O mercado de música brasileira é um alvoroço no quesito lançamento de novos talentos, seja de forma independente ou mesmo por gravadoras legitimamente brasileiras.
Quando encontro algum disco de um artista que ainda não conheço, o primeiro item que automáticamente verifico é a qualidade da foto de capa. Um bom disco geralmente pressupõe uma capa digna. E, mais uma vez, a produção de foto fez a diferença.
Acreditando que a preocupação com a qualidade da foto da capa fosse extensiva ao repertório, enchi-me de coragem e curiosidade em sapear a relação de músicas. Ao virar a embalagem me deparo com poucas informações técnicas e mais outra foto de boa qualidade.
Na relação de músicas, a única que me chamou a atenção foi Novamente. Lembrei-me que Ney Matogrosso gravara uma canção homonina no imprescindível CD Olhos de Farol. A principal característica desse disco foi a escolha de múltiplos autores, destacando-se os novos ou discretos talentos da música contemporânea brasileira.
Grande era a possibilidade de se tratar da mesma canção... Comprei o disco de Fred Martins e, na loja mesmo, detonei o lacre para conferir: era a mesma música que eu conhecera pela interpretação de Ney Matogrosso!
Lembrei-me então da forte impressão causada durante a primeira vez que ouvi Novamente, na voz de Ney Matogrosso. Fiquei agradavelmente surpreso pela forma como NM entoara:
"O céu de anil no polo sul
A dinamite no paiol
Não há limite no anormal
É quem nem sempre o amor
É tão azul"
Novamente é música de autoria de Fred Martins, bem como Flores, já gravada por Zélia Duncan:
"Flores para quando tu chegares
Flores para quando tu chorares
Uma dinâmica botânica de cores
Para tu dispores
Pela casa"
O disco contempla temas poéticos leves, sem serem bobinhos ou adocicados. Fred Martins divide a autoria de 11 das 12 músicas do CD Janelas (Suely Mesquita, Marcelo Diniz, Alexandre Lemos e outros).
O fluminense Fred Martins comparece neste Janelas - seu primeiro disco - vertendo bagagem musical há muito acumulada. Basta citar que Fred Martins foi responsável pelas transcrições dos songbooks de Rita Lee, Noel Rosa, Gilberto Gil, Tom Jobim, Chico Buarque, entre outros, lançados pela Editora Lumiar, de Almir Chediak. É pouco?
O rapaz é estudioso de teoria músical - entre outros assuntos -, mas nem por isso a erudição formal galgou espaço em sua obra. Nela predominam os arranjos para cordas (guitarra, baixo, viola e violinos), contando ainda com a discreta percussão de Marcos Suzano, e mais uma seleção inabalável de músicos e arranjadores.
Vale citar que alguns arranjos também foram escritos para naipes de sopros, que surgem através da habilidade de Nelson Oliveira, do maestro Vittor Santos e de outros. Trata-se de um disco acústico; as raras intervenções de recursos eletrônicos acontecem sobriamente.
A íntima proximidade da obra de grandes autores, adquirida durante a transcrição dos songbooks, refletiu solidamente enriquecendo a musicalidade de Fred Martins. Em Janelas, desfila repertório autoral, adequado a todos os ouvintes que buscam conhecer e desfrutar da música de mais um destaque especial desta boa safra da música contemporânea brasileira.
Se em algum tempo você apreciou a obra poético-musical destes mestres da música brasileira, transcritos em songbook por Fred Martins, sinta-se habilitado a conhecer sua música autoral em Janelas, trabalho cujo único padrão adotado foi o critério da diversificação na escolha e criação de tendências musicais de ponta.
Ney Matogrosso foi quem lançou a profecia: "Vocês ainda vão ouvir falar muito do talento de Fred".
Cá - embrenhado na floresta de elétro folhas do Digestivo Cultural - já estou a falar de Fred Martins, fornecendo assim minha contribuição à consolidação da profecia de Ney Matogrosso.
As Janelas de Fred Martins se de vinil fosse já teria furado(expressão da época 60). Presente do amigo paulista, esse disco tem lugar de destaque na minha cdteca. A música Tempo Afora é a que mais me toca seguida de Flores, Novamente e Uma simples canção. O Fred deve ter viajado muito de trem. Sinto isso em suas músicas.É o novo aí pra quem quiser ouvir música boa.
O trabalho do Fred Martins é de alto estilo e merece romper essa barreira que a indústria cultural impõe. Aqueles que conseguirem pular o muro e chegar até o trabalho do Fred certamente vão curtir o som. De primeira.