COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
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30/8/2002 | | |
13h45min | |
| Alexandre,
como sempre você está de parabéns pelo seu texto. Concordo especialmente com dois pontos: 1 - depois de Borges, todo escritor argentino parece idiota (Eu acrescentaria: depois de Borges, todo realismo fantástico parece idiotice); 2 a literatura brasileira é feita sobre o desinteressante. Machado de Assis escreve apenas sobre o desinteressante. Mas há boas excessões. Euclides da Cunha escreveu sobre um assunto muito interessante em Sertões. Outra honrosa excessão é Monteiro Lobato. Quem já leu Urupês sabe o que é um livro escrito sobre coisas interessantes. Lobato tirava sarro do desinteressantismo da literatura brasileira (que ele chamava de contos psicológicos) usando para isso uma cozinheira que ele considerava uma crítica literária melhor do que qualquer crítico de jornais.
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30/8/2002 | | |
19h15min | |
| Parabéns, Alexandre! Você nos deixou na saudade na última semana, rapaz! Mas a coluna de hoje valeu por duas semanas.
O tópico mais sintético foi paradoxalmente o mais abrangente: Borges sufocou uma geração. Além de concordar com o Gian (sobre o realismo fantástico) queria acrescentar que não foi só na Argentina que Borges projetou sua imensa sombra. Todo escritor latino americano tem que fazer uma reverência a Borges antes de pensar em colocar a primeira letra no papel. Não li Borges tanto quanto deveria e por isso posso estar falando bobagem. Mas o que li (e reli) foi suficiente para me causar a seguinte inquietação: Borges existiu? Funes é bem mais palpável que Borges!
Borges não seria um personagem que escapou de um livro de Borges?
Borges me parece tão imenso que chego a supor que para enxergá-lo é preciso estar no espaço sideral. Até chegar lá continuarei na dúvida: Borges existiu?
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31/8/2002 | | |
21h47min | |
| Grande!! Grande!! Boa Alexandre!!!
O trecho a seguir de sua matéria é uma das coisas mais espetaculares que já vi escritas. É simplesmente antológico:
"Nem os realistas aguentam o realismo; só não sei como os materialistas aguentam o materialismo. Como a sequência do pesadelo em Ana Karênin, Deus deveria ser incluído na nossa visão de mundo por uma simples questão de "bom" gosto.
Desculpe-me por acrescentar o "bom" ao trecho. É só uma travessura minha.
Alexandre, isso é uma das manifestações mais inteligentes que já vi até hoje. E olha que já tenho 55 anos e bastante experiência.
Parabéns.
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1/9/2002 | | |
02h18min | |
| Como conciliar o número de obras magníficas escritas ao longo de séculos, (atenção + respeito) por cada uma delas e uma só vida?
| | [Leia outros Comentários de Ricardo] |
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2/9/2002 | | |
01h32min | |
| Ora, a vocês todos, como sempre, muitíssimo obrigado pelas palavras e pela visita. Suas perguntas são irrespondíveis. Concordo com o Gian - especialmente no que diz respeito a Monteiro Lobato. O Sítio do Picapau Amarelo, por exemplo, é uma espécie de Reserva Natural de Coisas Interessantes, onde nunca se viveu um momento de banalidade ou chatice (sossego sim, às vezes). Agora, a pergunta do Rogério, se Borges existiu - conhece aquela teoria maluca de que aquele velhinho que todos vimos era só um ator (um ator, não um autor), e que a obra de Borges foi escrita por Umberto Eco? Não acredito, é claro - mas vá saber. Quanto ao Haroldo, fico tentado a deixar aquele "bom" onde ele deixou - fica melhor, não fica? O que acham? Tenho que saber, me respondam, me respondam. E a pergunta irrespondível do Ricardo de Mattos - não se responde - não sei - é impossível. Mas há quem não sinta essa necessidade de ler tudo. Flaubert disse, numa carta para a amante: "Como seríamos sábios se conhecêssemos bem somente cinco ou seis livros". É uma possibilidade, não é? (mas não para mim; e acho que nem para Flaubert). Um abraço - Alexandre.
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6/9/2002 | | |
21h17min | |
| Alexandre, você nos trouxe mais um texto delicioso, que já começa bem, mencionando meu querido detetive Nero Wolfe (ele e seu altivo assistente Goodwin são personagens pra lá de tridimensionais) e vai ficando melhor a cada linha. Concordo que o realismo literário nunca seja puro, a menos que você chame de obras literárias os compêndios de medicina. Mesmo a Medicina Legal não é 100% realista. O mundo não é realista, nem precisa de realismo literário puro, a meu ver. Alexandre, concordo que essa mania de desprezar adjetivos (aquilo que chamam de "cortar o desnecessário") é puro modismo, e muito imbecil! "Um pano roto e malcheiroso, com pontas esfiapadas" não é o mesmo que "um pano", simplesmente. Cortar adjetivos é cortar nuanças, seria como obrigar um pintor a usar apenas cores básicas, nunca tons intermediários. Sem adjetivos não haveria Marcel Proust, não acha? Essa guerra contra adjetivos sempre me revoltou. Isso é coisa de quem nunca leu pra valer! Abração, parabéns por mais esse texto inteligente e saboroso. Abraços!
| | [Leia outros Comentários de Dennis] |
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9/9/2002 | | |
00h18min | |
| Dennis, sim, sem adjetivos não haveria Proust, nem Balzac, nem Dickens (Dickens usava adjetivos muito bem), nem Henry James, nem noventa por cento da literatura do mundo. E sua comparação com cores e nuances, os adjetivos dando as nuances aos substantivos - queria ter criado essa imagem. Cheguei tarde, cheguei tarde...- Nota: para quem não conhece, passem pelo Caderno Mágico do Dennis (http://cadernomagico.blogspot.com) e leiam tudo que puderem. Daí releiam. E releiam. E coloquem nos favoritos.
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12/9/2002 | | |
03h09min | |
| você esqueceu do Vlad no quesito adjetivos e advérbios estranhos (ah, eu e minhas obsessões).
| | [Leia outros Comentários de Juliana] |
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12/9/2002 | | |
17h20min | |
| Ah, é claro, Nabokov, Juliana. Não esqueci, só não o mencionei porque senão as pessoas iam começar a dizer que estou obcecado. Mas sim, veja o início de "King, Queen, Knave", taduzido do russo pelo próprio Mais Nobre Caçador de Borboletas em pessoa, e seu filho Dmitri: "The huge black clock hand is still at rest but is on the point of making its once-a-minute gesture; that resilient jolt will set a whole world in motion. The clock face will slowly turn away, full of despair, contempt, and boredom, as one by one the iron pillars will start walking past, bearing away the vault of the station like bland atlantes..." - Um abraço - Alexandre.
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