DIGESTIVOS
Sexta-feira,
25/12/2009
Digestivo
nº 446
Julio
Daio Borges
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Internet
>>> Ascensão e queda do MySpace
Quem apenas viu o fechamento do escritório do MySpace no Brasil, não sabe, da missa, a metade. Matthew Garrahan, do Financial Times, no início de dezembro, tomou coragem para dissecar o cadáver. Garrahan refaz o caminho desde a negociação com Murdoch e a aquisição, pela News Corp, da maior rede social da internet em 2007 (crescendo, então, a uma taxa de 70 mil usuários por dia). Como os jovens "assistiam cada vez menos televisão e liam cada vez menos jornais" (segundo o próprio Murdoch), fazia sentido a News Corp lançar seus tentáculos sobre a internet. O MySpace foi comprado por 580 milhões de dólares e, para a alegria de Murdoch, meses depois fechou um acordo de publicidade com o Google no valor de 900 milhões (garantindo lucro futuro à operação). Murdoch imediatamente entrou em lua de mel com um dos fundadores do site, Chris DeWolfe, e passaram a desfilar juntos até pelo fórum de Davos. Um ano e três meses depois da aquisição, as receitas mensais do MySpace saltaram de 1 para 50 milhões dólares. Escritórios foram abertos no Japão, na Coréia do Sul, na China e no Brasil. Mas, ainda em 2008, uma ameaça surgia no horizonte: o Facebook, uma rede social aparentemente mais fácil de usar, estava despontando e crescendo mais rápido que o MySpace. Murdoch apostara que o site faria 1 bilhão de dólares em receitas no ano passado, mas, como não cumpriu a meta, seu outrora menino-prodígio, DeWolfe, foi dispensado em abril deste ano. 40% dos empregados do MySpace foram mandados embora, sua participação no mercado de redes sociais caiu de 66 para 30%, e o Facebook atingiu 300 milhões de usuários. Para completar, o MySpace não conseguiu entregar o que foi combinado com o Google — o que resultará em perdas, para o site, de 100 milhões de dólares em 2009. Executivos da News Corp acusam os fundadores do MySpace de falta de estratégia, de trabalharem em muitos produtos ao mesmo tempo e de não saberem receber ordens. Já DeWolfe e Anderson, o outro fundador, acusam a News Corp de se focar demais em pageviews (esquecendo-se de tecnologias como o Ajax); de abandonar o MySpace em prol do Wall Street Journal; e de, no meio da crise, sacrificar o dia a dia da empresa em nome das demissões e dos cortes. Murdoch trocou a diretoria do MySpace, ao convocar Jonathan F. Miller, ex-CEO da AOL, e Owen Van Natta, ex-Amazon. E o site, oficialmente, desistiu de competir com o Facebook. Matthew Garrahan, em sua reportagem no FT, prefere não fazer julgamentos sobre o futuro do MySpace — mas fica claro que, como em tantas outras fusões da velha mídia com a nova, ainda há muitas arrestas a aparar.
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>>> The rise and fall of MySpace
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Literatura
>>> Clássicos da Penguin pela Companhia das Letras
Enquanto se divulga a notícia de que editoras brasileiras correm atrás da digitalização — por força da grande aceitação do Kindle nos Estados Unidos —, a Companhia das Letras se acautela, igualmente, em outra direção: segue apostando nos pocket books. Reforçando sua entrada nesse mercado, em 2010 a editora de Luiz Schwarcz lança os primeiros volumes em associação com a clássica Penguin Books. Se a britânica se consagrou no mundo todo, por popularizar edições de clássicos a preços convidativos, agora a brasileira poderá desfrutar desse catálogo, brindando o leitor do português brasileiro com grandes traduções. Neste final de ano, a Companhia das Letras distribuiu um teaser do que será o projeto em algumas semanas. Trata-se de uma edição limitada com dois ensaios de Italo Calvino, retirados de Por que ler os clássicos — igualmente um clássico que a própria editora lançou em seu selo Companhia de Bolso. Em capa dura, o volume é todo preto, com exceção de uma bela foto ilustrativa, uma faixa branca, com o tradicional "logotipo do pinguim" e as palavras "Penguin" e "Companhia", acima de "Clássicos". O projeto gráfico, que moderniza o original, é do warrakloureiro. A expectativa, agora, é pelo preço. Se Luiz Schwarcz conseguir argumentar, como Steve Jobs, que adquirir um produto bem acabado é muito mais recompensador do que descolar um "genérico", através da internet, esta nova iniciativa deve prosperar. O risco, talvez, é a coleção nova, de clássicos, "canibalizar" a coleção, não tão nova, de livros de bolso. Mas os estrategistas da Companhia das Letras devem estar preparados. O Kindle e a Amazon, por um lado, e o Google (com seu Google Books), por outro, acenam com uma digitalização sem limites, de obras clássicas na história da humanidade. A primeira disponibilizando o acervo da maior livraria do mundo e o segundo, os acervos das principais bibliotecas dos Estados Unidos. Vai chegar o dia em que teremos tudo o que já caiu em domínio público no alcance da mão, a Companhia das Letras e a Penguin, contudo, apostam que esse dia está mais longe de chegar do que parece — ou mesmo, se chegar, que o futuro permitirá a coexistência de edições de papel e eletrônicas.
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>>> Clássicos da Penguin pela Companhia das Letras
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Além do Mais
>>> As 48 Leis do Poder, por Robert Greene
Numa época de estímulo à democracia e de fragmentação crescente do poder — de pequenos grupos até simples indivíduos —, o poder, absoluto, continua importando? Não é uma questão diretamente respondida por Robert Greene, em seu As 48 Leis do Poder, mas, lendo nas entrelinhas, encontramos a resposta. Greene acredita que as relações de poder, em qualquer tempo, não mudam. Ganhar poder, saber administrá-lo e, sobretudo, nunca perdê-lo são estratégias importantes sempre. E, para sobreviver na selva de poderosos até impotentes, Greene consolidou suas 48 Leis — que nada mais são que o fruto da leitura de mestres como Maquiavel, Sun Tzu e Carl Von Clausewitz. A edição compacta, em formato de bolso, oferece algumas páginas sobre cada "lei", ilustradas com citações, exemplos e parábolas. Em termos de consumo, o volume poderia ser digerido "em uma sentada", como se diz — mas algumas mensagens, mais densas, exigem reflexão de horas e, às vezes, dias. Algumas das Leis de Greene são: "Não confie demais nos amigos"; "Oculte suas intenções"; "Vença por suas atitudes"; "Ao pedir ajuda, apele para o egoísmo das pessoas"; e "Aniquile totalmente o inimigo". Numa época de correção política, quando todos subitamente ficaram bonzinhos, e num ambiente onde a diferenciação social foi para o espaço (ou, melhor dizendo, ciberespaço), essas "leis" parecem meio fora de lugar — mas, surpreendentemente, muitas ainda vigoram, pois quem prega a nobreza de intenções, hoje, nem sempre a pratica. Seguem as Leis: "Cultive uma atmosfera de imprevisibilidade"; "Não ofenda a pessoa errada"; "Concentre suas forças"; "Controle as opções"; e "Seja aristocrático". Algumas parecem contraditórias, porque autoconfiança, em princípio, não combina com humildade, digamos assim, mas talvez as "leis" devam ser aplicadas caso a caso. Em geral, Greene é maquiavélico até a medula, combinado, se possível, com uma observação astuta de Voltaire: "Se Maquiavel tivesse tido um príncipe como discípulo, a primeira coisa que teria lhe recomendado era escrever um livro contra o maquiavelismo". Mais algumas Leis de Greene: "Saiba o tempo certo"; "Ignorar é a melhor vingança"; "Nunca mude muita coisa"; "Aprenda a parar"; e "Evite ter uma forma definida". Como toda habilidosa formulação, As 48 Leis do Poder pode ter um efeito revelador logo no início, mas que tende a se dispersar quando, progressivamente, cai em domínio público. As "leis" valem, portanto, pelo que têm de mais chocante, desumano e mesmo inadmissível.
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>>> As 48 Leis do Poder
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Julio Daio Borges
Editor
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