DIGESTIVOS
Sexta-feira,
26/6/2009
Digestivo
nº 421
Julio
Daio Borges
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Imprensa
>>> O fim da obrigatoriedade do diploma no jornalismo
A vida não está fácil para quem é jornalista no Brasil. Depois de décadas de redações se encolhendo e salários se achatando, a internet veio para tornar o profissional tecnicamente obsoleto e, agora, o STF veio para lavrar a obsolescência da profissão em cartório: para trabalhar como jornalista, não é mais necessário se formar em jornalismo (não é mais necessário ter diploma de jornalista) — o que ensejou a conclusão, entre muitos, de que, para trabalhar com jornalismo, não é mais preciso nem... ser jornalista. Sobrou para os blogueiros, claro. Mas não é a mesma "guerra" da outra semana: não é a velha geração querendo manter o controle dos meios e a nova se rebelando, numa disputa entre o mainstream de antes e o de agora. A grita, neste momento, é mais pela sensação, entre universitários, de que o diploma — antes garantia de uma certa "reserva de mercado" — agora não é mais garantia de nada — porque, para trabalhar com jornalismo, aparentemente qualquer diploma de curso superior vale... O argumento está baseado na falta de experiência de quem não conhece o mercado de trabalho e que, portanto, não sabe que nenhum diploma é garantia de nada — em toda e qualquer profissão. A obsolescência dos jornalistas e dos futuros jornalistas (agora em formação) não é a do diploma — está mais ligada à visão romântica de que ainda existem redações de jornal, como as de cinema, quando a prática se aproxima, cada vez mais, do dia a dia dos... blogs! Se um estudante montasse seu veículo on-line, no começo do curso de jornalismo, em alguns anos sairia melhor preparado, para a futura realidade da profissão, do que teóricos das antigas práticas, diagramando com tesoura e cola, discutindo a censura na ditadura militar, apegando-se a suportes, como o papel, virtualmente condenados... O debate, do diploma, deveria alargar suas fronteiras e abordar as verdadeiras questões — o jornalismo não é mais o que era só porque o STF decretou: o jornalismo não é mais o que era porque, no tempo, parou; e não só no Brasil, no mundo todo...
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>>> STF derruba a obrigatoriedade do diploma de jornalista
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Artes
>>> Jubiabá de Jorge Amado, por Spacca
Albert Camus tinha Jubiabá em alta conta e resenhou-o, observando que Jorge Amado contava 20 e poucos anos quando o escreveu, e, justamente, por "vivê-lo" intensamente foi expulso do Brasil. Depois de relançá-lo, na nova coleção Jorge Amado, a Companhia das Letras edita uma versão quadrinizada por Spacca, dentro do novo selo Quadrinhos na Cia. Apesar de conter todos os principais motivos de Jorge Amado, Jubiabá soa politizado em excesso, depois da queda do Muro de Berlim. O próprio autor deve ter percebido, ainda em vida, que o tema da luta de classes ia se diluindo, enquanto o apelo da existência, dos amores, das aventuras, que tanto encantou Camus, continuava presente na Bahia, no Brasil. Spacca foi fiel e, ao mesmo tempo em que retratou Antônio Balduíno em suas andanças, e variadíssimas ocupações, manteve a conclusão de que o ex-escravo, negro, pobre apenas poderia se redimir através da greve ou da política. Baldo, de certa forma, prenunciou Lula — que embora não seja negro, nem "forro", foi operário, sindicalista e ascendeu por meio da política, e das greves, enfim... O que o herói de Jorge Amado, nem o próprio, previa(m) era a entrada do Brasil nos BRICs, o PIB crescendo a mais de 5% anualmente e a "nova classe média", formada pela emergência das antigas "C" e "D". Ou seja, com o fim das utopias, a solução de Antônio Balduíno caducou, mas, ao mesmo tempo, sua receita inspirou o Brasil e o mundo subdesenvolvido, salvando camadas inteiras da população, ainda que pelo desenvolvimento do mesmo capitalismo... aqui, na Índia, na China. Se a globalização, e os investimentos externos, fizeram mais pelos conterrâneos de Baldo que o discurso de grevistas e sindicalistas (dentro e fora do poder), do ponto de vista humano, o que ainda restará do universo mítico de Jorge Amado na Bahia? Spacca dedicou-lhe um ano e meio. Quanto deveríamos lhe dedicar, a fim de continuar a linhagem romanesca do nosso País?
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>>> Jubiabá
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Cinema
>>> Crepúsculo de Stephenie Meyer, o filme
Parece que cada nova geração precisa de seus próprios vampiros. Nos anos 90, tivemos, em filme, o Lestat, de Anne Rice, encarnado por Tom Cruise. Não era, exatamente, um best-seller da mesma década, como é, agora, com Crepúsculo, de Stephenie Meyer. Entrevista com o Vampiro, o primeiro da série de Rice, foi traduzido por ninguém menos que Clarice Lispector. A adaptação foi mais aguardada do que esta, recente — talvez porque, nas décadas anteriores, o cinema não precisasse apelar para adaptações, até de games, e HQs, para sobreviver. Ainda em matéria de best-sellers, os vampiros de Meyer se saem melhor do que Harry Potter, mitologia de quinta categoria "para crianças". Ninguém que entenda, realmente, do assunto, gostou — a começar por Alan Moore, passando por Harold Bloom. Meyer, por sua vez, escolhe uma heroína blasé, adolescente mal-humorada, envergonhada, outsider. Ou seja, provoca identificação com 99% da plateia, que nunca foi cheerleader, nem "capitão do time". Já seu vampiro... é envergonhado, em igual medida, com medo se ser aceito (por seu amor humano), arrependendo-se dos crimes de sua raça, pedindo que a mocinha se afaste... O que diria Lestat de Edward Cullen? Um vampiro dos tempos da correção política? A gozação, na mídia, ficou por conta da castidade do casal. Um beijo mais ousado pode converter o vampiro em "antropófago"... Um libelo contra a suposta permissividade sexual da "geração internet"? Uma espera de décadas (Edward tem 108), mais meses de amor platônico... para nada acontecer. É uma história de amor mais que uma história de vampiro, no fundo. Afinal, todo adolescente desajeitado quer ser resgatado por alguém que o redima... pelo amor. Você foi aceito. Seu DNA merece sobreviver. Bella Swan vai entregar seu corpo, e sua alma, a Edward Cullen? Respostas em Lua Nova...
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>>> Crepúsculo
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Julio Daio Borges
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