DIGESTIVOS
Sexta-feira,
21/8/2009
Digestivo
nº 429
Julio
Daio Borges
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Internet
>>> Passado, presente e futuro da informação, por Thomas Baekdal
Para profissionais de comunicação perdidos — como quase todos hoje —, Thomas Baekdal, editor da revista que leva o seu nome, criou uma interessante linha do tempo. Reconstituindo o papel da informação em nossas vidas desde o século XIX, e de maneira gráfica, Baekdal consegue organizar uma história que, por escrito, pode parecer mais complicada. Em seu post entitulado "Where is Everyone?" (Onde está todo mundo?), ele se propõe a ajudar comunicadores que ainda desejam contatar seu público, arriscando, inclusive, alguma futurologia. Voltando no tempo, Baekdal explica que, antes do século XIX (antes dos impressos), predominava a comunicação "face a face". Com a chegada dos jornais, do século XIX em diante, se você quisesse informação, tinha de ler a respeito. A partir das primeiras décadas do século XX, o rádio foi roubando espaço dos jornais, que eram predominantes — mas o impacto maior, sobre os impressos, viria a partir de meados do século passado, com a televisão. A TV reinou até o fim do século XX, quando surgiu a internet. A Web da década de 1990 obrigava todo mundo a ter um site, e tirava o consumidor de informação de sua passividade, obrigando-o a escolher por onde navegar. Mas a internet continuaria sua evolução, com a Web 2.0, em meados dos anos 2000 — dos blogs às redes sociais. Você não escolheria mais qual informação receber, mas, sim, qual informação não receber (dado o enorme fluxo de informações). Mais para o fim dos anos 2000, surgiria o Twitter — e, no lugar da "blogosfera", a "statusfera". A TV deixaria de ser a primeira fonte de informação... Até hoje. No futuro (não tão distante), Baekdal prevê que cada um de nós será uma "central" — de geração, distribuição e consumo de informações. Sem intermediários: sem jornalistas e sem meios de comunicação. E ao vivo, com streamings de áudio e vídeo — via celular. Thomas Baekdal, no Brasil, seria chamado de "xiita". O pior é que ele não inventou nada, apenas organizou o que, nos seus gráficos, qualquer um agora pode enxergar. Até profissionais de comunicação...
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>>> Where is Everyone?
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Televisão
>>> Programação especial de 40 anos da TV Cultura
Que a televisão brasileira de hoje não vale nada, todo mundo já sabe. A onipresença de telenovelas, reality shows, programas de auditório e de "jornalismo constrangedor" (para todos os gostos), fora bispos eletrônicos, jogou o conteúdo da TV brasileira, que nunca foi muito brilhante, na quase irrelevância. "Quase" porque, por volta das 20 horas, diariamente, na TV Cultura, abre-se uma janela para o passado — e o que se assiste, de tão surpreendente, nem parece televisão. Num dia qualquer, é possível topar com uma História da Telenovela Brasileira (quando ainda era influenciada pelo teatro), de 1979. E eis que surgem Plínio Marcos, o dramaturgo, e Luis Gustavo, o ator, em Beto Rockfeller — produção a apresentar o primeiro anti-herói na telinha do Brasil. Num outro dia, topa-se com Chico Buarque, também em 1979 — um pouco ébrio, é verdade —, a falar sobre sua arte, e a ditadura militar (logicamente), que caminhava para uma "abertura"... E para fazer as perguntas: atrizes como Dina Sfat e diretores como Luís Antônio Martinez Corrêa (questionando incisivamente, e sem "homenagens" constrangedoras). Num terceiro dia, subitamente, Tadeu Jungle comanda a Fábrica do Som. E mostra o Língua de Trapo, quando ainda havia humor inteligente... na televisão. Músicos querendo tocar bem, mesmo sendo jovens — e não querendo só aparecer, sair em capas de revista ou "pegar" modelos de ocasião... Era uma outra sociedade, era uma outra televisão. Ou seria o contrário? O fato é que a TV Cultura presta esse serviço, ao telespectador, levando ao ar, justamente, o melhor de seu acervo, em 40 anos de atuação. Basta sintonizar o canal às oito da noite. (No site, é possível montar a própria grade de programação.) Que tudo isso caia no YouTube é a nossa esperança... para as gerações pós-televisão.
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>>> TV Cultura - 40 anos
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Imprensa
>>> Revista Serrote, número 2
Para quem mal terminou de conhecer a revista Serrote, seu segundo número saiu até que rápido. E sem perder o ritmo (como acontece com a maioria das revistas): uma edição densa, e rica, tanto quanto a anterior. Um dos grandes destaques é o texto de Alice W. Flaherty, sobre "hipergrafia" — na verdade, o primeiro capítulo de seu livro The Midnight Disease: the Drive to Write, Writer's Block, and the Creative Brain. Obviamente, a respeito dos que escrevem demais, enfatizando as ligações perigosas da escrita com doenças do cérebro, como epilepsia e transtorno bipolar. Em escritores notáveis como Dostoiévski, Poe e Lewis Carroll. Com belas reproduções de quadros do argentino León Ferrari... Um conto de Raymond Carver, agora editado pela Companhia das Letras, "Me telefone se precisar", é, igualmente, um dos pontos altos desta Serrote. Onde um casal, à beira da separação, tenta se reconciliar, em meio a familiares e casos extraconjugais. No lugar de desenhos, como os de Saul Steinberg (na número 1), o encarte traz quadros de Gerhard Richter, a partir de fotos do grupo Baader-Meinhof. James Agee, crítico de cinema, retoma a "grande era da comédia", com Lloyd e Keaton (entre outros); Alfred Polgar continua a série (intitulada "reis do riso"), com Chaplin; e ninguém menos que Antonio Candido encerra, com seu manifesto sobre o "grouchismo". Rodrigo Naves cai aos pés (ou, talvez, às pernas) de Gisele Bündchen. E Vila-Matas escreve sobre Lisboa — na realidade, um trecho de El viento ligero en Parma (2008, ainda inédito por aqui). Tudo isso sem contabilizar Ricardo Piglia, Gore Vidal e John Updike. Serrote, em apenas dois números, se firmou como uma das revistas mais inteligentes do Brasil atual. A anos-luz de nossos diários e nossas semanais...
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>>> Revista Serrote, número 2
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Julio Daio Borges
Editor
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