Levantamento do jornal The Salt Lake Tribune indica que ao menos 55 críticos de cinema foram demitidos ou mudaram de área na imprensa americana desde 2006. O dado, citado em reportagem na edição dominical do New York Times, ilumina um aspecto da crise que afeta os jornais americanos e, em particular, ajuda a compreender uma mudança significativa que vem ocorrendo na relação de Hollywood com a imprensa.
O New York Times dedica-se a tentar entender a perda de importância dos jornais ― e o crescimento da influência dos blogs ― no processo de divulgação dos filmes pelos grandes estúdios. O sinal mais aparente deste fenômeno ― importante pelo volume de recursos que Hollywood movimenta em marketing ― é que os jornais contribuem cada vez menos com aquelas publicidades repletas de frases retiradas de críticas.
Uma das mais antigas ferramentas de marketing de um filme, a citação tirada de uma crítica de cinema (coisas como "eletrizante" "imperdível", "muito engraçado", "ri do início ao fim") já foi motivo de muita polêmica. Há alguns anos, descobriu-se que um estúdio, a Sony, havia publicado um anúncio com uma frase inventada, dita por um crítico que não existia. Também é comum tirar palavras ou frases de contexto, mudando o sentido do que o crítico quis dizer para realçar qualidades inexistentes de um filme.
O que inquieta o New York Times agora é o fato de que os grandes estúdios de Hollywood preferem recorrer a críticas publicadas em blogs do que em jornais. Escreve o diário:
"Os seis grandes estúdios gostam de ir à internet em busca de frases para usar em publicidade porque há uma variedade muito grande de sites de onde tirar a palavra ou a frase certa. Alguns sites, é claro, são sérios. Outros, incluindo sites como Ain't It Cool News, não fazem segredo do seu olhar de 'animador de torcida' em relação a alguns gêneros de filmes".
Em outras palavras, raciocina o New York Times, os estúdios preferem recorrer a sites e blogs porque eles tratam os filmes de forma mais generosa e complacente que os jornais. O grande diário americano está, evidentemente, fazendo uma generalização injusta, já que há também muitos críticos em jornais que funcionam mais como "animadores de torcida" do que, propriamente, como analistas sérios e isentos.
Em todo caso, dois entrevistados do jornal reforçam a tendência de recorrer a sites e blogs no lugar dos jornais na leitura das críticas de cinema. Um vice-presidente da Universal, Michael Moss, diz ao jornal: "Alguns dos melhores críticos de cinema e a maioria das boas críticas são encontradas on-line".
Já Mike Vollman, presidente de marketing da MGM e United Artists, afirma que vai preferir se basear mais em blogs do que na revista Time para promover o remake do filme Fama. "A realidade, e lamento dizer isso para você, é que os jovens que vão ao cinema são mais influenciáveis por um blog do que por um crítico de jornal".
A reportagem, em resumo, confirma as previsões mais pessimistas dos que enxergam na revolução promovida pela nova mídia um sinal de empobrecimento e decadência cultural. Ainda assim, o próprio New York Times reconhece que há sites "sérios", publicando textos sobre cinema com o mesmo grau de rigor que os jornais ditos de prestígio.
E o Brasil? ― algum leitor perguntará. O problema, ainda que em grau menor, até porque a indústria de cinema nacional é minúscula comparada a Hollywood, já aparece por aqui. Ainda estamos, pelo que observo, numa etapa anterior. Há um crescimento impressionante de sites e blogs dedicados ao cinema, mas o mercado ainda observa com desconfiança, procurando entender ― e separar o joio do trigo de toda essa movimentação. Em todo caso, é possível observar que alguns produtores já utilizam frases retiradas de sites e blogs para divulgação de seus filmes.
Nota do Editor
Texto gentilmente cedido pelo autor. Originalmente publicado no blog de Mauricio Stycer, que integra o portal iG, em 08 de junho de 2009.
Bem, devo dizer que, se quero ver um filme - ou quando me interesso por qualquer produto da mídia -, não me fio por comentários de críticos, isso porque os comentários são, em sua grande parte, desprovidos de conhecimento do assunto a que se refere o filme. Vê-se este infeliz fenômeno nos não tão novos ramos de entretenimento que são as animações e ficção científica. São comentários desalentadores emitidos por pessoas que talvez só gostem de cinema europeu (que eu adoro), mas que se sentem aviltados em seu mais profundo âmago quando têm que assistir algo um pouco diferente... Depois de ver comentários imbecis aos montes eu decidi ouvir a única voz que deve ser ouvida: a voz da minha consciência!
Existe um crítico para cada gosto. Afinal, precisamos nos sentir seguros daquilo que escolhemos, não? Ou entender o que nossos pares estão fazendo para repetirmos. Profundidade? Quem dera...
E cito: "O artista é o criador de coisas belas. Revelar a arte e ocultar o artista é o objetivo da arte. O crítico é aquele que sabe traduzir de outra maneira ou com material diferente a sua impressão das coisas belas. A mais alta, assim como a mais baixa, forma de crítica é uma autobiografia. Aqueles que encontram feias significações nas coisas belas são corruptos sem serem encantadores. É um defeito. Aqueles que encontram belas significações nas coisas belas são cultos. Para esses há esperança." (O Retrato de Dorian Gray - Oscar Wilde) Portanto, sigo: sem comentários...!