DIGESTIVOS
Sexta-feira,
8/5/2009
Digestivo
nº 414
Julio
Daio Borges
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Imprensa
>>> Um golpe na economia da colaboração
Um dos assuntos preferidos da internet, nos últimos tempos, tem sido a crise dos jornais, seus muitos prejuízos, sua obsolescência programada e, fatalmente, seu desaparecimento. Foi, portanto, inesperado o recente golpe de Farhad Manjoo, colunista da Slate, sobre um dos pilares do jornalismo na internet, o "conteúdo colaborativo". Manjoo começa revelando que, embora estejamos cansados de ouvir sobre o mau desempenho das empresas jornalísticas tradicionais, um dos maiores prejuízos do nosso tempo é causado, justamente, pelo YouTube, site de compartilhamento de vídeos. Neste ano — calcula um relatório do banco Credit Suisse —, estão estimadas perdas ao redor de 470 milhões de dólares para o Google (que arrematou o YouTube em 2006). Assim o Boston Globe, por exemplo, cujas perdas ficarão em "apenas" 89 milhões de dólares em 2009, revela-se, subitamente, cinco vezes mais "lucrativo" que o YouTube. Manjoo prossegue no seu raciocínio: assim como os jornais têm de pagar caro para derrubar árvores e fazê-las circular em forma de notícia, o YouTube tem de pagar caríssimo por uma conexão pantagruélica de internet, para estocar e entregar seus vídeos — em suma, ambos correm atrás de anunciantes fugidios que banquem seus custos proibitivos de armazenamento e logística. Em citação a Benjamin Wayne — presidente de um dos concorrentes do YouTube —, Manjoo igualmente afirma que nem o Google, com suas receitas mirabolantes, tem como sustentar uma empresa que perde quase meio-bilhão de dólares/ano. Farhad Manjoo, para piorar, considera que o YouTube é só a ponta do iceberg da economia do "conteúdo gerado pelo usuário" (locomotiva da famosa Web 2.0). Por mais que as práticas colaborativas tenham revolucionado ambientes como o da política nos Estados Unidos e áreas do conhecimento como o enciclopedismo, sites como a Wikipedia e Twitter não geram ainda ganhos proporcionais ao barulho que fazem. A justificativa de Manjoo para essa contradição é simples: anunciantes não se sentem à vontade em veicular seus produtos e marcas ao lado de textos, fotos e vídeos "artesanais" ou "caseiros"; sendo que os maiores sucessos de audiência, pelo menos em matéria de vídeos (os conhecidos "virais"), são, além de os mais caros de manter (porque os mais acessados), os mais constrangedores nos quais se anunciar — a ponto de o YouTube só conseguir vender publicidade para menos de 10% de seu acervo. E o Facebook segue na mesma linha: de acordo com o indefectível TechCrunch, a maior rede social do mundo gastava, no último levantamento, nada mais nada menos que 1 milhão de dólares mensais só de eletricidade, 500 mil dólares mensais em conexão de internet e mais de 2 milhões de dólares por semana em novos servidores (para dar conta das quase 1 bilhão de fotos postadas por seus usuários todo mês). Farhad Manjoo conclui — para enterrar as últimas esperanças do jornalismo colaborativo — que os internautas, atualmente, pagam é pelo velho conteúdo gerado por profissionais. Entre os quais: música vendida através do iTunes e assinaturas on-line do Wall Street Journal. Sem contar o Hulu (outro concorrente do YouTube), que veicula filmes e séries de TV, e que parece estar ensinando ao todo-poderoso Google como atrair anunciantes numa proporção muito mais interessante. Farhad, por fim, admite que o "conteúdo gerado pelo usuário" transformou definitivamente o mundo — mas é pena que ninguém ainda tenha descoberto um jeito de ganhar dinheiro com ele...
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>>> Do You Think Bandwidth Grows on Trees?
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Cinema
>>> O Escafandro e a Borboleta, com Mathieu Amalric
Se você escreve e reclama de falta de tempo ou inspiração, depois de assistir a O Escafandro e a Borboleta, filme de Julian Schnabel, vai perceber que está reclamando de barriga cheia. O longa se baseia no livro que o ex-editor-executivo da revista Elle compôs depois de sofrer um forte derrame e ficar totalmente paralisado, com exceção de alguns movimentos da cabeça e da pálpebra do olho direito. Sofrendo da síndrome de "locked-in", Jean-Dominique Bauby saiu de um coma de 20 dias para acordar "prisioneiro do próprio corpo", sem conseguir engolir, falar ou articular gestos simples que lhe permitissem uma comunicação mínima com o mundo exterior. Graças à paciência de médicos e outros profissionais da área de saúde que o atenderam, Bauby aprendeu a se comunicar apenas piscando o olho direito. Enquanto alguém pronunciava as letras do alfabeto para ele — da mais frequente, na língua francesa, para a menos frequente —, Bauby ia piscando até compor cada palavra, cada frase, cada parágrafo. O livro, com suas memórias antes e depois do hospital, demorou dez meses para ser composto. Foram necessárias, aproximadamente, 200 mil piscadas de seu olho direito; e a média do tempo para formar cada palavra, nesse processo, foi de 2 minutos. O Escafandro e a Borboleta, o volume lançado em março de 1997 na França, vendeu 150 mil cópias na primeira semana e tornou-se, igualmente, um best-seller através da Europa. Jean-Dominique Bauby, no entanto, não pôde desfrutar do sucesso de sua obra, pois veio a falecer apenas dois dias depois da publicação, de pneumonia. No filme, Mathieu Amalric (que fez, recentemente, o vilão do último 007) está exemplar no papel, permitindo a Schnabel injetar uma certa dose de ironia, no dia a dia trágico do personagem, beirando, inclusive, o humor negro. O Escafandro e a Borboleta, no fim das contas, é uma grande história de superação — para quem escreve e para quem não escreve.
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>>> O Escafandro e a Borboleta
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Internet
>>> Web 2.0 e Blogging Heroes, da Digerati Books
A Web 2.0 fez cinco anos recentemente e mereceu keynote especial de seu inventor, Tim O'Reilly. Na verdade, a Web 2.0 se incorporou de tal forma ao universo virtual que acabou se tornando... a própria Web. Mas, para quem não se lembra de todo o trabalho desenvolvido até aqui, a Digerati lançou Web 2.0 Heroes, de Bradley L. Jones, cheio de entrevistas com os principais protagonistas da penúltima revolução da internet (a última é o Twitter). Tem Gina Bianchini, do Ning; Patrick Crane, do LinkedIn; Biz Stone (de novo), do Twitter; Joshua Schachter, do Delicious; e Garret Camp, do StumbleUpon, entre outros. Faltam personagens essenciais, por exemplo, do Flickr, do Facebook e do YouTube, mas Web 2.0 se impõe, ainda assim, como um livro fundamental - principalmente no Brasil, onde, muitas vezes, nem os blogs foram bem compreendidos. Jones é meticuloso nos seus questionamentos, embora às vezes perca um certo tempo com a "definição" de Web 2.0 (que, definitivamente, nunca foi muito importante). Complementando Web 2.0, a Digerati, ao mesmo tempo, lançou Blogging Heroes, de Michael A. Banks. E, apesar de a blogosfera ser mais velha e ter sido mais explorada, continua rendendo bastante assunto - novamente, no Brasil, cuja explosão dos blogs, em grande escala, foi bem mais tardia. Em Blogging Heroes, estão: Chris "The Long Tail" Anderson; Gina "Lifehacker" Trapani; Mary Jo "All about Microsoft" Foley; Frank "PostSecret" Warren; Mark "BoingBoing.net" Frauenfelder; Peter "Engadget" Rojas; Ken "Ars Technica" Fisher; e Richard "ReadWriteWeb" MacManus, entre muitos outros. Tanto Web 2.0 quanto Blogging Heroes fornecem uma contraponto interessante a Founders at Work, de Jessica Livingston, que está na iminência de sair traduzido no Brasil. Aliás, a tradução da Digerati não é perfeita, mas a iniciativa de trazer essa discussão para a internet BR é louvável, sobretudo quando a crise dos jornais se avizinha e a velha mídia procura, na internet, uma saída.
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>>> Web 2.0 Heroes | Blogging Heroes
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Julio Daio Borges
Editor
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