DIGESTIVOS
Sexta-feira,
10/8/2007
Digestivo
nº 339
Julio
Daio Borges
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Cinema
>>> A Grande Ilusão, com Sean Penn
Sean Penn é um ator a ser acompanhado. Clint Eastwood, que o dirigiu em Sobre Meninos e Lobos, disse na TV a cabo que Sean é, possivelmente, “o melhor de sua geração”. E Sean Penn está de volta, em DVD, na adaptação do clássico de Robert Penn Waren, Todos os Homens do Rei. Se alguém se antecipar e assistir, antes do filme, ao making-of, vai perceber que a mesma reverência de Eastwood está presente no set de A Grande Ilusão. Penn é, novamente, um fenômeno com que todos se sentem honrados de trabalhar – e atuações menores, como as de Kate Winslet, não prejudicam o resultado final. A revelação fica por conta de Jude Law, que superou a síndrome de Closer e que encarna, desta vez, um misto de Dorian Gray (pela beleza) e Great Gatsby (pelo ar blasé, de “geração perdida”). Anthony Hopkins – que, de serial killer até quase macaco, ultimamente já foi tudo – de repente se sobressai, em meio a uma crise política, jurídica e uma paternidade revelada (não, não é o Brasil – e não, não é a novela das oito). A história é, sim, a de um candidato “do povo”, que “se vende” e “se corrompe” – mas o desfecho, trágico, jamais seria encenado por estas bandas. Fora que este País talvez não tenha a mesma elite (no bom sentido) do filme. Em terra de revista Caras (antecessores e sucessores aí incluídos), a “elite” é a primeira a querer se confraternizar com a “plebe” (no mau sentido do termo) – num misto de falta de identidade, populismo e vazio existencial. A Grande Ilusão, com toda a decadência do personagem de Sean Penn, fecha com a transcendência do épico – enquanto que, aqui, somos uma nação de macunaímas (entre a inconseqüência do cômico e a gravidade do trágico). A não ser pelos fundamentalistas, ninguém vai querer fazer apologia de atentado político, mas A Grande Ilusão pode servir de contraponto, ao menos alegórico, para o nosso atual “apagão”.
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>>> A Grande Ilusão
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Literatura
>>> Darwin, por Adrian Desmond e James Moore
Com a passagem da exposição sobre Darwin pelo Masp, a Geração Editorial relançou sua biografia que causou, em 1995, furor e que foi, inclusive, best-seller nacional. Richard Dawkins, uma eminência no assunto hoje, nos conta que, diferentemente de gênios do humanismo como Freud e Marx, Darwin e Einstein extrapolaram, com suas “teorias”, o nosso planeta, a ponto de o evolucionismo de um e a física do outro serem aplicáveis para além da Terra (ao contrário dos pais, respectivamente, da psicanálise e do comunismo, cujas teorias se restringem “apenas” à humanidade). E o mérito do livro de Adrian Desmond e James Moore, publicado originalmente em 1991 em língua inglesa, está em justamente humanizar o gigante que foi Charles Darwin. Desde o jovem colecionador de besouros que abandonou a medicina até o autor da retumbante Teoria da Evolução – a qual guardou inicialmente para si, num sofrimento que durou vinte anos –, o volume supera as seiscentas páginas, mas num estilo tão saboroso, rico e encantador que Darwin: A vida de um evolucionista atormentado tende a mobilizar nossas leituras como poucos lançamentos hoje. Nietzsche, em Além do Bem e do Mal, caçoa do “mecanicismo” de pensadores anglófonos como Darwin, Locke e Hobbes, evocando, em sua defesa, Hegel e Kant (e Goethe), mas o século XX chegou (Nietzsche morreu em 1900), o século XX passou, e Darwin parece que continua. E se Darwin encontra atualmente um bravo soldado em Dawkins, Locke encontra em Steven Pinker, e Hobbes, a qualquer momento, vem novamente à tona... Freud tem sido sensivelmente abalado pela neurociência, Marx, ainda, pela queda do Muro de Berlim, mas nada indica que – entre as alardeadas “três bestas do apocalipse” – Darwin sofra algum abalo sísmico. Conhecer suas idéias, e sua vida – assim como ambas as de Einstein, também –, deveria ser obrigação de qualquer ser humano. E a biografia de Desmond e Moore estão aí, mais uma vez, para quem quiser atender ao chamado.
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>>> Darwin: A vida de um evolucionista atormentado
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Música
>>> Diabelli Variations, por Marco Alcantara
Há como lutar contra a onipresença da música na internet? Talvez, não. Uma idéia – e, não, uma solução – talvez seja experimentar novos formatos e fornecer diferentes dados, sofisticando além do MP3 e contextualizando mais intimamente do que uma mera busca no Google. Foi o que a Sui Generis Music fez, ao lançar as Diabelli Variations de Beethoven, em interpretação do pianista brasileiro Marco Alcantara, no novo formato Super Audio CD (SACD), com um dos maiores (e melhores) livretos da história da gravação. Alcantara mergulhou fundo na pesquisa e, além do tema e das suas 33 variações, registrou mais dezessete esboços do Mestre de Bonn. Não satisfeito, usou uma afinação também histórica. Sem contar que redigiu, de próprio punho, as mais de 150 páginas do encarte, sobre as inesgotáveis Variações Diabelli, desde a sua concepção até uma extensa bibliografia, passando, claro, pelos tais esboços e pelos tipos de afinação. Num País em que se acredita, ainda, em arte como “inspiração” – e em artistas mediúnicos –, é surpreendente encontrar um intérprete tão consciente de seu trabalho, tão preocupado em dar uma verdadeira contribuição à obra e, ao mesmo tempo, tão sensível e talentoso na realização. Lá fora – visto que o disco sai aqui só agora, neste segundo semestre –, Marco Alcantara e sua versão para as Diabelli Variations de Beethoven foram unânimes na aceitação. Também pudera, Marco seguiu os passos de outros mestres como Alfred Brendel, colocou mais uma peça no quebra-cabeças das Diabelli e sondou, mais profundamente, a vastidão desse oceano chamado Beethoven. Numa divertida auto-entrevista, Marco Alcantara deixa sugerido que poderia trabalhar, ainda, com novas afinações... Que ele realize esse e outros projetos, é o desejo sincero de quem ouve.
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>>> Beethoven Diabelli Variations
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>>> EVENTOS QUE O DIGESTIVO RECOMENDA
>>> Para homenagear os povos europeus, que contribuíram na formação do DNA da cidade de São Paulo, a Galeria IQ, do Chakras Espaço Cultural e Gastronômico, promove, a partir deste dia 7, a segunda mostra do ciclo de exposições Cores Paulistas. Desta vez, o artista Sergio Gregório utiliza a cor branca como elemento principal para reverenciar os imigrantes do "velho mundo", por meio de pinturas, imagens, objetos, sons e citações literárias de grandes autores como Camões, Pessoa e Dante. Com a mostra Cores Paulistas em Branco, o Chakras fará ainda a união da gastronomia com as artes plásticas. O chef Nilson de Castro incluiu, no cardápio da casa, um prato harmonizado com o tema da exposição: o "Brandade de Pescado", recheado com purpunha e cará, sob ovas de capelin – que permanecerá no menu até o dia 10 de setembro, quando a mostra será encerrada.
* Chakras: Rua Melo Alves, nº 294 - Jardins - Tel.: 3062-8813
** o Chakras é parceiro do Digestivo Cultural
>>> Noites de Autógrafos
* Um Deus possível - Giorgio Gambirasio e Nilo Alge
(Ter., 14/08, 18h30, VL)
* Cinema sem fim - A história da Mostra 30 anos
Leon Cakoff
(Sex., 17/08, 18h30, CN)
>>> Shows
* Jazz ao Meio Dia - Tito Martino Jazz Band
(Ter., 14/08, 12h30, CN)
* Traditional Jazz Band
(Sex., 17/08, 20h00, VL)
* João Ricardo
(Sáb., 18/08, 17h00, MP)
* Mônica Salmaso
(Sáb., 18/08, 19h30, CN)
* Duofel
(Dom., 19/08, 17h00, VL)
* Livraria Cultura Shopping Villa-Lobos (VL): Av. Nações Unidas, nº 4777
** Livraria Cultura Conjunto Nacional (CN): Av. Paulista, nº 2073
*** Livraria Cultura Market Place Shopping Center (MP): Av. Chucri Zaidan, nº 902
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Cultural
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Julio Daio Borges
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