DIGESTIVOS
Sexta-feira,
19/6/2009
Digestivo
nº 420
Julio
Daio Borges
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Internet
>>> A blogosfera brasileira e o blog da Petrobras
Embora permaneça praticamente em silêncio sobre a morte melancólica dos jornais, a blogosfera brasileira de repente se exalta quando o assunto é "blog da Petrobras". Foi um auê, nas últimas semanas, como não acontecia desde que o Estadão resolveu cutucar os blogueiros com uma campanha publicitária há quase dois anos. Tudo bem, houve o levante, contra os "dinossauros", durante a primeira Campus Party (em 2008), mas a blogosfera BR andava buscando conciliação, com a mídia jurássica, inclusive porque muitos blogs (e blogueiros) foram abduzidos pelo chamado mainstream (editorial e publicitário). "Essa 'guerra' só prejudica os dois lados", murmuravam ainda há pouco, com olímpica superioridade... para, recentemente, explodir, declarando barbaridades como: "vamos à forra"; "entremos firme nesta guerra de informação"; "guerra é guerra". A turma do "deixa disso" não conseguiu, desta vez, calar os exaltados... Existem, claro, outros sentimentos em jogo, logo a suposta "guerra" extravasa frustrações outras, que têm pouco ou nada a ver com a Petrobras... Em primeiro plano, está a discussão sobre a estatal ter "furado" a imprensa através de seu blog — divulgando na internet perguntas (e respostas) que seriam publicadas pelos jornais, antes da hora combinada, e rompendo com a pacto, histórico, entre jornalista e "fonte". Pesam, nessa mesma discussão, a anunciada "CPI da Petrobras" e o fato de a estatal ser um dos maiores anunciantes da mídia impressa na atualidade. Num segundo plano, está a ideologia (sempre ela) — com a Petrobras assumindo o papel de "governo" e os jornais sendo associados à "oposição" (ou à "mídia golpista", como querem alguns...). O restante da blogosfera entra, nesse vácuo, para atacar a eterna falta de reconhecimento por parte da imprensa-impressa; para denunciar o estado de penúria das redações atuais (sugerindo que pode fazer melhor); e reivindicar — como não poderia deixar de ser — uma fatia mais generosa do "bolo publicitário" (que, para internet, é quase tão minguante quanto a participação do MinC no orçamento da União)... A presente guerra, portanto, guarda mais semelhança com um tiroteio do que com uma ação organizada. O resultado mais concreto, que se espera, é o aparecimento de novos "blogs da Petrobras" — ou o que quer que, em sentido figurado, isso possa significar...
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>>> Blog da Petrobras — Fatos e Dados
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Televisão
>>> O Poeta Fingidor, com documentário de Claufe Rodrigues
Fernando Pessoa, quem diria, virou atração turística. É a primeira impressão do documentário de Claufe Rodrigues, exibido pelo GNT e agora encartado, em formato DVD, na nova antologia O Poeta Fingidor, pela editora Globo. Desde o mausoléu, entre reis de Portugal, até a estátua, fotografada à exaustão, passando pela casa, pela biblioteca e pelas relíquias da sobrinha-neta, Fernando Pessoa está exposto à visitação pública, embora, durante toda a vida, tenha fugido da realidade, e se enterrado no "sonho", como seu heterônimo Bernardo Soares. É, à primeira vista, uma contradição — e nada indica que sua poesia será melhor compreendida por causa desse alvoroço. Enfim, tirando a curiosidade pela celebridade (da qual nem Pessoa escapa), o documentário vale pelas intervenções de José Blanco, Gonçalo Tavares, entre outros entusiastas da obra. A sugestão de que Pessoa teria superado Camões é exagerada, naturalmente. Ainda que o tenha feito, recentemente, em número de traduções. Conforme um depoimento, muito oportuno, aponta: Álvaro de Campos se media com Walt Whitman, Ricardo Reis se media com o latino Horácio e Alberto Caeiro se media com os gregos clássicos — mas nada indica nem sequer a intenção de superá-los... Carlos Felipe Moisés, no prefácio da antologia, justifica a popularidade de Fernando Pessoa por ele haver antecipado o "estilhaçamento do ego do homem moderno". Não sabemos mais quem somos; somos, portanto, vários — um para cada situação. Daí, os "heterônimos" — e a conclusão, angustiante, de que uma personalidade, só, não basta. "Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me" é um verso de Campos em "Tabacaria"... Não faltam, claro, os clichês no documentário, como o pôr do sol, combinado à leitura de "Mar Português". Ficam, contudo, as revelações, como a do slogan, maroto, criado para a Coca-Cola: "Primeiro, estranha-se; depois, entranha-se". Fernando Pessoa pertence mais à nossa época do que à sua própria, mas essa aparente tragédia, de não ter sido quase publicado (e reconhecido) em vida, pode tê-lo salvado.
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>>> O Poeta Fingidor
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Música
>>> Chickenfoot, de Satriani, Hagar, Anthony e Smith
Enquanto o Van Halen não decide se volta ou não volta (e como, ou com quem, volta), Sammy Hagar e Michael Anthony se juntaram a Joe Satriani e Chad Smith (Red Hot Chili Peppers) para montar o que estão chamando de "supergrupo": o Chickenfoot. O nome — apesar de, na capa do disco, fazer menção ao símbolo de "paz e amor" — evoca, em bom português, os tais "pés de galinha" ou as rugas da velhice. Querendo ou não, acabamos ligando "Chickenfoot" à idade provecta de alguns membros da banda, mais notadamente Hagar e Anthony. Isso não é motivo, porém, para acomodação: Sammy Hagar não economiza em matéria de gogó, e é quem confere maior unidade ao conjunto — que, apesar do marketing, não soa como um simples grupo de mercenários. Joe Satriani também trabalha bastante e não economiza em truques. Embora não seja um "criador" (como Eddie Van Halen) — na definição de Pound —, é um "mestre" e faz uso de todo seu arsenal de guitarras, timbres e virtuosismos. Michael Anthony deve uni-los mais pelas piadas, como fazia no Van Halen, enquanto Chad Smith, conforme ele mesmo confessa, alterna-se entre a bateria dos Rolling Stones e a do AC/DC, e a evocação, inevitável, de Alex Van Halen. Os títulos, à primeira vista, soam preguiçosos: "Oh Yeah", "Runnin' Out", "Get It Up". E, claro, retornam algumas obsessões pessoais de Hagar: "Sexy Little Thing", "My Kinda Girl". Entre mortos e feridos, salvam-se possíveis hits: "Avenida Revolution" (lembra "Pleasure Dome"), "Sexy Little Thing" (de novo, lembra AC/DC), "Get It Up" ("Arriba, Arriba"), "My Kinda Girl" (roubando os "coros" do Van Halen). Sem contar bons empréstimos de Deep Purple (de quem tocam "Highway Star") e mesmo Black Sabbath (a "introdução" de "Iron Man", em "Soap On A Rope" — que, por sua vez, lembra "Satch Boogie"...). O Van Halen, até agora, ficou para trás. Enquanto isso, Joe Satriani realiza seu velho sonho de tocar numa banda de verdade...
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>>> Chickenfoot
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Julio Daio Borges
Editor
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