também mais peixe, pois há uma maior proteção e prevenção da doença da artéria coronária, obesidade, diabete e muitos tipos de cânceres e, com isso, aumentam a longevidade do ser humano. A carne e os laticínios são os principais alimentos que contêm gorduras e essas últimas são difíceis de eliminar da dieta porque deixam os alimentos mais saborosos.
Sabe-se que a dieta vegetariana pura sem carnes, peixes, ovos e laticínios pode levar a deficiências de ferro, cálcio e vitamina B12. Mas os idosos vegetarianos apresentaram uma taxa menor de mortalidade e usaram menos medicamentos do que os idosos comedores de carne, embora tenham um consumo menos saudável de ácidos graxos (como o omega-3, protetor do coração, encontrado em óleos de peixe).
Além disso, a dieta rica em fibras e com pouco leite e derivados reduz a absorção de cálcio e vitamina D3, que podem determinar o aparecimento de osteoporose e fraturas do quadril. Ainda há preocupação em torno das dietas vegetarianas para as crianças em crescimento, para as mulheres que estão amamentando e para os atletas.
Os "vegans" ou vegetarianos puros também se opõem filosoficamente a alimentos enriquecidos e/ou suplementos de vitaminas e minerais. Os adeptos vegetarianismo argumentam que o consumo de vegetais é muito mais adequado ao meio ambiente do que as dietas que giram em torno da carne, o que gastam grãos para ração, água e energia para alimentar os animais que serão depois abatidos para consumo, esses gastos daria para alimentar os povos pobres e famintos do planeta. Os que são contrários ao vegetarismo dizem que o consumo exagerado de vegetais, legumes e frutas traria um desequilíbrio ecológico, pela morte de um grande número de espécies animais, que teriam que competir com os seres humanos para sobreviver. Com se pode perceber, nem nos extremismos há unanimidade em relação aos alimentos.
José Knoplich
São Paulo,
31/7/2002
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