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Terça-feira,
18/2/2003
Prenda-me se for capaz
Clarissa Kuschnir
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Ele é piloto da Pan Am. Também médico e advogado. Todas as profissões que, para uma pessoa normal, custariam anos de esforço e estudo. Com Frank Abagnale, porém, isso é possível em apenas alguns dias; ou mesmo em algumas horas.
Frank Abagnale Jr é o verdadeiro nome de um personagem real, que, antes de completar 21 anos, conseguiu se passar por falsário, com seu charme e conversa, arrecadando nada menos que 4 milhões de dólares com cheques fraldados. Spielberg conseguiu levar sua história para o reino da ficção, em seu mais novo filme "Prenda-me se for capaz", estrelado por Leonardo DiCaprio (que faz o papel do charmoso falsário) e Tom Hanks (como o agente do FBI que persegue o protagonista o tempo todo).
Desta vez, Spielberg não precisou fazer uso de efeitos especiais e ficcção científica para chamar a atenção do público. "Prenda-me se for capaz" é muito melhor que seus dois últimos filmes. Melhor eu digo por causa do roteiro, da história do próprio personagem, que foi muito bem caracterizada por Leonardo DiCpario. O filme consegue ser divertido do começo ao fim.
De tanto que Frank Abagnale apronta deveria até causar raiva no público, exatamente por saber que no mundo há pessoas assim que aplicam golpes todos os dias. Mas o personagem envolve de um jeito sedutor (principalmente as mulheres). Abagnale viveu uma fantasia durante seus anos como falsário e arrumou uma legião de fãs (e de mulheres apaixonadas), até amigos, que se envolviam com ele e que nem de longe desconfiavam qual sua verdadeira identidade.
Em meio a todos os acontecimentos, há também um lado emocional vivido por Abagnale, que sente muito de ter seus pais separados (e ver o pai, Christopher Walken [concorrendo ao Oscar de melhor ator coadjuvante], ainda apaixonado pela mãe). Inclusive Abagnale começou a usar das mentiras depois que viu a relação de seus pais destruída. Resolveu não ficar com nenhum deles e sair pelo mundo, o que para ele seria a melhor solução .
De todos os estereótipos, o mais interessante foi o de piloto de avião. Spielberg mostrou exatamente o lado "glamouroso" da profissão, na década de 60. Também o figurino e os cenários foram muito bem reconstituídos pelo diretor.
Mas sem dúvida o ponto alto do filme é a relação entre Abagnale e o agente do FBI, Hanraty: que quando acha que encontrou o falsário acaba sendo enganado pelo próprio. São muitas as tentativas frustradas de Hanraty, que fica durante anos tentando agarrar Abagnale. O engraçado é ver as caras, bocas e situações do agente, que não desiste jamais e que sabe que uma hora ele vai estar de frente com Abagnale. Sem contar que Abagnale sempre ligava para Hanraty justamente no Natal, para lhe pedir desculpas e pedir para que o agente o deixasse em paz.
Desta vez, Spielberg acertou em cheio sem precisar usar de muitos artifícios. Conseguiu, igualmente, trazer para as telas do cinema uma história real, com dois astros de peso, que fazem de "Prenda-me se for capaz" uma divertida história com mais de duas horas de projeção. O filme não é longo e muito menos maçante, pelo contrário: o público vai sair satisfeito do cinema.
(A trilha sonora composta pelo veterano Jonh Willians concorre ao Oscar. "Prenda-me se for capaz" chega aos cinemas no dia 21 de fevereiro.)
Clarissa Kuschnir
São Paulo,
18/2/2003
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