O historiador das idéias | Pedro Maciel

busca | avançada
85352 visitas/dia
1,7 milhão/mês
Mais Recentes
>>> Drama da pandemia em Manaus é tema da peça Desassossego
>>> 14º Rio Festival Internacional de Cine LGBTQIA+
>>> Lenna Baheule ministra atividades gratuitas no Sesc Bom Retiro
>>> “Carvão”, novo espetáculo da Cia. Sansacroma, estreia no Sesc Consolação
>>> “Itália Brutalista: a arte do concreto”
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> Literatura e caricatura promovendo encontros
>>> Stalking monetizado
>>> A eutanásia do sentido, a poesia de Ronald Polito
>>> Folia de Reis
>>> Mario Vargas Llosa (1936-2025)
>>> A vida, a morte e a burocracia
>>> O nome da Roza
>>> Dinamite Pura, vinil de Bernardo Pellegrini
>>> Do lumpemproletariado ao jet set almofadinha...
>>> A Espada da Justiça, de Kleiton Ferreira
Colunistas
Últimos Posts
>>> O coach de Sam Altman, da OpenAI
>>> Andrej Karpathy na AI Startup School (2025)
>>> Uma história da OpenAI (2025)
>>> Sallouti e a história do BTG (2025)
>>> Ilya Sutskever na Universidade de Toronto
>>> Vibe Coding, um guia da Y Combinator
>>> Microsoft Build 2025
>>> Claude Code by Boris Cherny
>>> Behind the Tech com Sam Altman (2019)
>>> Sergey Brin, do Google, no All-In
Últimos Posts
>>> Política, soft power e jazz
>>> O Drama
>>> Encontro em Ipanema (e outras histórias)
>>> Jurado número 2, quando a incerteza é a lei
>>> Nosferatu, a sombra que não esconde mais
>>> Teatro: Jacó Timbau no Redemunho da Terra
>>> Teatro: O Pequeno Senhor do Tempo, em Campinas
>>> PoloAC lança campanha da Visibilidade Trans
>>> O Poeta do Cordel: comédia chega a Campinas
>>> Estágios da Solidão estreia em Campinas
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Fim dos jornais? Desconfie
>>> Blogwise
>>> Site de Rafael Sica
>>> Reid Hoffman por Tim Ferriss
>>> Suspense, Crimes ... e Livros!
>>> Entrevista com Chico Pinheiro
>>> Mi casa, su casa
>>> Produtor Cultural Independente
>>> Descobrindo David Goodis
>>> Somente para quem quiser (souber?) sonhar
Mais Recentes
>>> As Melhores Crônicas de Fernando Sabino pela Record (2000)
>>> Ler, Escrever E Fazer Conta De Cabeça de Bartolomeu Campos De Queiros pela Global (2004)
>>> Bairro Vivo Sul - São Paulo Nasce Nos Bairros de José Police Neto pela Cia dos Livros (2013)
>>> A Ridicula Ideia De Nunca Mais Te Ver de Rosa Montero pela Todavia (2019)
>>> Os Donos Do Inverno de Altair Martins pela Editora Dublinense (2019)
>>> Pedro Pedra de Gustavo Bernardo pela (1998)
>>> Tese E Antítese de Antonio Candido pela Ouro Sobre Azul (2012)
>>> Interdisciplinaridade. Qual O Sentido? de Ivani Fazenda pela Paulus (2003)
>>> Razão E Sensibilidade de Jane Austen pela Best Bolso (2011)
>>> Juca Mil-Perguntas de Antonis Papatheodoulou - Iris Samartzi pela Carochinha (2020)
>>> Metodologia Científica do Treinamento Desportivo 8ª edição. de Manoel José Gomes Tubino pela Ibrasa (1989)
>>> Kit com 2 livros: The Last Temptation + Creatures Of The Night de Neil Gaiman, Michael Zulli pela Dark Horse (2005)
>>> Na Praia E No Luar, Tartaruga Quer O Mar (11º edição - 7º impressão) de Ana María Machado pela Ática (2014)
>>> A Infância De Ana Maria Machado de Carla Caruso pela Callis (2021)
>>> A Lenda Dos Dinossauros de Anderson De Oliveira - Walter Lara pela Abacatte (2017)
>>> A Coruja Que Me Contou - As Histórias Mais Curiosas Da Natureza (capa dura) de Lulu Lima - Jana Glatt pela Mil Caramiolas (2017)
>>> As Aventuras De Pedro Coelho (capa dura) de Beatrix Potter pela Companhia Das Letrinhas (2015)
>>> Bia Na Ásia (2º edição - 1º impressão) de Ricardo Dreguer pela Moderna (2020)
>>> Uma Amizade (im)possivel - as aventuras de pedro e auke no brasil colonial de Lilia Moritz Schwarcz pela Companhia Das Letrinhas (2021)
>>> Um Sáculo De Histária Das Artes Plásticas Em Belo Horizonte de Marilia Andres Ribeiro, Fernando Pedro Da Silva pela Fundação João Pinheiro (1997)
>>> Diamantina um espaço-vivo de Cláudia R. Vial Ribeiro pela Artear (2015)
>>> O Cinema Em Cartaz de Rubens Fernandes Jr./ Maximo Barro pela Fundação Armando Alvares Penteado (2025)
>>> Mustafá de Marie-louise Gay - Gilda de Aquino pela Brinque-book (2019)
>>> Formacao Do Brasil Contemporaneo de Caio Prado Jr. pela Companhia Das Letras (2011)
>>> Cenas Da Abolição de Joseli Maria Nunes Mendonça pela Fundação Perseu Abramo (2007)
ENSAIOS

Segunda-feira, 11/11/2002
O historiador das idéias
Pedro Maciel
+ de 10900 Acessos

Otto Maria Carpeaux, em Ensaios Reunidos, graças à erudição, ao conhecimento de tantas literaturas, criou um jogo poético para descrever em ensaios breves a história da literatura universal. Ensaios Reunidos (Topbooks/UniverCidade Ed), composto por "A Cinza do Purgatório" (1942), "Origens e Fins" (1942), "Respostas e Perguntas" (1953), "Retratos e Leituras" (1953), "Presenças" (1958) e "Livros na Mesa" (1960), é o primeiro volume de um intelectual universalista que tinha domínio da história das idéias e da arte da dialética. São textos críticos que falam sobre autores estrangeiros e nacionais, estudos de obras de alguns dos mais importantes nomes da literatura brasileira contemporânea.

Carpeaux, Sérgio Buarque de Holanda e Antonio Candido, formam a tríade exemplar da crítica literária brasileira. Segundo Alfredo Bosi, "Carpeaux atravessou a crítica positivista, a idealista, a psicanalítica, o new criticism, a estilística espanhola, o formalismo, o estruturalismo, a volta à crítica ideológica". E prossegue: "Mas, educado junto aos culturalistas alemães e italianos do começo do século, ele sabia que nada se entende fora da História".

É notável a naturalidade com que Carpeaux discorre sobre estética, filosofia, política, história. Doutor em ciências exatas, letras e filosofia, o autor da História da Literatura Ocidental, era uma espécie de ensaísta literário que escrevia com clareza, numa linguagem corrente, de fácil entendimento para o leigo.

Criador de um estilo, segundo o crítico Álvaro Lins, "vivo, preciso e ardente. Às vezes enérgico e áspero. Nestas ocasiões, sobretudo, este estilo está confessando um temperamento de inconformista, de planfetário, de debater. O temperamento de um homem que, monologando ou dialogando, está sempre numa atitude de luta: ou a luta interior, consigo mesmo, ou a luta exterior, com os seus adversários".

E o crítico teve muitos adversários literários e políticos. Nascido na Áustria, viveu uma desventura pessoal na época da Segunda Guerra. Carpeaux foge da Alemanha nazista para a Bélgica e, em 1939, muda-se para o Brasil. Em 1940 começa a escrever no jornal Correio da Manhã. Seus apontamentos literários e políticos geraram acusações por parte da esquerda e da direita.

Carpeaux desafiava as convenções históricas e literárias. Pode ter errado em algumas análises, como por exemplo, ao criticar Thomas Mann, "um pensador confuso, o maior dos escritores de segunda ordem (...) um grande estilista, na significação menos boa da palavra; ele estiliza tudo e ao seu estilo também. Estilista de primeira ordem, com as virtudes estilísticas da época burguesa: irônico, espirituoso, sentimental, psicológico, analítico. Um Nietzsche disfarçado de Flaubert".

Ou quando critica Goethe, que "não compreendeu o maior acontecimento literário do seu tempo, o romantismo. Depois de ter experimentado, em vão cativar os seus contemporâneos com a fórmula classicista, ele trai a arte, para abraçar as ciências naturais e enriquecê-las com as suas descobertas duvidosas e as suas fantasias arbitrárias".

Acertou em muitas leituras, principalmente quando discorre sobre a poesia brasileira. Manuel Bandeira, Murilo Mendes, Augusto dos Anjos e Drummond, entre outros, foram contemplados com ensaios memoráveis; textos de um crítico que tinha cabeça de poeta.

Segundo o crítico-poeta, "das paisagens do espírito, a poesia é a mais misteriosa: porque é tão familiar e, ao mesmo tempo, muito remota. No território lírico sentimo-nos como em casa, uma paisagem povoada por nossas próprias emoções. Mas, embora percorrendo-a no ritmo das pancadas do coração, é permanente o perigo de perdermos o caminho..."

A leitura de Ensaios Reunidos oferece-nos muitas surpresas em relação a autores clássicos, como Homero, Shakespeare, James Joyce ou Albert Camus. Ítalo Calvino diz que "o clássico não necessariamente nos ensina algo que não sabíamos; às vezes descobrimos nele algo que sempre soubéramos (ou acreditávamos saber) mas desconhecíamos que ele o dissera primeiro..." Muitos ensaios de Carpeaux revelaram pela primeira vez a importância de uma obra ou de um autor para a literatura contemporânea.

Dedicar algum tempo à leitura dos ensaios de Carpeaux é percorrer o infinito mapa da história da humanidade. Os ensaios, artigos e estudos nos fazem entender o tempo imemorial, apesar de estarmos condenados à atualidade. Carpeaux, um dos últimos humanistas, é um escritor de todos os tempos; marca o início do apogeu do ensaio literário brasileiro, que teve um começo tão exemplar.

Telegramas Carpeauxianos
"Realmente, Homero tornou-se alheio ao nosso mundo. Já há séculos que não se escrevem epopéias, e, para dizer a verdade, escreveram-se sempre apenas epopéias virgilianas. E assim como a forma exterior se tornava obsoleta, a expressão verbal e os assuntos homéricos se transformavam em lugares-comuns da literatura universal. A menção de Homero, na enumeração dos maiores poetas, é uma convenção usual dos letrados ou, pior, uma mentira na boca daqueles que dele não leram nunca uma linha."
("O sol de Homero")

"No fim da tragédia, Édipo e seu povo e nós outros sabemos o que aconteceu. 'Dizer o que foi e o que é': a obra de Sófocles é expressão desse realismo tipicamente grego. Não devemos confundir esse realismo moderno, que só conhece o ambiente social e os impulsos da alma humana. O realismo grego refere-se ao Universo inteiro, com seus deuses, que são deuses bons e deuses maus, que mandam aos homens a felicidade e a desgraça das quais se compõem o destino e a vida inteira. O realismo grego sabia que o mundo existe e que aqueles deuses existem e que, às vezes, elevam o homem e, outra vez, o derrubam assim como derrubaram Édipo ou Hölderlin ou, se quiserem, Rimbaud. É essa ira dos deuses que inspira ao mundo humano o luto doloroso de que se fez porta-voz o poeta Sófocles."
("A verdade sobre Édipo")

"Mas o que é um profeta? Um homem inspirado por Deus? Ou simplesmente o portador duma verdade que os homens não querem ouvir? Uma definição, mais e menos ampla ao mesmo tempo, diria: um profeta anuncia a uma situação temporal uma verdade eterna. Nietzsche não era um inspirado de Deus nem um sábio que tem razão contra seu tempo. Era menos e mais. Tinha uma verdade existencial a proferir, como Jeremias antes da destruição do templo, como Isaías antes do advento do Messias. O templo de Nietzsche foi destruído, e o messias 'super-homem', com que sonhava, veio. Mas a profecia não pode ser entendida antes do seu cumprimento. Nietzsche não foi mal entendido; ele não podia ser entendido antes do tempo, que é o tempo presente. Nisto reside a sua qualidade profética. Para nós outros, já é tempo de situá-lo no seu tempo passado, para melhor compreender o nosso tempo presente."
("Nietzsche e as conseqüências")

"Os romances de Graciliano Ramos são experimentos para acabar com o sonho de angústia que é a nossa vida. Uma lenda budista conta dum homem que correu, ao sol do meio-dia, para fugir à sua sombra que o angustiava; correu, correu, sempre perseguido pelo companheiro sinistro, até que encontrou o grande Sábio, que lhe disse: _ 'Não continues a fugir! Assenta-te sob esta árvore!' E como ele parou, a sombra desapareceu. A sombra sobre o mundo de Graciliano Ramos não é a sombra da árvore da salvação, mas a do edifício da nossa civilização artificial _ cultura e analfabetismo letrados, sociedade, cidade, Estado, todas as autoridades temporais e espirituais, que ele convida ironicamente _ no começo de São Bernardo _ a colaborar na sua obra de destruição. Mas eles mostram-se incapazes de cometer o suicídio proposto. Entrincheiram-se na 'dura realidade', imposta a todas as criaturas do Demiurgo, e que se arroga todos os atributos da eternidade. O romancista, porém, não se conforma. Transforma esta vida real em sonho _ pois do sonho, afinal, se acorda."
("Visão de Graciliano Ramos")

"Drummond, inconformista irredutível, é o mais solitário dos homens. É prisioneiro da sua aura interior de isolados objetos de lembrança que o pulsar do coração da sua poesia vivifica. Pulsar do coração, assincrônico com os ruídos do mundo exterior; não chega a vivificar as criaturas e objetos de fora que aparecem, na poesia de Drummond, como seres isolados, cada um prisioneiro da sua atmosfera morta, e que olham o poeta com as pupilas instantes da criatura muda, todos eles 'guardando o segredo que todos sabem... que esta vida não presta.'"
("Fragmento sobre Carlos Drummond de Andrade")

Nota do Editor
Texto gentilmente cedido pelo autor. Publicado originalmente no Caderno "Idéias" do Jornal do Brasil, a 18 de setembro de 1999.


Pedro Maciel
Belo Horizonte, 11/11/2002
Mais Pedro Maciel
Mais Acessados de Pedro Maciel
01. Italo Calvino: descobridor do fantástico no real - 8/9/2003
02. A arte como destino do ser - 20/5/2002
03. Antônio Cícero: música e poesia - 9/2/2004
04. Imagens do Grande Sertão de Guimarães Rosa - 14/7/2003
05. Nadja, o romance onírico surreal - 10/3/2003


* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site

Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Historias De Horror Um Unico Livro Autores Ed. 2012
Vários Autores
Fisicalbook
(2012)



O Teatro na Educação Artística
Luiza Barreto Leite / N. Lima / D. B. Leite
Achiamé
(1980)



Livro Programa de Treinamento Para Memória Concentração Criatividade
Concentração Criatividade Gunther Beyer
Edições de Ouro
(1979)



Contes et Legendes des Pays Celtes
Jean Markale
Ouest-france
(1995)



Clima E Meio Ambiente
Jose Bueno Conti
Atual
(2020)



Rio Botiquim 2001 50 Bares
Vários Autores
Casa da Palavra
(2001)



Guia conhecer fantástico Hitler 473
Guia conhecer fantástico Hitler
Sem



Livro Literatura Brasileira Os Dias Lindos Crônicas
Carlos Drummond de Andrade
José Olympio
(1977)



Gerenciamento de Projetos
Carlos Magno da Silva Xavier
Saraiva
(2009)



Livro Gibis Já Fomos a Liga da Justiça Quer Viver Bastante? Não Mexe com a Mary Marvel! Nº2
Dc
Panini Comics
(2004)





busca | avançada
85352 visitas/dia
1,7 milhão/mês