DIGESTIVOS
Sexta-feira,
1/1/2010
Digestivo
nº 447
Julio
Daio Borges
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Literatura
>>> As editoras contra o Kindle
O Kindle, o leitor de livros eletrônicos da Amazon, tem gerado respostas ambíguas. Se em uma semana ficamos sabendo que editoras brasileiras, por exemplo, correm para digitalizar seus títulos, em outra descobrimos que editoras americanas, grandes, seguram títulos novos, no Kindle, para que não "canibalizem" suas respectivas versões em papel (nas livrarias). Como na indústria do cinema, onde um DVD (ou, será?, Blu-ray) só está "liberado" para o comércio depois de meses da estreia nas salas de exibição, a Simon & Schuster quer "segurar" seus lançamentos (em capa dura, nos Estados Unidos) durante quatro meses, antes de disponibilizar suas respectivas versões eletrônicas (a uma fração do preço, evidentemente). A Amazon, embora venda, também, as versões em papel, responde que — meses depois — o leitor do Kindle perderá o interesse, ou adquirirá outro título, talvez de outra editora, que esteja disponível eletronicamente... Blogueiros igualmente acusam editoras como a Simon & Schuster — e outras, como o grupo francês Hachette — de criar uma "falsa escassez", pois "segurar" um livro em versão eletrônica pode, futuramente, equivaler a tentar segurar versões "pirata" de Harry Potter, U2 ou Paulo Coelho, que sempre escapam... E por falar no mago brasileiro, a Veja anuncia que ele foi o "primeiro" autor nacional a suplantar as editoras — e negociar, diretamente, com a Amazon. Não é, obviamente, uma ideia original dele (nem da Veja), é algo que já estava previsto no script: afinal, como escreveu Paul Graham, em setembro, vamos caminhando para um mundo "post-medium" ou, em bom português, "pós-mídia" (física). A Amazon, embora se faça de amiga dos jornais (com o Kindle DX), pode, num futuro, tornar-se, sim, a única editora. Como a mesma Apple pode. E como o Google, também, pode... Para complicar, ainda mais, o raciocínio, surgiu a notícia de que o Kindle ameaça ser "hackeado"... Se os editores, e os autores, brasileiros, em outras épocas, nem sonhavam com a "digitalização", agora terão de pensar em um melhor argumento que o do "cheiro", da "textura", do "gosto"...
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>>> Two Major Publishers To Hold Back E-Books
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Além do Mais
>>> O Futuro da Memória, de Gordon Bell e Jim Gemmell
A evocação do Big Brother de George Orwell — que a todos observa, controla e comanda —, quando surge, é sempre pejorativa. Seja por causa do Big Brother, o programa de televisão (que, aliás, tem pouco a ver com isso); seja por causa do medo de que o estado ou "as empresas" ou algum ditador venha(m), futuramente, a fazer isso. Contudo: algo de que não nos damos conta é que estamos, mais e mais, despejando, naturalmente, nossos dados, e registrando nosso dia a dia, e nossos movimentos, através da internet e de dispositivos a ela conectados. Por exemplo, nossos e-mails: quem usa uma ferramenta como o Gmail, ou similar para webmail, está registrando, por escrito, parte dos seus dias — para que, no mínimo, o Google acesse e saiba tudo o que houver ali para saber. Do mesmo jeito, quem tira fotos e, continuamente, as publica na Web. Ou, ainda, as "redes sociais", onde registramos nossas relações, nossos círculos, nossos laços afetivos. Ou, mais prosaicamente, os bancos e as empresas de cartão de crédito, que estocam as informações sobre tudo o que consumimos, nossos hábitos, nossas preferências. Gordon Bell e Jim Gemmell, em O Futuro da Memória (Campus), simplesmente defendem que não há como fugir — e que esse processo, talvez, não seja tão trágico quanto previu Orwell em 1984. Bell e Gemmell acreditam que, no futuro, com a queda histórica no preço de armazenamento, processamento e transmissão de informações (Lei de Moore), nossa vida inteira registrada não vai custar muito caro. E com um buscador extremamente poderoso — como um Google (auto)biográfico —, poderemos resgatar desde imagens até cenas inteiras, desde conversas até vivências inteiras. É o que estão chamando de Total Recall. As implicações, em muitas áreas, são incontáveis. Implicações éticas, inclusive. Pessoas mortas, por exemplo, nunca deixarão de "existir" — por causa de seus registros. E talvez o "memorioso", do conto de Borges, finalmente se materialize — com o alcance, infinito, da tecnologia... (Lembrando que leva, justamente, uma vida para reconstituir toda uma vida...)
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>>> O Futuro da Memória
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Internet
>>> Como ganhar US$ 1 milhão na internet, de Ewen Chia
Livros sobre "como ganhar dinheiro" costumam despertar ceticismo. Quem está ganhando dinheiro, não está escrevendo livros sobre isso. Portanto, quem os está escrevendo, não está efetivamente ganhando. Ou está ganhando — se for alguém como Paulo Coelho. Escrever e ganhar dinheiro — principalmente no Brasil — costumam ser duas atividades conflitantes. A não ser que o escritor produza best-sellers como o autor d'O Alquimista. Enfim: Ewen Chia não é um nome conhecido do grande público, mas seu livro não deve ser julgado só a partir do título. Chia, natural de Cingapura, fez dinheiro, de verdade, na internet e está dividindo agora sua experiência — seu volume é sobre isso. Mas para que ele está fornecendo seus segredos, assim, "de bandeja"? Porque Chia também vive de palestras e de treinamentos. Ou seja: embora pareça mais um "manual" só para enriquecer seu autor, Como ganhar US$ 1 milhão na internet (Campus) contém dicas, no mínimo, interessantes. Chia ensina, sobretudo, a vender qualquer produto através da internet. Não ilude ninguém com a lenda de "viver de publicidade" (apenas) — vai direto ao ponto e insiste no que dá realmente dinheiro on-line, o e-commerce. Seu método consiste em montar uma base de clientes interessados a partir do Google AdWords e de outras ferramentas que permitam, ao vendedor iniciante, estruturar um bom mailing. Do Google para uma eficiente landing page, trabalha-se com "nichos de mercado", oferecendo produtos especializados. No princípio, vendendo através de sistemas de afiliação (como, no Brasil, Submarino, MercadoLivre e Buscapé). Numa etapa subsequente, produzindo seus produtos e vendendo diretamente — ou, até, implementando seu próprio sistema de afiliação (para vender em grande escala). Parece uma conversa abstrata demais, para quem não conhece nada do assunto, mas Chia dá exemplos concretos — e se o leitor for esperto, fará a analogia com a sua realidade e com o seu negócio. Como ganhar US$ 1 milhão na internet foi, aparentemente, escrito naquele tom de quem já ganhou o mundo, mas contém informações úteis, embora na prateleira ele se disfarce de autoajuda...
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>>> Como ganhar US$ 1 milhão na internet
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Julio Daio Borges
Editor
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