Vou confessar algo íntimo e que estou revelando agora: adoro votar.
Faço isto cheio de esperanças renovadas a cada eleição e sabendo de antemão que as mesmas esperanças irão ladeira abaixo pouco tempo depois. Sempre foi assim. Ou seja: sou um cidadão cheio de esperanças e cético ao mesmo tempo - em busca de frustrações na política.
(Como se chama isto em psicanálise? Eu não sei... Na verdade, também não me interessa.)
A cada eleição, consigo sentir - durante as semanas que antecedem o dia - sensações e prazeres indescritíveis, com os fatos que ninguém conta e que a mídia sempre deixa de fora.
O primeiro. Vivo uma verdadeira viagem fantástica, que é abraçar a esperança com que os políticos acenam - como num interminável conto de fadas - segundo a qual, em pouco tempo, seremos uma grande nação, exemplar, cheia de conquistas imediatas, quase que num paraíso de onde outros povos beberão e que nos afastará para sempre daquelas mal-comportadas nações em "default"...
O segundo. Uma sensação de prazer. Sinto que as "elites", durante esta minha temporada de gozo, estão com um profundo e indisfarçável medo, não sei bem de que, mas presumo que seja o medo de perder a doce boquinha do poder, onde benesses mil lhe são oferecidas. Lícitas e ilícitas.
Imaginem, meus pacientes leitores, largar-tudo-isso, tão suave e gostoso - conquistado ao longo de 500 anos: universidades no mundo, idiomas e academias custosas para entregar tudo nas mãos de um torneiro mecânico. Imaginem ter na Presidência um cara que até há pouco ganhava - quando trabalhava - uma droga de salário. Imaginem, minhas amigas, ter como primeira dama uma mulher que ultrapassou a porta da Daslú depois dos 50 (por conselho do marqueteiro) e sem pedigree algum?
Aonde vamos a parar... Meu Deus, deve dar medo mesmo. Como dizem no Rio: um dia o morro vai descer - ou será que já desceu?
Voltemos: o maior susto, o big susto, é que o Lula ganhe de lavada e liquide a fatura logo no primeiro round, por nocaute nos dois primeiros minutos. Isto dá pavor às "elites". Se acontecer, poderemos chamar - a este passeio eleitoral do grande desprezo cívico - um verdadeiro aluvião democrático.
Calma, gente! É só um susto, porque, logo logo, tudo continuará igual.
Porém, eu terei tido uns dias de prazer e mais uma decepção futura. Claro, agora tudo programado.
Nota do Editor
Rodolfo Felipe Neder é diretor do site Millôr Online.
Que nunca percamos a honestidade,a esperança e o amor.
Que possamos fazer nossa boa parte!
Viva o Brasil! Que vença o melhor e que dê um bom exemplo para os países ainda em guerras(aí é que é ruim).
Que nunca pequemos por omissão...