No início do mês o texto do Julio intitulado “Publicar em papel? Pra quê?” gerou comentários apaixonados e reacendeu em mim uma questão que vi na minha vida profissional afora (e sem nenhuma conexão com o mundo dos livros).
Sou jornalista há mais de uma década e atuei de vários lados do balcão, como se costuma dizer na área. Fui de repórter, em redação de jornal, a assessora de imprensa trabalhando em agências de comunicação. Produzi e editei conteúdo para Web e ainda participei de equipes de comunicação dentro de empresas. Vi a bolha nascer, crescer e estourar. Fui da turma que precedeu as equipes de Internet, saindo para cobrir eventos para o jornal e voltando rapidinho para dar uma nota para o site. Participei de reuniões em que se investigava como investir em propaganda na rede e como tratar o meio como um canal efetivo de comunicação com o mercado, clientes, parceiros...
Neste mundo de erros e acertos, alguns aprenderam mais que outros. E é notório o caso de comunicadores que não sabem lidar com as possibilidades da rede. Uma crítica muito adequada aos blogs de jornalistas já foi feita aqui e não é a única e nem será a última.
Mas sabe o que é comum à redação, ao mercado corporativo, agência de comunicação e mesmo entre as pessoas comuns, como a minha mãe, que adora fazer cadernos de recortes com as minhas matérias? O preconceito com a rede e seu potencial. Só escapam mesmo os profissionais que “respiram” Internet. A coisa toda já começa com a minha mãe, que prefere sim ter em mãos uma revista ou jornal a algo que não se pode tocar e, quando impresso, “fica horrível”. Nas empresas, mesmo as de Internet (tenho exemplos!), executivos analisam a imagem na imprensa e minimizam a importância do que sai nos sites noticiosos. Nos blogs então, nem pensar. Lembro-me de um cliente que pedia para retirar do relatório mensal de recortes de notícias a respeito da empresa todo o material que tivesse saído na rede. Este ele preferia nem ver contabilizado ou analisado. O ano? 2006!
Claro que nem toda liderança empresarial pensa assim. Fiquei surpresa, inclusive, ao saber que até estratégias de comunicação especialmente para blogueiros têm sido estruturadas e implementadas. Mas não é o comportamento comum, como reclamam colegas blogueiros e jornalistas com freqüência assustadora. Clientes preconceituosos (sim, por que muitas vezes a Internet é o melhor veículo para fazer uma mensagem chegar até os seus públicos-alvos) moldam as estratégias de comunicação, fazendo com que assessores invistam menos no meio e que os jornalistas da área fiquem sem contar com o apoio de que necessitam. Veja relatos de profissionais sobre o assunto aqui.
Venda de publicidade na área é outra questão sensível. Poucos sacam que a Internet dá sim resultado, quando for o veículo adequado para a campanha e tendo seu funcionamento e perfil de público respeitados. É claro que existem os grandes alardes em volta de virais, participações de grandes marcas no Second Life e compra de agências interativas por gigantes do mercado. Mas o grosso do investimento em publicidade no Brasil ainda ocorre de maneira tradicional. Nada que se compare com o desempenho no mercado americano. Sobre isto, tem gente falando com propriedade aqui e, para quem quer se aprofundar, de novos métodos de mensuração de iniciativas na Web neste podcast.
Sim, a penetração da Internet no Brasil ainda é pequena. Mas o público é seleto. Facilmente identificável e atento. Para realização de pesquisas qualitativas, por exemplo, é um meio excepcional, que oferece baixo custo, facilidade de uso e resultados rápidos.
Então por que a Internet não é um fator importante para o executivo que ignora as notícias on-line, para o outro que desfaz da força dos blogueiros em certos nichos que eles fazem a diferença? Percebam, falo de empresas que precisam dialogar com um público que já está na rede. Não discuto aqui a grande massa excluída.
São muito influenciados pela era do papel? Sim, mas vivem o “aqui e agora” em que toda uma nova geração é fruto da rede. Já existem pesquisas que mostram a relação dos consumidores de conteúdo com as novas tecnologias, novos serviços de acompanhamento das marcas na rede nascem, assim como pesquisas para quem quer desenvolver produtos de comunicação adequados a audiências particulares na rede.
Enfim, toda uma movimentação feita hoje para quem está atento e procurando se adequar ao que o mercado exige.
O que impede, então, a aceitação? São todos péssimos administradores que não percebem como a mudança é inevitável? Acho improvável. É difícil a adaptação a um mundo jovem e de velocidade impensável anos atrás? Sim, mas não impossível. Muita gente comum e mais velha, ainda com receio da net, quando devidamente motivada, se aventura e muitas vezes passa a valorizar as facilidades conquistadas, como a redução no custo de contas telefônicas pelo uso do Skype.
O que é então? Arrisco um palpite: medo. Pânico deste ambiente aberto que não é uma via de comunicação de mão única e sim um espaço de conversações; horror desta área que tem múltiplos produtores de conteúdo e permite a replicação de temas, a proliferação de memes, os desdobramentos de conteúdo. Pavor do aspecto subversivo que a Internet tem e que surpreendeu a todos, como filho “bem-educado” que chega em casa um dia e faz valer as suas escolhas e mostra sua real personalidade. Nestes casos, melhor ignorar do que ter que lidar, decidem alguns. E já que estamos na Internet: O que você acha?
Como todo bom senhor de idade, o mercado teme o novo. Não que o ignore, ele faz que ignora mas não ignora. Teme! Pois neste mercado movido a bilhões muita gente perde dinheiro por deixar de apostar ou por apostar. Isso dá uma certa idéia ao investidor que o mercado "tradicional", por ser conservador, é mais maleável e mensurável. Acho que alguém pensa duas vezes em investir em internet e nos seus recursos por ver nela juventude demais. Isso como uma qualidade ruim, imagino. Os defeitos de um espírito jovem são automaticamente refletidos num ambiente volátil, pouco confiável, com publico alvo voltado apenas para produtos de baixo valor agregado. Vende-se tênis Nike, mas não máquinas que produzem tênis Nike. Possivelmente um grande manufacturer de máquinas pesadas tem lá seu site, mas o faz de forma apenas intitucional, sem se aprofundar na potencialidade deste recurso. A mentalidade só amadurecerá com a renovação dos homens sentados nas cadeiras de encosto alto, nas grandes empresas.
Gostaria de colocar três coisas sobre o debate a respeito da Internet: 1)Concordo com George Gilder, que vislumbra a convergência da indústria de computadores com a indústria da televisão do mesmo modo que o automóvel convergiu com o cavalo. Para Gilder, “o computador não veio para transformar a cultura de massas, mas para destruí-la”. 2)Também concordo com Manuel Castells, quando fala que vivemos uma revolução informacional. Não é moda, é fato. As redes digitais estão penetrando em nosso cotidiano, tal como a energia elétrica penetrou na vida das cidades no final do século XIX. A diferença é que as novas tecnologias são tecnologias da inteligência. 3)Os principais embates do século XXI serão em torno das enormes possibilidades de compartilhar cultura e conhecimento (jamais vistas antes das redes informacionais) e as tentativas de apropriação privada das idéias pela negação de acesso.
O tempo mostrará, e já tem mostrado, que a Internet veio para ficar. Aliada à mídia impresa é, sim, um excelente meio de vender idéias e produtos. Logo todo empresário "esperto" saberá desta verdade, e aí, sim, os investimentos em divulgar suas marcas/produtos na grande rede serão maiores.
De fato... Assim foi com o controle remoto, o celular e tudo o que é tecnologia, primeiro a resistência e depois a compreensão e utilização. É como a relação entre a pintura tradicional e a Pintura por Computador (a exemplo do artista brasileiro premiado este ano na Academia de Ciências, Letras de Artes de Paris, www.celitomedeiros.com); Como conseqüência o convite para expor no LOUVRE - um reconhecimento à altura desta nova ferramenta, o computador e o mouse-pincel. O mesmo se deu pela Internet o conhecimento sobre Morris Albert, o brasileiro que mais vendeu discos na história deste país (Só com FEELINGS 180 milhões de discos) e que poucos sabem. Sds, Gal