Era
uma vez o que parecia ser uma mailing list veio parar na minha
caixa postal do trabalho, contendo um ensaio escrito por alguém
que se apresentava como JDBorges. Acho que era sobre os 500 anos
de Brasil, um texto longo, interessante, opinativo, mas que não
deve ter tido muito efeito porque nem foi apagado nem eu pedi a minha
retirada de lista de endereços. Resolvi esperar e ver se vinha
mais de onde aquele saiu para decidir.
Veio. Eu continuava
achando muito curioso que alguém achasse importante eu ler aquilo
e resolvi retrucar só por implicância. O pretexto foi uma
frase que aparecia em todos os subjects: "para imprimir e, depois,
ler". Não poderia ser lido na tela, sem imprimir, e
poupando papel? Achei que era um bom ponto de partida. Foi. JDBorges
mordeu a isca foi substituído por um gentil Julio D. Borges numa
discussão que viraria papo franco algumas mensagens depois.
Apertando um pouco
a tecla do fast forward, eu descobri que Julio Borges tinha sido
colega de um amigo meu na faculdade, convidei-o para visitar minha moribunda
homepage sobre histórias em quadrinhos, ele me pediu um
texto e acabou publicando em sua página um antigo apanhado sobre
os beatniks (por conta do que recebo mensagens até hoje!)
que fizera a quatro mãos, até que no começo de
2001 (começar um projeto em pleno verão, parecia coisa
de paulista... e era.) o Julio - já havia intimidade suficiente
para chamá-lo assim - convida a mim e a mais uma penca de amigos
para escrever no Digestivo Cultural, a encarnação atual
da sua antiga coluna de ensaios. Ainda que formada em sua maioria pelo
que pareciam ser amigos entre si, entrar ali era como ir numa festa
em que só se conhece o dono da casa. Topei.
De lá para
cá foi uma prazeirosa e surpreendente troca de mensagens com
os outros Colunistas, um modo muito particular de conhecer e
descobrir par a passo, ou letra a palavra, cada um, afinal, os "Digestores"
foram a primeira comunidade francamente virtual de que fiz parte. Inclusive
mudei de opinião algumas vezes, aprendendo a conviver, a trocar
experiências, a interagir - sem necessariamente abrir mão
de seus princípios em prol de um todo. Meshing pot e não
melting pot.
(Nesse meio tempo
deu até para ir a São Paulo e conhecer a turma pessoalmente,
aquela colunista que era uma gata na foto, aquele colunista que adorava
os meus escritos, aquele outro que me impressionou desde o primeiro
texto, aquele contra quem eu cultivava uma saudável implicância,
enfim, satisfazer aquela curiosidade típica de quem faz amigos
remotos.)
De vez em quando
eu também me flagro pensando em termos da turma do Digestivo,
do quanto isso toma minha atenção e meu tempo e em como
eu estaria sendo chato com os amigos não-virtuais em falar repetidamente
nessa turma que eles não conhecem nem lêem, e que eu pareço
tratar como se os conhecesse há anos... Obrigado, Julio, pela
oportunidade; obrigado, amigos colunistas e leitores, pelo convívio.