DIGESTIVOS
Sexta-feira,
20/7/2007
Digestivo
nº 336
Julio
Daio Borges
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Literatura
>>> Revista Mininas, edição 11
As discussões sobre o fim do papel como suporte, embora andem acaloradas para os lados do jornalismo – e ainda que estejam esquentando os motores no universo da literatura –, parece que mal tocam o reino resguardado da poesia. Os poetas, que sempre ficaram entre sobreviver e morrer de fome – suportando o mundo enquanto isso –, não estão aparentemente preocupados que um suporte morra e que, no lugar dele, nasça outro. “Poeta” não é uma profissão, é mais um estado de espírito, então os poetas – os verdadeiros poetas – não estão brigando pelas eternas migalhas da cultura. Afinal, eles sabem que – com papel ou sem papel – só os miseráveis, em suas mesquinharias, brigam por isso. E continuam fazendo poesia... Pois, assim, fez bem a revista Mininas, que – solenemente ignorando as disputas por velhos e novos territórios – chegou a um número onze que é uma perfeição em matéria de poesia. A Mininas, embora esteja também na internet, se consagrou no formato quadrado “de bolso” (?) – misturando o fato de publicar tão somente autoras (“meninas”) com a forma mínima, “mini”, minúscula. A revista, na verdade, percebeu que poesia não pode ser, nunca, uma abundância, um desbunde – pelo contrário, é escassez, é ânsia, é um “quase nada” que fica. O contrário, talvez, do “mar de informação”; o contrário, certamente, do ritmo industrial da imprensa-impressa; e o contrário, quase sempre (infelizmente), das pressões do mercado editorial. Porque poesia não nasce a fórceps; não pode ser encomendada (pois poesia não tem serviço de delivery). Poesia acontece na rua e o poeta tenta captá-la no ar. Às vezes, até capta algo... Mininas 11 é, portanto, essa coisa ínfima – a poesia –, que está ali, mas que a gente não sabe bem explicar. E que não se reproduz necessariamente no próximo número (nem no anterior). Mas que foi uma realização de onze edições.
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>>> Mininas
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Música
>>> Tokyo String Quartet, na Sala São Paulo
Norman Lebrecht resolveu ser uma espécie de Diogo Mainardi da música clássica. E, nas páginas amarelas de Veja, veio falar mal de Mozart, cujo 250º aniversário se comemorou no ano passado. A impressão que se tem, na perspectiva da História da Música, é a de que os polemistas vêm e vão – os consensos e os rankings, também –, mas só os mestres continuam. Lebrecht, por exemplo, compara Mozart a Haydn, afirmando que o último foi mais original do que o primeiro, pois este “apenas” herdou as formas prontas (e “pouco” as desenvolveu)... Se pensarmos em Beethoven, o sucessor mais proeminente dos dois, não consta que ele tenha estudado, com menos rigor, as obras de Mozart... Aliás, Beethoven venerava, outro exemplo, Haendel – que não chega a ser exatamente popular na nossa época... Controvérsias à parte, quem foi aos concertos do Tokyo String Quartet, pela Temporada 2007 do Mozarteum Brasileiro, pôde comparar os dois mestres – na abertura das duas noites em que o ensemble se apresentou, na Sala São Paulo. De Haydn, o “inventor da forma”, tivemos justamente o Quarteto nº1 em si maior; e de Mozart, o “diluidor”, tivemos o Quarteto em sol maior. Para os estudiosos dessa formação – a propósito –, foram duas oportunidades e tanto; porque, além da delicada precisão do conjunto (o que até contrastava um pouco com a monumentalidade da Sala), tivemos um panorama desde o mestre de Bonn, Beethoven (Quarteto nº10 em mi bemol maior e Quarteto em fá maior), até dois “grandes” entre os séculos XIX e XX, Debussy (Quarteto em sol menor) e Tchaikovski (Quarteto nº3 em mi bemol menor). Ainda que os “clássicos” tenham mais apelo, os “modernos” causam mais espanto – com Beethoven fazendo a transição, e os séculos ainda resplandecem para todos.
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>>> Mozarteum Brasileiro
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Imprensa
>>> Rumos [do] Jornalismo Cultural
Entre os programas e os institutos que se beneficiaram nas últimas décadas das leis de incentivo à cultura, talvez os únicos a estudar o jornalismo cultural, seus impactos e suas perspectivas – contribuindo, inclusive, para o seu desenvolvimento –, sejam o Itaú Cultural e seu programa Rumos. E, neste ano, o instituto tomou a iniciativa de reunir, em livro, muito do que se discutiu, do que se pensou (e do que se realizou) no Rumos Jornalismo Cultural, nesta primeira década do novo milênio. O volume se divide entre “reflexões” de especialistas, um pouco de “história” e “apêndices” (grosso modo, uma relação de “nomes”, “endereços” e “leituras”). Embora as discussões recentes sobre cultura e sobre jornalismo cultural estejam um pouco viciadas, pelos velhos hábitos da velha mídia (e pelos mesmos nomes que proferem, ad nauseam, os mesmos discursos), o livro consegue, com êxito, escapar desse ranço. Entre gente conhecida que não fala o já muito conhecido (András Szantó, Maurício Stycer e Humberto Werneck) e gente não tão conhecida que, por isso, traz um pouco do desconhecido ou do novo (Maria Hirszman, Pedro Doria e Paulo Roberto Pires), a antologia do Rumos consegue ser bem sucedida, atingindo alguns de seus objetivos. Primo pobre do jornalismo em geral, o jornalismo cultural tem, na internet, uma chance histórica de se libertar desse estigma – e de ser tão prioritário quanto o jornalismo político, o econômico ou até o de esportes. Afinal, projetos colaborativos, e de grande impacto na internet, como os mecanismos de busca, as redes sociais e as enciclopédias livres estão muito mais próximos (no conteúdo e na forma) do jornalismo cultural – e da cultura no seu sentido mais amplo – do que do jornalismo em qualquer outra encarnação. No instituto Itaú Cultural, o programa Rumos percebeu isso e assumiu uma posição de vanguarda nesse debate. Que seja um exemplo para os demais.
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>>> Rumos [do] Jornalismo Cultural
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>>> Shows
* Traditional Jazz Band
(Sex., 20/07, 20h00, VL)
* Tito Martino Jazz Band
(Ter., 24/07, 12h30, CN)
* Livraria Cultura Shopping Villa-Lobos (VL): Av. Nações Unidas, nº 4777
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Julio Daio Borges
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