Sílvio Santos comemorou os 25 anos de sua emissora ao lado do Bozo, do Chavez, do Chapolin e do ex-jornalista Ricardo Valladares – que, nas colunas amigas, é mencionado, na condição de “vice-presidente de programação”, como “o braço direito” do patrão.
Em conformidade com o momento que o SBT está vivendo, foi um épico circense. SS, de camiseta negra e uma expressão que é por si só um risonho tributo às mil possibilidades do bisturi, quis, em menção nada alegórica, agradecer publicamente aos personagens que conferiram à emissora aquele padrão de inteligência de que ela, um quarto de século de vida, pode se orgulhar.
Valladares, ao contrário dos três palhaços, é uma aquisição recente. Exercia alhures a condição de autoridade propensa semanalmente a decretar o certo e o errado, o ótimo e o péssimo, o relevante e o desprezível. Escrevia sobre televisão. Depois de uma entrevista em que Sílvio Santos era tratado como se fosse Jean-Paul Sartre, trocou de emprego. Da revista do milhão ao show do milhão.
Em pouco mais de quatro meses de SBT, aquele know-how disfarçado em intolerância produziu um resultado muito acima do esperado: conseguiu levar a emissora do patrão do inabalável segundo lugar para um periclitante terceiro. Ao ser inapelavelmente ultrapassado pela Record, o patrão agradeceu: “Melhor assim. Segundo lugar obriga a investir muito dinheiro”.
O superassessor de SS confidencia para os coleguinhas que, de tão poderoso, o apelido dele na casa é, agora, “governador Valladares”. Seu poder se expressa no direito de andar no elevador privativo do dono – elevador que o próprio dono, no entanto, se dispensa de usar. Tem também o privilégio de fiscalizar o horário de chegada dos funcionários (Dado Dollabella, o astro da novela Cristal, é o atual alvo daquelas simpáticas advertências via oficial de justiça).
Não dá para condenar Sílvio Santos e sua emissora se, aos 25 anos de convívio, decidiram firmar um pacto suicida com o fracasso. É até compreensível que SS esteja cansado de brincar de SS. A posteridade não lhe interessa. Ele não parece disposto a deixar nenhum exemplo edificante para o futuro – e, menos ainda, alguma herança para a família.
Enquanto isso, SS investe na sistemática dizimação moral e profissional de todo mundo que trabalhe com ele – a começar por suas estrelas. O Ratinho e o Jorge Kajuru, que são a cara do SBT, acabam de ir para a geladeira – ou para o crematório, sabe-se lá. De vez em quando, alguém se condói. Exilada nas trevas do sábado, Hebe Camargo pôde comemorar a volta do divã dos pobres ao seu horário das segundas-feiras. O assessor espalhou que a decisão foi dele.
Sílvio Santos é um tirano à moda antiga. Nunca entendeu o significado de palavras como "elegância", "simpatia", “gentileza”. O séquito, por mais que simule ações prestativas e originais, está ali exclusivamente a serviço do ego do self-made-man. Com o vozeirão de ventríloquo, o chefão ordena, os subalternos obedecem.
Nota do Editor
Texto gentilmente cedido pelo autor. Originalmente publicado na revista Carta Capital de agosto de 2006.
É, o Nirlando tem que entrar em contato com o Sílvio e fazer uma proposta para comprar o SBT. Quem sabe ele com todo seu potencial como crítico não está no ramo errado... Na realidade não temos mais tv aberta, toda programação é ruim.
Gostei do "tirano à moda antiga". Até porque existe uma safra de tiranos pós-modernos com discurso de "garantia de direitos" - sempre para o público externo é claro -, e desrespeito e chibatadas para os domésticos. Mas não muda nada: tirano é tirano e pronto.
É verdade. A programação do SBT é chatíssima, falando para simplificar nos adjetivos. Será que existe possibilidade de melhora? Não sei... afinal, o primeiro e o segundo lugares são tão melhores em quê?