Perguntei-me outro dia o que os americanos têm, que nós, brasileiros, não temos em se tratando de cinema. Eis o que pesquei...
Pra início de conversa, eles têm dinheiro, nós temos vontade.
Eles arrecadam em dólar, nós em real.
Eles têm efeitos, nós temos palavras.
Eles têm equipes com miríade de profissionais, nós temos clãs que se perpetuam hereditariamente fazendo cinema, e com filmes de má qualidade.
Eles são profissionais da arte de entreter, nós sempre buscamos a arte de criticar.
Eles têm 90% do mercado mundial de cinema, nós não conseguimos nem 10% do nosso próprio mercado.
Eles têm Tarantino, nós temos Fernando Meirelles.
Eles tiveram Pulp Fiction, nós fizemos Cidade de Deus.
Eles têm Al Pacino, nós temos o Antônio Fagundes.
Eles têm público, nós queríamos ter público como eles.
Eles têm ambições imperialistas, nós temos o desejo envergonhado de ser como eles.
Eles têm o Oscar, nós lutamos (e até agora só perdemos) pra receber um deles.
Eles valorizam o Oscar, parece que nós o valorizamos mais ainda.
Nós tivemos o Sertão, eles tiveram o Velho Oeste.
Nós continuamos a ter o Sertão, eles já conquistaram o espaço.
Nossos filmes não são vistos lá, só os deles são vistos aqui.
Eles vêem o cinema como entretenimento, nós vemos como arte.
Cinema de diversão lá é festejado e considerado sucesso, se alguém ousa fazer aqui é massacrado e rotulado como “comercial”, pouco original e que cede às fórmulas hollywoodianas.
Nós vivemos do passado, eles vivem o presente.
Nós fazemos cinema de autor, eles fazem cinema de produtor.
Eles não entendem (e nem devem conhecer) Godard, nós o endeusamos.
Nossos filmes retratam fatos históricos, os deles reescrevem a própria História.
Eles têm preconceito contra filme estrangeiro, nós temos preconceito contra filme nacional.
Eles faturam US$ 30 bilhões com cinema por ano, nós sobrevivemos dos cofres do Governo.
Eles têm 36 mil salas exibidoras, nós não atingimos 1,8 mil.
Toda cidade americana, por menor que seja, tem uma sala, apenas 8% das cidades brasileiras tem cinemas.
Eles fazem mais de 300 filmes por ano, nós não chegamos a 30.
Eles têm estrelas de US$ 20 milhões que rendem 200 milhões, nó temos atores da Globo que, mesmo conhecidos, rendem alguns milhares de reais.
Vários atores deles vêm pra cá e são protagonistas, os nossos, quando vão, apresentam-se como coadjuvantes do coadjuvante.
Excelente o texto de Lucas Pires comparando as diferenças entre o Brasil e os EUA quando o assunto é o cinema. O artigo mostra com inteligência nossos próprios erros e acertos, com um toque de bom humor e muita crítica.
Gostei!!!