DIGESTIVOS
Sexta-feira,
9/10/2009
Digestivo
nº 435
Julio
Daio Borges
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Imprensa
>>> Das mentiras que executivos de jornal contam a si próprios
Numa verdadeira encruzilhada, entre desaparecer como papel, vender seu conteúdo ao Kindle da Amazon e fechar seus sites na internet, os jornais, como empresas que são, talvez tenham um problema ainda maior: de cultura. Quem afirma é Judy Sims, uma blogueira de Toronto, que se especializou em mídia on-line. Em "10 mentiras que os executivos de jornal estão contando a si próprios", Sims conclui que talvez os jornais não tenham mesmo salvação — por um problema, como diz o pessoal da publicidade, "de DNA". Primeiro, os executivos de jornal disseram que poderiam administrar a "mudança de paradigma" mantendo a organização unida. Judy Sims discorda: as operações de internet dos jornais nunca vão deixar de ser deficitárias, se ficarem eternamente sob o "guarda-chuva" da edição em papel... Em segundo lugar, as forças de vendas dos jornais não estão conseguindo vender anúncios para a edição impressa junto com anúncios on-line. O ideal, segundo Sims, seria, justamente, separar as forças de vendas. Conclusão: juntar "impresso" mais "internet", tanto para jornais quanto revistas, gera acomodação nos sites (dessas empresas), que desistem de lutar para sobreviver (sendo que o papel vai acabar...). Em terceiro lugar, o Google não está matando os jornais, como muitos dizem — se alguém matou os jornais, lá atrás, foi o Craigslist (o maior site de anúncios da internet). Quarto: "fechar o nosso site criará 'escassez' e valorizará seu conteúdo" — outra mentira, segundo Sims, porque quando não conseguirem entrar, os internautas vão simplesmente procurar (e ler) em outro lugar... Quinto: "nossos leitores já pagaram por notícias antes; um dia voltarão a pagar" — Sims ironiza: "Será que pagaram? E será que um dia eles vão voltar?". Sexto: "receitas on-line não são suficientes para sustentar as nossas redações" — verdade, brinca Sims; por isso os jornais têm de diminuir suas redações... Sétimo: "ninguém faz reportagens como nós, jornalistas" — Sims: "O blogueiro que melhor cobre a parte policial de Chicago, hoje, tem... 16 anos!". Oitava mentira: "nossos leitores não são confiáveis, quanto mais essa história de 'jornalismo colaborativo'..." — Sims: "seus leitores só irão se desenvolver se um dia vocês mesmos deixarem...". Nona: "a democracia estará ameaçada sem os jornais" — Sims? "Lamento informar que esse 'vácuo' será preenchido, de algum modo...". Décima (e última): "eu, como jornalista, posso dar um banho nesses blogueiros de agora, mesmo estando off-line". Sims? "Pare de sonhar, jornalista, e olhe em volta: você acaba de ficar obsoleto".
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>>> Top 10 Lies Newspaper Execs are Telling Themselves
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Música
>>> Pelo Sabor do Gesto, de Zélia Duncan
O melhor disco de Zélia Duncan foi Sortimento (2001), que gerou, não por acaso, Sortimento Vivo (2002). Na sequência, Eu me transformo em outras (2004) se revelou um álbum de gravações excessivo, sem muita coesão. Pré Pós Tudo Bossa Band (2005) prometia uma revolução, um "movimento" — contudo, surpreendentemente, entregava um disco mais homogêneo, e menos pretensioso. A entrada de Zélia Duncan nos Mutantes (2006) foi mais uma "farra", ou um "favor" à amiga Rita Lee (que concedia suas bênçãos, mas que ainda se lembrava do encontro, traumático, com Arnaldo Batista na época de Bossa'N Roll...). Os duos com Simone (2008) — que até Nelson Motta, o mais político de todos, considera que "se desencaminhou" — francamente, ninguém entendeu (ou escutou)... Agora, com Pelo Sabor do Gesto, Zélia Duncan talvez retome a trilha perdida desde Sortimento, passando pelo bom Pré Pós Tudo Bossa Band, sem grandes invencionices, com algumas incursões pela música brasileira e ótimos rocks (que é o que ela faz melhor). O disco abre com "Boas Razões", versão de Alex Beaupain, compositor francês de trilhas. A participação, OK, de Fernanda Takai parece sugerir as pazes de ZD com o rock'n'roll (a origem de ambas). A radiofônica "Todos os Verbos" merecia virar hit por versos como "Errar é útil", "Sorrir é rápido", "Não ver é fácil" e "Pensar é ser humano"... "Telhados de Paris" (reforçando o sotaque afrancesado do álbum), de Nei Lisboa, confirma que Zélia Duncan poderia ter sido, só, intérprete (se quisesse). "Tudo sobre Você" — a oficialmente radiofônica — é alegrinha como um jingle, mas falta, em algum ponto dela, energia. "Pelo Sabor do Gesto", a própria, de Beaupain (de novo) é a mais introspectiva do disco e merece ser colocada mesmo no centro — pois trata de um tema delicado: traição. "Ambição", da "mestra" Rita Lee Jones, soa beaucoup plus "ameilleurée". Assim como soa bela a evocação, de Marcos e Paulo Sérgio Valle: "Os Dentes Brancos do Mundo". "Aberto" remete aos bons momentos de Zélia Duncan (1994), Intimidade (1996) e Acesso (1998). E "Nem Tudo" ajuda a encerrar, claro, com Alice Ruiz e Itamar Assumpção. Zélia Duncan gravou sua obra-prima, se consagrou, se perdeu como todo mundo e, agora, parece que está se reencontrando...
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>>> Pelo Sabor do Gesto
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Cinema
>>> Caramelo, de Nadine Labaki
Caramelo, na prateleira da locadora, parece mais um "filme de mulher", despistando a audiência masculina desde a capa. Mas Caramelo - além de ter uma das diretoras (e atrizes) mais bonitas do cinema atual, Nadine Labaki - é um retrato delicado da vida em Beirute, no Líbano (sempre acossado por guerras). Talvez a suavidade resida, justamente, na realização de Labaki, que parece dar - à fotografia, às atrizes e às situações - a mesma atenção minuciosa que sua personagem, Layale, dedica ao quarto do amante (quando o espera para comemorar seu aniversário). Uma evocação, talvez distante, seja Amor à Flor da Pele (2000), aquele longa de Hong Kong - em que uma bela protagonista, de coloridos vestidos, movia elegantemente seus quadris ao som de... Nat King Cole. E onde o pecado ficava apenas sugerido, com a maior discrição... A história de Layale, e seu homem casado, entretanto, não é a única. Rima - que trabalha no mesmo salão em que Layale faz depilação (com caramelo) - é uma cabeleireira que, pela sua vestimenta, lembra a nossa Cássia Eller... e, claro, sente atração por mulheres. Sua maior transgressão, no entanto, é convencer sua cliente mais fiel, e bonita, a cortar seus cabelos de propaganda de xampu... Já Rose - a costureira da vizinhança - passa a vida inteira cuidado da irmã louca e, agora, sente o amor bater à sua porta; mas, tão desajeitada, pela falta de prática, quer vivê-lo e não sabe bem como... Nisrine - que vai se embelezando à medida que o longa se desenvolve - está noiva, mas não é mais virgem - e não tem coragem de enfrentar a família conservadora do futuro esposo... Para terminar, Jamale é uma neurótica que parece ter saído de um filme de Almodóvar. Lutando - como tantas hoje - para não envelhecer e ter de assumir a idade, revela-se, na maior parte do tempo, uma palhaça - ao tentar lutar contra a marcha inexorável... dos anos. Nadine Labaki foi muito feliz em nos mostrar que mulheres têm o direito de ser... mulheres - mesmo em meio à guerra mais sangrenta. Talvez ensine, também, às destrambelhadas de Sex and the City o que é, simplesmente, ser mulher.
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>>> Caramel (Trailer)
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Julio Daio Borges
Editor
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