DIGESTIVOS
Quarta-feira,
21/2/2001
Digestivo
nº 21
Julio
Daio Borges
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Imprensa
>>> Saints and Sinners
Quando se discute a reabilitação de delinqüentes, evoca-se sempre a controversa (re)integração do criminoso na sociedade. Pois, eis que explode uma rebelião de presos e, de repente, o bandido vira mocinho e o mocinho vira bandido. Afora a existência de um "poder paralelo", que o governador-em-exercício insiste em negar (mas que orquestra rebeliões em todo o País), existem esforços combinados no sentido de humanizar a figura do preso (Estação Carandiru, livro de Drauzio Varela, é um deles), e também no sentido de confundir os juízos da sociedade civil sobre "o que é o bem" e sobre "o que é o mal" (vide a cantora infantil, recentemente embarrigada por um amor bandido; vide as mulheres e crianças que - reféns dos presos - defendem seus algozes e, ao mesmo tempo, atacam seus salvadores; e vide o animador de programa de auditório, que, num pico de audiência, invoca o testemunho do criminoso, não o do policial). Ainda que se considere tudo o que existe de medieval no sistema penitenciário brasileiro, a inversão de papéis, com a maior naturalidade, é o que causa mais espanto no episódio todo. (Que a imprensa e a mídia fechem os olhos, os ouvidos e a boca, é ainda mais espantoso.)
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>>> Folha de S. Paulo
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Música
>>> Nasci no dia do medo, na hora de ter coragem
Para a reparação de uma das maiores injustiças e de um dos maiores oblívios da música brasileira, foi relançado, em CD, o primeiro álbum de Tom Zé. Com data de dezembro de 1968, não fica absolutamente atrás de nenhum disco de estréia de qualquer um dos medalhões da chamada Tropicália (nomeadamente Gilberto Gil, Caetano Veloso e os Mutantes). Está, talvez, muito mais desenvolvido na crítica social à Paulicéia, e no amálgama que reuniu ritmos brasileiros, influências do pop internacional e pretensões de eruditismo, citadamente em São São Paulo (São oito milhões de habitantes / Aglomerada solidão / Por mil chaminés e carros / Gaseados a prestação), Não Buzine Que Eu Estou Paquerando (Eu sei que você anda / Apressado demais / Correndo atrás de letras / Juros e capitais / Um homem de negócios / Não descansa, não), Namorinho de Portão (O Papai, com cuidado / Já quer saber / Sobre o meu ordenado / Já pensa no futuro), Curso Intensivo de Boas Maneiras (Primeira lição: deixar de ser pobre / Que é muito feio / Andar alinhado / E não freqüentar, assim, qualquer meio), Glória (Como um grande chefe de família / Ele soube sempre encaminhar / Seus filhos para a glória / Glória, glória eterna / ... / Mas aguardando o dia do juízo / Por segurança foi-lhes ensinando / A juntar muito dólar / Dólar, dólar na terra).
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>>> http://www.tomze.com.br/
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Teatro
>>> Eu sei que as minhas chances são nulas
Tio Vânia, de Tchekov, está em cartaz no Ágora, o antigo Teatro do Bexiga. A força do elenco se faz sentir - notadamente pela interpretação de Fábio Herford -, provando que a arte dramática ainda sobrevive em São Paulo, apesar da invasão dos musicais e das celebridades televisivas. O texto, de uma precisão irreproduzível, desenvolve o lado nefasto da relação mestre-discípulo. O sacrifício pessoal - visando a manutenção da glória de alguém que se admira - justifica que se abdique do próprio talento, das próprias ambições, do próprio futuro? Ou será que por trás de todo grande nome, de toda grande obra, de toda grande figura, existe sempre um seguidor mais mesquinho que - não se sentindo reconhecido - procurará destruir o objeto de sua admiração? (Cenas envolvendo amores proibidos e amores impossíveis correm em segundo plano, para a alegria das mulheres e dos flechados pelo cupido.)
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>>> Ágora - Rua Rui Barbosa, 672 - Tel.: 284-0290
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Gastronomia
>>> O Conselheiro também come (e bebe)
Alessandro Segato, o festejado chef italiano, comanda as panelas e a administração do La Risotteria, que fica na Padre João Manuel, esquina com a Barão de Capanema. As mesinhas, na varanda, são bastante convidativas para se degustar uma taça de Merlot ou Prosecco, ou ainda para se saborear uma das mais inventivas bruschettas da cidade. (Pena que a rua seja tão movimentada, com carros descendo embalados rumo à Estados Unidos.) Já os lugares no interior do restaurante são bastante concorridos, em qualquer dia da semana, se você chegar depois das 21 horas. Embora prime por um carpaccio mais que autêntico, as vedetes, na entrada, são os cinco tipos de pães, servidos como couvert. Dentre os pratos propriamente ditos, reina uma variedade de risotos (daí o nome do estabelecimento), e excentricidades como o coelho com polentas e cebola caramelada (apenas para registrar como a civilidade pode ainda ser selvagem). Raladores, pimentões e copos grandes (para dedos longos) caracterizam a decoração.
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>>> La Risotteria - Rua Padre João Manuel, 1156 - Tel.: 3068-8605
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Internet
>>> Domínio Público
O Napster, afamado software que permitia a pirataria indiscriminada de CDs e de canções, vai caminhando para a proibição e para ilegalidade. Enquanto isso, hackers e usuários, prevendo morte súbita, perguntam: "Quanto tempo ainda nos resta?". Claro que o Napster não é o único, e claro que uma gama de outros programas, procurando brechas na Lei, disputa a preferência de entusiastas e de órfãos. O que fica dessa história, porém, não é a questão técnica ou tecnológica, mas sim as questões levantas a respeito da propriedade artística e intelectual. Toda a reprodução (sonora, visual, textual) deve ser paga, deve ser cobrada, deve ser precificada? Qual a fronteira entre a divulgação que se faz de um produto e do uso, indiscriminado, que se faz do mesmo? Como controlar a multiplicação de pães e de peixes, num mundo em que o real é cada dia menos real, e o virtual cada dia mais virtual?
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>>> http://www.napster.com/
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>>> DIGA O SEU NOME E A CIDADE DE ONDE ESTÁ FALANDO
Menino que, acompanhado da mãe, foi ao presídio visitar o pai: "Tenho certeza de que os presos não fariam nada com os visitantes. Conheço todos do Pavilhão 7 e eles são como da minha família."
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Julio Daio Borges
Editor
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