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Segunda-feira, 20/9/2010
Diga: trinta e três
Antonio Prata
+ de 9700 Acessos
+ 7 Comentário(s)


Ilustra: o urso azul

Trinta e três. Quem diria. A adolescência foi na última quinta, ainda há resquícios dela na estante de CDs, no seu vocabulário, num canto do armário ― uma camisa xadrez que não vê a luz do sol desde um show do Faith no More, em 1997 ―, mas são resquícios. Vez ou outra você está no supermercado, comprando saco de lixo, queijo minas light e amaciante e vê uma turma de garotos e garotas carregando garrafas de Smirnoff Ice e sacolas de Doritos. Você olha para as franjas lambidas dos meninos, para os piercings das meninas e percebe, meio assustado, que aquele é um mundo distante. Sente alguma vergonha do seu carrinho.

Diga, trinta e três: trinta e três. Diga: o que você fez? A essa altura da estrada, uma parada é inevitável. Você desce do carro, contempla a vista do mirante. Não é um olhar para trás, como devem fazer os velhos, ao fim da vida ― ou devem evitar fazê-lo, dependendo ―, mas um olhar em volta: isso aqui sou eu. Daqui pra frente, não vai mudar muito, vai? Já deu tempo de descobrir que você não é um gênio da matemática, nem um fenômeno da ginástica olímpica.

Trinta e três anos. A idade de Cristo, alguém diz, e você logo pensa, repetindo um dos cacoetes de sua faixa etária: o que ele já tinha alcançado, com a minha idade? Bom, tinha transformado água em vinho, multiplicado peixes e pães, andado sobre as águas, levantado defuntos e conquistado uma multidão de fiéis em toda Judéia, Galiléia, Samaria, Efraim e arredores. E você, que não tem nem casa própria? Bom, também, naquele tempo era mais fácil ― você tenta se consolar ―, não tinha tanta concorrência e, oras, o cara era filho de Deus, o que não só abre portas, abre até o mar vermelho! Mas você se compara, mesmo assim: Jesus deve ter andado sobre as águas com o que? Dezessete? Orson Welles fez Cidadão Kane com vinte e cinco. Rimbaud escreveu toda a obra até os dezenove! E você tão feliz por ter conseguido mais quinze seguidores no Twitter.

(O lance do Mar Vermelho. Foi com Jesus ou com Moisés? Céus, trinta e três anos e você não sabe uma coisa dessas? Será que um dia vai saber? Quando tem treze, ou vinte e três, acha que uma hora vai aprender tudo o que não sabe, basta ficar parado que as coisas naturalmente virão e entrarão na sua cabeça. Agora você percebe que talvez passe a vida ignorando certos assuntos. Mar Vermelho. As regras do gamão. Francês.)

Pense: um homem. Pense: uma mulher. Adultos, no sentido mais abstrato, como um casal num livro de inglês ou num vídeo de normas de segurança do DETRAN. Espécimes maduros do homo sapiens sapiens: eles devem ter a sua idade. Talvez tenham filhos. Você tem filhos, ou ainda não? Repare no "ainda não", pois de todas as coisas que você não conquistou até agora, há que saber discernir entre as que podem vir acompanhadas por um "ainda não" e aquelas das quais é melhor desistir. Andar sobre as águas, gênio da matemática, fenômeno da ginástica olímpica: não é pra todo mundo. E aos trinta e três anos, meu chapa, é a hora de admitir: você é todo mundo. Sei que é difícil. Viu filmes da Sessão da Tarde demais, propagandas da Nike demais, foi mimado demais para admitir que Deus não passou mais tempo moldando a sua fôrma do que a do vizinho do 71. É a não compreensão desse banal infortúnio que faz com que haja em tantos rostos de sua idade um brilho opaco, um fungo que brota onde o sol não bate forte o suficiente: o ressentimento.

Acredite em mim: aos trinta e três anos, de Jesus pra baixo, todo mundo é ressentido. Não é que as pessoas vivam vidas ruins, as aspirações é que são muito altas. A Sessão da Tarde, as propagandas da Nike. Seu emprego é bom, mas o salário é ruim. O salário é bom, mas o chefe é mala. O chefe é você, mas os prazos não te dão sossego. Sempre tem um cunhado que ganha mais, um vizinho cuja grama é mais verde, o próximo cuja mulher é mais fornida; Jesus, aos trinta e três, o Orson Welles, aos vinte e cinco ― e o mau exemplo do Rimbaud eu nem comento.

Trinta e três anos. Você para. Desce do carro. Olha em volta. Você é o que queria ser quando crescesse? Não exatamente? Por que não? Será que dá pra mudar? Quanto dá pra mudar?

É preciso achar lugar no peito para as frustrações. É preciso lidar com o ressentimento e não deixar, em hipótese alguma, que ele se transforme em cinismo ― se ressentimento é fungo, cinismo é ferrugem. Agora volte para o carro e siga em frente. Se tudo der certo, você não está nem na metade do caminho.

Diga, trinta e três: trinta e três. Quem diria.

Nota do Editor
Texto gentilmente cedido pelo autor. Originalmente publicado no jornal O Estado de São Paulo, em 23 de agosto de 2010.


Antonio Prata
São Paulo, 20/9/2010
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COMENTÁRIO(S) DOS LEITORES
20/9/2010
08h48min
Antônio, você dá uma de derrotista neste artigo. Na verdade, aos 33 anos é bem a hora de recomeçar, de corrigir os maus feitos e partir para outra: nova mulher, nova profissão, novas gentes, novos objetivos. Assim, há uma maior probabilidade de se chegar aos 66 (como eu, que estou beirando desta marca), olhar para trás e poder dizer, de boca cheia: "Sofri, está certo... Mas valeu a pena".
[Leia outros Comentários de Ryoki Inoue]
22/9/2010
09h22min
Se servir de consolo aos pobres e medianos mortais, ao menos, em tese, não morreremos crucificados, como o nosso compadre Joshua, kkkkkk... Se bem que transformar água em vinho é um superpoder bem legal, melhor que visão de calor rsrs.
[Leia outros Comentários de Adalgiso Junior]
22/9/2010
11h58min
Não se consegue fugir das comparações. Melhores ou piores. E esse assunto é crucial para o nosso amor próprio. Deixe de lado as comparações e surgirá, sempre, um outro ser humano em cada dia da nossa vida. Não se espelhe em ninguém. Sequer dê muita importância ao espelho todo dia de manhã, ou durante todo ele, escovando dentes ou simplesmente vendo as olheiras. Deixe disso. Nada é importante, fique certo. E não é de derrota que estou falando. É de viver somente. Tudo passa e o que fica é sem importância também. Abraços, poeta!
[Leia outros Comentários de Cilas Medi]
22/9/2010
15h40min
A mudança de idade é um tempo de reflexão. Como um rito de passagem, ela nos convida a fazer um balanço de nossas derrotas e conquistas. Passei por isso quando fiz quarenta e, agora, passo por situação semelhante ao adentrar nos cinquenta. Tenho até um poemínimo que fala sobre isso: "do alto/ de meus quarenta anos/ olho para baixo/ e sinto certa vertigem...". No entanto, nossa trajetória é única. Nem sempre brilham mais aqueles que merecem, nem são naturalmente os mais reconhecidos. A vida nos coloca uma série de pedras no caminho. Mas o melhor é curvar-se, recolher as pedras e aproveitar a paisagem ao redor. Ou transformá-las em pedras de gelo e beber nosso drink favorito on the rocks... Abraço.
[Leia outros Comentários de Ricardo Mainieri]
22/9/2010
16h48min
Belo texto, daqueles que não interrompemos a leitura até chegarmos ao final. É verdade que num certo momento da vida, geralmente aos 33, nos cobramos por tudo. Mas que delícia quando descobrimos que ainda há tempo para fazer muito. Então vamos nessa, mãos a obra! rs
[Leia outros Comentários de Raquel Duarte]
26/9/2010
15h04min
Eu nem cheguei aos 33, mas, com 25, percebo que ser alguém que esperávamos ser não está ligado ao que alcançamos. Pois todos queremos algo diferente. Uns querem apenas um emprego, outros um carro, e outros aspiram ser presidentes. Apesar de ainda não ter alcançado tudo que quero, não ficaria frustrado em passar a vida sem alcançar a presidência. Gostaria de ser músico, médico, advogado... mas a vida é uma só. Se pudéssemos ser tudo que aspiramos, não ia sobrar nada para o outro, quem sabe seu filho seria mais frustrado... porque teria que ter a mesma vida que os pais, ou seja, com as mesmas realizações caretas.
[Leia outros Comentários de Jhonathan Pino]
9/10/2010
13h43min
Esse texto me reflete muito bem. Pena que eu não tenha 33, só 22! Onze anos a menos. Mas essas preocupações me acompanham sempre. E acho que acontece com todo mundo, a todo momento. Quantas vezes não nos pegamos pensando "nossa, eu pensei que faria isso ou aquilo, mas a vida me levou pra outro lado (ou fui eu que levei a vida pra outro lado?)". Quantas vezes não nos encontramos com velhos e desaparecidos amigos que parecem ter uma vida bem mais promissora que a nossa? Isso acontece comigo sempre, ainda bem que a esperança sempre é a última a morrer. Que assim seja, amém!
[Leia outros Comentários de Guilherme Ferreira]
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