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Digestivo 5 anos
Segunda-feira,
11/4/2005
Notas sobre o Digestivo Cultural
Fabio Silvestre Cardoso
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Coincidência? Sim, leitor, você não está enganado. Você já viu esse título antes e, o que é pior, neste mesmo espaço. Foi há quase dois anos que este colunista aqui estreou com um texto senão pretensioso, um tanto polêmico. Afinal, como recém-formado em jornalismo (à época, eu mal tinha o diploma), eu assinava o primeiro artigo de fundo sobre um tema em que, apesar de acompanhar com afinco, não tinha a mínima experiência. Em verdade, tinha tudo para dar errado, principalmente porque, como bem definiu o Editor, minha participação no Digestivo até aquele momento era como um franco-atirador, espezinhando colunistas aqui e ali (lembro até hoje de uma discussão, digamos, tensa com Jardel Dias Cavalcanti, que eu nunca cheguei a conhecer, sobre literatura... e eu me achando o máximo... ah, os jovens) e ironizar o Julio nos comments das notas. Então, quando o Julio me convidou para escrever, aceitei, mas já esperava que o texto fosse ser recusado. Mas, para minha surpresa, ele respondeu que iria publicá-lo. E não só: me convidava para ser colaborador, “aproveitando a qualidade do que você escreve”. Que lisonja. Nunca contei para ele, mas aqui vai a revelação, que para alguns pode soar piegas: foi o melhor presente de aniversário de 2003.
Quase dois anos depois, algumas resenhas, outros artigos, ainda vale a pena?, perguntam alguns amigos, que sabem da minha verdadeira devoção para o site. Se eles soubessem o quanto aprendi nesse tempo todo, eles não perguntariam isso.
Ítalo Calvino escreveu quatorze razões para explicar Por que ler os Clássicos. Eu não precisei de tantas assim para dizer porque gosto tanto de escrever para o Digestivo.
Escrever para o Digestivo é...
...ter em mente o compromisso de, a cada duas semanas, publicar um artigo, uma resenha ou, para os mais talentosos, um conto. No meu caso, fico com as resenhas. Decerto que na minha estréia, enveredei para um artigo, longo, sobre Jornalismo Cultural. Das poucas vezes que tentei ser cronista, o resultado, para mim, saiu forçado. Essa discussão, no entanto, é secundária: o fato é que, quinzenalmente, as Colunas estão lá.
...aprender que nem sempre nossas idéias são as mais originais do mundo; que é possível, imagine só, estar equivocado em relação a algum assunto; que nossas leituras são ínfimas mediante àquelas que nossos colegas, também Colunistas, fizeram. Listo apenas as mais recorrentes, mas as lições são inúmeras, pode acreditar, leitor.
...descobrir que o jornalismo é bem menos romântico do que se pensa, mesmo quando se tem a melhor profissão do mundo, a de leitor e resenhista (opinião minha, claro). Não tanto pela dificuldade, que existe, embora seja um obstáculo técnico, mas, principalmente, pelo culto à mediocridade que impera o jornalismo brasileiro. Sem corporativismo, leitor, olhe em volta e procure algum diário, revista ou site que faça uma cobertura cultural sistemática tal qual é feita no Digestivo Cultural. Se você encontrar, será a exceção que comprova a regra.
...conversar, diariamente, com o verdadeiro maestro dessa orquestra, Julio Da(r)io Borges, o artista do impossível. Ele me chamou, exagerado que só, de Billy Strayhorn. Não mereço. Se ele soubesse o quanto aprendi nesse tempo, o quanto melhorei como jornalista – e eu, que quando entrei, achava que teria algo a ensinar... se a média dos jornalistas tivesse a mesma obstinação e o mesmo talento que ele... os jornais, principalmente os cadernos de cultura, seriam melhores.
...ter uma variedade de companheiros colaboradores tão talentosos quanto amáveis (a palavra certa é essa mesmo). Déa, Lucas, LEM, Adriana, Dani, Ana E, Ricardo de Mattos e Edu, vocês são ótimos, saibam disso! É um prazer tê-los lado a lado, mesmo quando nossas idéias – ainda bem que isso acontece – não concordam umas com as outras. É mais uma chance de aprendizado.
...receber telefonemas, e-mails e cumprimentos de gente que você nem imaginava ser de carne e osso, como foi com Mino Carta no meu caso. Aqui no Digestivo, leitor, isso é corriqueiro: Paulo Henrique Amorim e Arthur da Távola já escreveram para a Andréa; Ruy Castro para o Luis Eduardo Matta; Roberto Pompeu de Toledo e Fabio Massari para o Julio Daio Borges; e Manhattan Connection para todo o site. E a fila anda, como dizem, sem mencionar as idéias fora do lugar. Não me refiro ao ensaio de Roberto Schwarz, mas, sim, à descarada absorção de idéias que você, leitor, viu/leu primeiro aqui.
Fabio Silvestre Cardoso
Segunda-feira,
11/4/2005
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