DIGESTIVOS
Sexta-feira,
12/9/2008
Digestivo
nº 381
Julio
Daio Borges
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Cinema
>>> O Sonho de Cassandra, de Woody Allen
A crítica ficou em cima do muro, ao avaliar O Sonho de Cassandra, último lançamento de Woody Allen (agora em DVD). De fato, o filme explora um pouco da estrutura já utilizada em Crimes e Pecados (1989) e em Match Point (2005), mas o desfecho, para os protagonistas, é mais trágico. Ewan McGregor (Guerra nas Estrelas) e Colin Farrell (Alexandre) são dois "perdedores" — como eles mesmos se definem — com dívidas ou sonhos de investimentos além de suas posses, mas com um tio bem-sucedido, Tom Wilkinson, que promete remediá-los socialmente. Em troca, porém, o tio exige, dos sobrinhos, que cometam um crime. Depois de se chocar, e relutar um pouco, aceitam, e terminam por realizar um serviço bem feito (sem deixar pistas). Um deles, contudo, jamais supera a culpa, deixando-se consumir por ela até o desfecho fatal. Admirador confesso de Dostoievski, Woody Allen já havia emulado Crime e Castigo (1866) em Crimes e Pecados; agora, no entanto, preferiu dividir Raskolnikov em dois e, na luta para entregar-se ou não à polícia, condená-lo(s), mais do que à prisão na Sibéria, à pena capital. E, se em Match Point uma história de amor precisa ser ocultada, por ser socialmente inconveniente, em O Sonho de Cassandra o pecado está em negócios ilícitos, um tema menos glamoroso e sem apelo para assalariados em forma de platéia. O longa, apesar da incompreensão da audiência, tem o seu charme, numa Londres igualmente contemporânea; vale pela trilha sonora eficientíssima de Philip Glass e pela reabilitação de McGregor; poderia, ainda, consolidar uma linha de "fitas de máfia", na prolífica carreira de Allen, mais convincente até — nas suas tentativas de ser sério — do que os pastiches de Bergman. Septuagenário, contudo, o realizador não tem mais tempo para descobrir, finalmente, se a tragédia pode ser mais profunda — e mais "obra-de-arte" — que a comédia. O Sonho de Cassandra, portanto, merece ser visto; pois, mais uma vez, esboçou esse enunciado; menos inocentemente que da última vez, em Melinda e Melinda (2004).
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>>> O Sonho de Cassandra
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Música
>>> Orquestra do Estado de Mato Grosso em DVD
Depois de John Neschling (Osesp) e Roberto Minczuk (hoje OSB), o maestro-realizador dos últimos tempos tem sido Leandro Carvalho, que montou, desde meados dos anos 2000, a Orquestra do Estado de Mato Grosso. Em vez de continuar sua bem-sucedida carreira de violonista no roteiro das grandes capitais, no Brasil e no mundo, Leandro preferiu ser "empreendedor desbravador" (nas suas próprias palavras), estruturando uma orquestra num estado que não tinha uma e estabelecendo uma programação de concertos numa região que nunca viu isso, o chamado Brasil Central. Desde então, no dizer de Maurício Pereira (ex-Mulheres Negras), Leandro e a Orquestra do Estado de Mato Grosso vêm, realmente, "fabricando músicos e públicos". Com séries desde os Concertos Oficiais, de repertório universal, até Concertos Didáticos, para a formação de novas platéias nas escolas, a Orquestra vem percorrendo o estado nestes anos com Concertos Populares, levando o público do "mistério" ao "encantamento", passando pela "curiosidade" e pela "fascinação", conforme conta o próprio maestro. Depois de "importar" solistas como David Gardner (da Inglaterra), Leandro conseguiu introduzir até as lendárias violas de cocho e estabelecer um diálogo pra lá de harmonioso entre a tradição da música clássica e o regionalismo popular do Mato Grosso. Como se não bastasse, a Orquestra se alia ao Projeto Ciranda, onde cada músico contratado fornece 300 horas de aulas gratuitas para os principais talentos da população, culminando na Orquestra Jovem, que garantirá, pelas próximas décadas, a continuidade do trabalho. Não é exagero, efetivamente, falar numa "nova realidade" para o Mato Grosso. Esta e outras histórias de visão, talento e consagração podem ser encontradas no DVD que a Orquestra acaba de lançar, via Toca Brasil, do Itaú Cultural. Nele, ainda, está o registro do concerto emocionante que Leandro regeu em São Paulo, no ano passado.
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>>> Orquestra do Estado de Mato Grosso em DVD
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Além do Mais
>>> Pousada Bromélias em Parati
Com dez anos de história — muito antes, portanto, do deslumbramento em torno da Flip —, a Pousada Bromélias é a melhor opção para quem quer passar uma temporada em pleno seio da Mata Atlântica, a 20 minutos do centro histórico de Parati. Ainda que a proposta seja relaxar e "reativar as energias", num ambiente de "paz e tranqüilidade" (como diz o site), a Bromélias é uma das pousadas mais completas da região, ao mesmo tempo em que é totalmente integrada à natureza e proporciona uma experiência bastante exclusiva. Dividida, grosso modo, em três níveis, a Bromélias garante o isolamento necessário dos bangalôs, enquanto oferece um restaurante com piscina e lounge, e, ainda, uma quadra de tênis, com cachoeira, piscinas naturais e "espaço bem-estar", onde acontecem massagens aromaterapêuticas, tratamentos corporais, sessões de sauna e — se esse for o espírito — de fitness. Numa área de 500 mil metros quadrados, entre a Prainha e a Praia de São Gonçalo, são apenas dez bangalôs na Bromélias, mais de 150 espécies de aves, um restaurante artesanal, incluindo opções vegetarianas (fora o revigorante café-da-manhã), e uma variedade de massagens e tratamentos como shiatsu, seitai, terapia das pedras quentes, esfoliação, drenagem linfática e banho de ofurô. Como se não bastasse toda a estrutura e suas possibilidades, brilha, na Bromélias, o elemento humano, graças a ótimos profissionais, a um atendimento especial e à simpatia que vem desde os proprietários, Ari e Célia Dumbrovsky, que, quando estão por perto, podem proporcionar, além de tudo, prazerosas horas de conversa, versando desde a história da pousada até sua mudança para Parati direto da Vila Madalena, em São Paulo. Se a hotelaria no Brasil às vezes parece vulgarizada, e se o frisson da Flip em Parati muitas vezes não combina com o espírito da região, a Pousada Bromélias vem resgatar o charme e o clima perdidos, proporcionando momentos, realmente, inesquecíveis, num cenário, efetivamente, exuberante, sem esquecer nunca do lado humano.
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>>> Pousada Bromélias
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Julio Daio Borges
Editor
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