DIGESTIVOS
Sexta-feira,
22/8/2008
Digestivo
nº 378
Julio
Daio Borges
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Música
>>> Coleção Folha 50 Anos de Bossa Nova
Entre iniciativas oportunistas e exposições inócuas, a Coleção Bossa Nova da Folha se revelou uma das melhores homenagens ao movimento musical que completa agora 50 anos. Com textos de Ruy Castro — indiscutivelmente um dos maiores especialistas na matéria —, os 20 discos formam a trilha sonora quase ideal para o mesmo Chega de Saudade (a biografia que, em 2009, completa 20 anos). "Quase" porque João Gilberto está praticamente ausente; o inventor da batida fugiu da efeméride o quanto pôde (o que deixa a comemoração um tanto manca; ainda que se considere sua idade avançada e as históricas idiossincrasias). A Coleção, no entanto, passa bem e o público, com sorte, não vai nem reparar — pois todos os grandes estão lá (Tom, Vinicius, Johnny Alf e João Donato); todos os discípulos (Nara Leão, Carlos Lyra, Marcos Valle e Roberto Menescal); os principais intérpretes (Pery Ribeiro, Maysa, Wilson Simonal e Os Cariocas); e até os precursores (Dick Farney e Lucio Alves). A arte, nos CDs (pretos), evoca os antigos compactos em vinil; e os livros (não é exagero) têm uma saudável pretensão enciclopédica, com panoramas amplos e fotos especiais. Se as gravações de Tom Jobim (o primeiro volume) não são as mais originais (privilegia-se a fase "Banda Nova"), as de Dick Farney (o segundo) são quase inéditas, posto que o rádio brasileiro varreu tudo o que precede a chamada "modernidade" na nossa música. Muita expectativa em relação aos volumes dos artistas que não foram contemplados recentemente com caixas pelas gravadoras (box sets): como os próprios mestres Donato e Alf; o ídolo de João, Lucio; a precocemente desaparecida Sylvia Telles; e o trio do baterista que ensinou ritmo aos gringos, Milton Banana. Enfim, muito mais que blablablá por escrito, revivals constrangedores e efeitos especiais de mau gosto, a Coleção da Folha se concentra no que a bossa nova tem de melhor, a música.
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>>> Coleção Folha 50 Anos de Bossa Nova
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Literatura
>>> Vinicius de Moraes Reeditado pela Companhia das Letras
E Vinicius teve sua cota de homenagens, ultimamente, nos 90 anos de seu nascimento (em 2003). Mas, agora, a Companhia das Letras está fazendo algo que realmente interessa — reeditando suas obras, em ordem, com capas originais de décadas atrás. Nesta primeira leva, além do clássico Poemas, Sonetos e Baladas (1946), acrescido do nunca mais editado Pátria Minha (1949; manualmente por João Cabral de Melo Neto), surge a preciosidade O Caminho para a Distância (1933, o primeiro livro — renegado — de Vinicius). Se no primeiro volume encontramos os bastante conhecidos "Soneto de separação", "Soneto de fidelidade", "Soneto do amor maior" e "Soneto de quarta-feira de cinzas", no último um quase anti-Vinicius surge, espiritualizado, melancólico e místico. Capaz de versos premonitórios como: "Virá o dia em que eu hei de ser um velho experiente/ Olhando as coisas através de uma filosofia sensata". Ou de uma consciência precoce do ofício da poesia: "A vida do poeta tem um ritmo diferente/ Ela o conduz errante pelos caminhos, pisando a terra e olhando o céu". Ou capaz, ainda, de evocações como: "No olhar aberto que eu ponho nas coisas do alto/ Há todo um amor à divindade". O Vinicius posterior — mundano, inconseqüente e bon-vivant — obviamente se arrependeria desta primeira obra — quase pia, virgem, imaculada ainda. Mas, mesmo renegando seus motivos, é possível encontrar um autor de 20 anos, já senhor do seu estilo, que, inclusive, justificaria: "Seus defeitos de idéia [do livro] são os meus defeitos de formação. Seus defeitos de construção são os meus defeitos de realizador". Antônio Carlos Secchin, com sabedoria, concluiu no posfácio: "(...)num determinado momento, esta foi a melhor poesia que ele logrou produzir". O Caminho para a Distância demonstra que, ao contrário do que pensam seus imitadores bêbados, houve um longo caminho até o letrista da bossa nova.
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>>> O Caminho para a Distância - Poemas, Sonetos e Baladas - Nova Antologia Poética
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Alexandre Schneider/UOL
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Teatro
>>> Breu e 21, do Grupo Corpo
Lenine despontou como uma nova promessa da MPB, com Marcos Suzano, em Olho de Peixe (1993); ascendeu à mais alta hierarquia da música brasileira contemporânea, com Chico Buarque e Edu Lobo, no musical Cambaio (2001); e, de lá, despencou. Encenando um Lenine que, mais uma vez, tenta se reerguer, encontra-se o Grupo Corpo, neste momento em cartaz em São Paulo, com o espetáculo Breu, o trigésimo terceiro da companhia que nasceu, em 1975, em Belo Horizonte. Contrastando com 21, um balé de 1992, na linha mais alegre e colorida (brasileira) do Grupo, Breu (2007), com música do compositor pernambucano, contrapõe guitarras roqueiras ao minimalismo formal do ensemble mineiro Uakti, tensão e violência a delicadeza e detalhismo, individualismo e solidão a coletividade e integração. Embora tecnicamente Breu exija muito mais dos bailarinos, a crítica considerou que o novo balé causa tensão, em vez de promover, entre a platéia, emoção. Seqüências de choques, virtuosismo e tons monocromáticos sucedem a harmonia de conjunto, a suavidade e o patchwork de 21. Na sua época, Cambaio igualmente chocou por, num primeiro momento, evocar a aura melódica de um Circo Místico (1983), mas, na hora H, privilegiar a distorção, a cacofonia e o ruído. As peças de Chico Buarque e Edu Lobo se mostraram difíceis de reconhecer, em meio à pirotecnia do cenário, ao vozerio dos atores e à execução ensurdecedora das canções. Lenine, que inicialmente entrou consagrado no projeto, saiu chamuscado da experiência, enquanto Chico e Edu ofereceram declarações desencontradas e, num segundo momento, preferiram gravar suas próprias versões das músicas de Cambaio. Hoje, Rodrigo Pederneiras, o bailarino que assumiu as coreografias do Grupo Corpo desde 1981, confessa que saiu de seu elemento para trabalhar com a ajuda de Lenine — esperamos, contudo, que Breu não repita a triste história de Cambaio e que tudo não passe de uma má impressão (momentânea).
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>>> Grupo Corpo no Teatro Alfa
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Julio Daio Borges
Editor
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