DIGESTIVOS
Sexta-feira,
12/3/2010
Digestivo
nº 457
Julio
Daio Borges
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Imprensa
>>> O dilúvio informacional, segundo a Economist
Todo mundo tem problema com o excesso de informação. Então, todo mundo deveria ler o especial sobre "gerenciamento da informação", na Economist, com a capa "The data deluge". Sabendo que o volume de informações no mundo é multiplicado por dez a cada cinco anos, a revista cita a Cisco, para quem haverá 667 exabytes circulando pela internet em 2013. O que são "exabytes"? Depois dos megabytes ("mega"="grande", em grego), dos gigabytes ("gigante"), dos terabytes ("monstruoso") e dos petabytes, vêm os exabytes (=1 bilhão de gigabytes). Carl Pabo, um biólogo que estuda o processo cognitivo, acredita que há, sim, risco de "cognitive overload" (ou "sobrecarga cognitiva"). Para que se tenha uma ideia da explosão de dados recente, o Wal-Mart processa mais de 1 milhão de transações de consumidores por hora e o Facebook, a rede social de 400 milhões de pessoas, hospeda 40 bilhões de fotos. São 4,6 bilhões de celulares no mundo e entre 1 e 2 bilhões de pessoas usando a internet. A Economist considera que o crescimento da classe "média" no planeta — 1 bilhão a mais, de 1990 a 2005 — expande o número de pessoas educadas e, portanto, o volume de informação. "É uma coisa muito triste que, hoje em dia, haja tão pouca informação útil", declarou Oscar Wilde em 1894. Apesar do caos informacional aparente, muitas empresas acreditam que dados bem aproveitados possam gerar valor e, para marcas como o Google, eles valem ouro. (Na Netflix, a maior locadora de vídeos da internet, dois terços dos pedidos vêm de indicações dos próprios internautas.) Hal Varian, economista-chefe do gigante das buscas, conclui, na mesma Economist, que embora as informações estejam cada vez mais disponíveis, a habilidade de retirar "sabedoria" do "conhecimento" (como queria T.S. Eliot) continua escassa. E Craig Mundie, estrategista da Microsoft, declara que "a economia centrada em dados está apenas começando"... A revista ainda levanta questões de privacidade — embora muito jovem ache que isso é preocupação de "velho"; e embora as redes sociais se alimentem desse tipo de informação... "O que a informação consome é bastante óbvio: a informação consome a atenção do receptor", cunhou Herbert Simon, em 1971. (Quem está no Twitter, sabe muito bem...) A Economist, por fim, acredita que a especialização crescente do conhecimento está tirando a nossa capacidade de enxergar o todo (como indivíduos). Para resolver o problema do excesso de informação é melhor encará-lo de frente? Ou fazer meditação? ;-)
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>>> The data deluge | Data, data everywhere
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Literatura
>>> O negócio do livro eletrônico, por Jason Epstein
Jason Epstein ficou conhecido por escrever quase um clássico do mercado editorial: O Negócio do Livro (Record, 2002). Nele, falava das suas cinco décadas de experiência no assunto, enquanto revisitava iniciativas das quais participou: como a Library of America (a equivalente, nos EUA, da nossa Nova Aguilar), com Edmund Wilson; The New York Review of Books (sim, o célebre periódico — que ajudou a fundar); até um precursor do nosso Círculo do Livro (vendendo obras por catálogo); e até um encontro com Jeff Bezos, da Amazon (o qual foi aconselhado a abandonar o negócio porque, segundo Epstein, não havia como ganhar dinheiro com a venda de livros por correspondência...) E, para quem sentia falta da "voz da experiência", Jason Epstein ressurgiu agora, em março, no New York Review of Books, para comentar, justamente, sobre a "revolução" do livro eletrônico — do Kindle até o iPad. Começa afirmando que a transição da indústria do livro físico (das gráficas até as distribuidoras) para o livro eletrônico "no ciberespaço", "despachado para qualquer lugar da Terra", "de modo tão rápido e barato quanto um e-mail", está andando a passos largos e é irreversível. "Com chão tremendo debaixo de si", continua Epstein, é natural que editores mantenham um pé "no passado que desmorona", enquanto procuram "terreno firme" no futuro, para eles "hesitante", da "digitalização". "Novas tecnologias, no entanto, nunca pedem licença" e — evocando Joseph Schumpeter — alerta que, como os terremotos, elas "não estão abertas à negociação". Para Epstein, a capacidade, "sem precedentes", de "Kindles" e "iPads" oferecerem uma "plataforma multilíngue", com uma "escolha ilimitada de títulos", vai destronar o tradicional "sistema gutenberguiano" ("com ou sem a cooperação dos executivos do mercado editorial"). A digitalização, continua Epstein, torna possível um mundo em que "qualquer um [virtualmente] pode se considerar editor" e onde "qualquer um pode se chamar de autor". Contudo, alerta que o "solitário trabalho da criação literária", em ficção, "quase nunca é colaborativo": "As redes sociais podem ajudar na divulgação desse ou daquele título, mas violam a privacidade necessária para forjar a verdadeira literatura". A crítica, segundo Epstein, será mais necessária do que nunca; e "gênios literários" devem surgir nos quatro cantos do mundo. Direitos autorais, regulados de maneira diferente em cada país, perderão o sentido. E, "com a eliminação de gráficas, distribuidoras e livrarias" — do processo todo —, leitores de livros eletrônicos pagarão cada vez menos, e autores de livros eletrônicos ganharão cada vez mais (enquanto muitos grupos editoriais simplesmente desaparecerão...). Epstein ainda teme a pirataria e, comparando aos músicos, que podem viver de shows, camisetas e até propaganda, avisa que "escritores não podem se dar ao luxo"... Como já havia previsto a invasão, cada vez maior, dos best-sellers nas livrarias (em O Negócio do Livro), Epstein apenas espera que o livro eletrônico preserve o que chama de "nossa memória cultural" — sem a qual "nossa civilização entraria em colapso"...
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>>> Publishing: The Revolutionary Future
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Internet
>>> 10 anos de Jornalistas da Web, em livro
Quem se envolvia com jornalismo e internet, no início dos anos 2000, certamente deve ter conhecido a lista, no Yahoo Groups. Era a época, ainda, das "listas de discussão" por e-mail, onde você se inscrevia e começava a receber mensagens sem parar (dependendo do tamanho do mailing e do ânimo de seus participantes). A "Jornalistas da Web" chegou a disparar mais de mil mensagens por mês, no final do glorioso ano de 2001, mas continuou ativa e, inclusive, teve outro "pico" em 2008, com mais de 600 mensagens. Jornalistas da Web, além do sucesso da lista, transformou-se num site e, graças à perseverança de Mario Lima Cavalcanti (que quando o fundou era ainda estudante) está completando 10 anos. Para não chover no molhado, Mario não quis contar a história sozinho e convidou "crias" do site e outros participantes célebres do projeto que se tornaram "referência". O formato lembra, um pouco, o livro comemorativo da Blue Bus, que é "veterana" entre os sites de informação, mas, no caso do JW, circula, livremente, em formato PDF. Mario Lima Cavalcanti revisita as principais fases do Jornalistas da Web, desde a lista, que virou fonte de pesquisa no assunto, até os eventos, junto a universidades, que contaram com nomes como Cora Rónai e Pedro Doria, quando a internet brasileira ainda engatinhava. O JW foi um dos primeiros a investir em uma versão para smartphones (antes do iPhone) e, igualmente, soube valorizar o formato blog (quando a maioria dos jornalistas só o desdenhava). E, para não dizer que o Jornalistas da Web não virou papel, Mario Lima Cavalcanti lançou um livro, em 2008, intitulado Eu, mídia, com especialistas como Raquel Recuero e Ana Maria Brambilla. Agora, no PDF da "primeira década", os destaques são, além do próprio Mario, Pollyana Ferrari (que todo mundo, nessa área, conhece), Bruno Rodrigues (que todo mundo conhece, também, do Webinsider) e "discípulos" como Raphael "Butuca Ligada" Perret e Marco Bonito. Se não revela segredos, nem ensina o caminho das pedras, o livro comemorativo do JW tem o mérito de fazer voltar no tempo e lembrar que foi um longo percurso desde a bolha até a Web 2.0, até as redes sociais, até o Kindle. ;-)
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>>> Os Primeiros 10 Anos
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Julio Daio Borges
Editor
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