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Sexta-feira, 26/2/2010
Digestivo nº 455
Julio Daio Borges
+ de 2100 Acessos




Internet >>> The Accidental Billionaires, de Ben Mezrich
Quem se deslumbrou com o Facebook, ficou paparicando Mark Zuckerberg à distância e não podia perder nenhum um segundo do "Zuckerberg day" no Brasil, deveria ler Accidental Billionaires, de Ben Mezrich. O mesmo autor do espetacular Quebrando a Banca — sobre os geniozinhos do MIT que venceram Las Vegas — resolveu se debruçar sobre a criação do Facebook, a maior rede social do mundo, e escreveu um romance de final "não [muito] feliz"... Uma curiosidade para nós, brasileiros, é que sua principal "fonte" foi Eduardo Saverin, um carioca cujo pai foi transferido para Miami, quando ele tinha 13 anos, e que terminou indo estudar em Harvard, participando dos early days do Facebook e sendo "diluído", como sócio, por Mark Zuckerberg. Disputas de paternidade, de empreendimentos bem-sucedidos, sempre existiram — mas, por mais que a versão seja parcial, terminamos o livro (apenas disponível no Brasil em formato Kindle) com uma sensação, no mínimo, esquisita. Mezrich não questiona o gênio de Zuckerberg — afinal de contas, o primeiro bilionário da História aos 25 anos... Contudo, onde há fumaça, há fogo... Segundo a história, Zuckerberg teria "se inspirado" num outro site ainda em projeto, o Harvard Connection — e teria forjado o Facebook depois de marcar uma reunião com seus fundadores, mergulhar no código fonte e, quando a inspiração se tornou inescapável, correr de telefonemas, e-mails e demais comunicações... Vale dizer que hoje — com o Facebook valendo bilhões — Zuckerberg entrou num "acordo" com os fundadores do Harvard Connection de mais de 50 milhões de dólares... Eduardo Saverin, por sua vez, ganhou finalmente crédito como co-fundador (também depois de anos); porém, continua, na justiça, brigando... (tinha 30% quando tudo começou). Felizmente, nem só de fofocas e histórias tristes é composto Accidental Billionaires. Não tão bem escrito quanto Quebrando a Banca, ainda assim registra cenas impagáveis, principalmente para profissionais ligados à internet ou simples entusiastas: Zuckerberg programando noites afora; o sucesso inicial em Harvard; a adoção imediata na Ivy League; a mudança para a Califórnia; a palestra de Bill Gates que o fez desistir de Harvard; a entrada de Sean Parker (do Napster e do Plaxo); o encontro com Peter Thiel, o angel investor... A ascensão é vertiginosa e nem parece que ela aconteceu debaixo dos nossos narizes (de 2004 pra cá)... Tanto que vai virar filme. Accidental Billionaires é quase um thriller. Se não fosse "vida real", ninguém acreditaria... [Comente esta Nota]
>>> The Accidental Billionaires
 



Além do Mais >>> O Iconoclasta, de Gregory Berns
Muita gente queria ter inventado o iPod, mas nem todo mundo teria a mesma coragem do gênio da Apple. Gregory Berns, pioneiro da "neuroeconomia", escreveu Iconoclasta (Record), para mostrar que uma ideia, só, não basta. "Iconoclasta", a palavra, vem do grego e significa, literalmente, "destruidor de ícones". O iconoclasta bem-sucedido, segundo Berns, precisa de, no mínimo, três características. Primeiro, precisa de uma percepção diferente. O iconoclasta não vê, apenas, as coisas como elas são, mas como elas podem ser. E, para enxergar diferente, é preciso "sair da rotina" - é preciso alimentar-se de informações novas. O iconoclasta é um inovador. O iconoclasta é um contestador, o iconoclasta, como diz o autor, se orgulha da sua "não conformidade" - e o iconoclasta, como Richard Feynman, tem "uma indisposição [natural] para aceitar qualquer afirmação de autoridade". O iconoclasta é um rebelde, em suma. Segundo: ele não deve ter medo. A maioria das pessoas sofre ou de "medo da incerteza" ou de "medo do ridículo". O iconoclasta tem outro "padrão" de risco. Ele usa essa fonte natural de stress, o medo, em benefício próprio - e converte-o numa oportunidade, para descobrir algo novo. O iconoclasta não tem medo de falhar, pois, como diz a frase de Burt Rutan (evocando Henry Ford): "O teste leva ao fracasso, e o fracasso à compreensão". O iconoclasta tem aquela sensação (nas palavras do autor): "Se eu não fizer, ninguém mais fará". O iconoclasta não teme as consequências físicas, sociais, legais e, principalmente, financeiras. Terceiro (e último): ele precisa ter "inteligência social". Entre as "pessoas inovadoras" e as "pessoas imitadoras", frequentemente, existe uma distância. E o iconoclasta precisa de "conectores" - ou precisa ser um "conector" ele próprio; ou, até, fabricar seus "conectores". As pessoas comuns precisam de algo familiar para aceitar uma ideia nova. E quem vai produzir essa "familiaridade" são os conectores. É a diferença entre Van Gogh, o gênio que se suicidou, e Picasso, o gênio que conquistou o mundo. É - se você quiser - a diferença entre o "gênio verdadeiro" e o tal "gênio incompreendido"... Gregory Berns estudou iconoclastas desde Walt Disney até Warren Buffett, desde Martin Luther King Jr. até o nosso Steve Jobs (que, voilà, se tornou um ícone). Seu livro é delicioso, tem a "duração" ideal e deveria ser obrigatório para quem quer evitar - como sabiamente profetizou Nietzsche - o "espírito de rebanho"... [2 Comentário(s)]
>>> O Iconoclasta
 



Internet >>> The Future of the Internet, de Jonathan Zittrain
A discussão sobre a Apple querer controlar a Web, ou construir uma nova rede a partir de iPads, não é original. Remonta ao lançamento do iPhone, e a um livro que já aprofundava essas questões em 2008, The Future of the Internet — And How to Stop It, de Jonathan Zittrain. Advogado, professor de Oxford e também ligado a Harvard, Zittrain escreveu uma "introdução" em que diz tudo: Steve Jobs foi responsável pela revolução dos computadores pessoais, no final da década de 70, mas, nos anos 2000, era o mesmo sujeito que ansiava por fiscalizar (e taxar) os aplicativos para o iPhone. Zittrain argumenta que os computadores pessoais (ou PCs, em inglês), combinados com a internet, permitiram uma infinidade de aplicações desde as planilhas eletrônicas (o VisiCalc é de 1979) até a Web 2.0 (embora ele tema que alguém possa vir a controlar essa plataforma — o Google?). Se os PCs têm bugs, a rede traz vírus e Web está sujeita a invasões de hackers, por outro lado, essa mesma "abertura" deu origem a sistemas operacionais como o Linux, a verdadeiros movimentos como o do "software livre" e a monumentos da colaboração como a Wikipedia. Aliás, a história da enciclopédia on-line — contada por Zittrain — é uma das melhores até agora, segundo o próprio fundador, Jimmy "Jimbo" Wales. Bill Gates e a Microsoft podem ter sido identificados com o "mal" por terem dominado o mundo com o Windows durante décadas, mas Jonathan Zittrain não acha que Steve Jobs seja, exatamente, "bonzinho" — quando deseja restringir o acesso à sua plataforma e "cobrar", dos desenvolvedores, uma fração de tudo o que "roda" em iPhones (e, em breve, iPads). E quando o Google fez sua IPO e lançou seu mantra "Don't be evil", era, naturalmente, à Microsoft que estava se referindo — mas o mundo nem sempre parou para pensar o quanto de informações pessoais o Google já detém... O livro de Zittrain é melhor no começo do que no final, e sua estrutura circular cansa um pouco, mas sua tese continua válida — sobretudo num mundo em que o iPhone vai se tornando o celular dominante e em que o iPad já acena no horizonte... [1 Comentário(s)]
>>> The Future of the Internet — And How to Stop It
 

 
Julio Daio Borges
Editor
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