Quarta-feira,
19/2/2003
Digestivo nº 121
Julio
Daio Borges
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ÍNDIO QUER APITO
Bairros podem ter ambições? Segundo a Vejinha, sim, podem. A revista, nesta semana, elevou Moema à categoria de "super bairro". O que isso vem a ser? Segundo ela, uma distinção que quase equipara um bairro a uma cidade. Além de ser residencial, tem de incluir áreas de lazer, comércio e serviços os mais variados. A Vejinha considera que a grande ambição de Moema foi ser igual ao Itaim ou, no limite da vertigem, comparar-se aos Jardins. Será mesmo? Os Jardins se converteram num parque de diversões de grifes; ou então em via de escoamento do Centro e da Paulista. De qualquer jeito, um bairro dispendioso, visado e intransitável. Já o Itaim se espreme estoicamente entre a Nove de Julho e a Juscelino e, apesar da ameaça de restaurantes e escritórios, mantém-se residencial sobretudo. Resumo da ópera: o Itaim não é nenhum "super bairro"; e os Jardins, apenas uma excentricidade pela qual se paga caro. Seriam esses os horizontes de Moema e seus moradores? É provável que não. Moema foi residencial e acolhedor - até a ameaça do mar de prédios. (Será que é isso que a Vejinha quer, atrasadamente, estimular?) E Moema foi modicamente comercial, quando seus bares não eram "da moda" e o shopping center Ibirapuera era o máximo que se podia almejar. Quanto à segurança, está longe de ser verdade: há roubos, há assaltos, há seqüestros - muito antes dessa especulação editorial. No que se refere ao contingente de carros importados, pode até ser - ainda que não signifique nada (talvez uma inclinação de consumo tipicamente brasileira, que Freud pode explicar). Mas os moradores parece que gostam. Um deles declara que a grande coisa de Moema é parecer-se a "uma cidade do interior". (Será que tem idéia do quanto isso soa provinciano?) E a miss? (Existe miss bairro agora?) A Veja, grande ou pequena, faz o retrato do Brasil tacanho. De mentalidade tacanha. E parece que não quer mudar. Pobre Moema. Pobres habitantes. Civilização é também questão de como cada um se enxerga. E os nossos espelhos não parecem melhores do que os de Pedro Álvares.
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O super bairro |
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RIR É O MELHOR REMÉDIO
De 1989 a 1993, a pedido de Luiz Schwarz, Ruy Castro organizou suas antologias de mau humor, lançando-as pela Companhia das Letras. Sempre uma coleção de frases, sobre diversos assuntos, que poderiam (ou não) ter um tema central ("amor" e "poder", por exemplo, nas duas últimas). Em 2002, no entanto, Ruy reuniu os três volumes em um só e, de quebra, acrescentou mais 400 frases novas. Para quem não conhecia, trata-se - ao contrário do que prega o título - de uma celebração do bom humor, algumas vezes a ponto de arrancar gargalhadas do leitor. Esta versão condensada, em mais de 350 páginas, ousa em algumas coisas (as fontes, por exemplo, mudam o tempo todo), mas provoca saudade das caricaturas e da sobriedade editorial das primeiras edições. Um olho clínico percebe também diferença no conteúdo. A impressão é de que Ruy Castro quis popularizar ainda mais sua iniciativa, tirando alguns frasistas menos conhecidos do público brasileiro e acrescentando outros. Ganharam mais força, digamos, os nomes e os respectivos ditos de seus colegas e amigos de profissão. Estão lá, mais presentes: Ivan Lessa, Sérgio Augusto, Paulo Francis, Luis Fernando Verissimo e Millôr. Entraram na galeria, também, aforistas de outras órbitas: Agamenon Mendes Pedreira, Danuza Leão e Angela Ro Ro (entre outros). De qualquer maneira, os campeões de audiência continuam sendo os iniciadores das primeiras compilações. No time brasileiro: Nélson Rodrigues e Tom Jobim. No time internacional: Oscar Wilde, H.L. Mencken e Ambrose Bierce. Interessante notar como cada escolha revela uma preferência - apontando para futuros projetos do organizador. Afinal, todo mundo sabe que Ruy Castro escreveu a biografia de Nélson, dedicou uns quantos livros a Tom e traduziu Mencken e seus "insultos". A seleção de ditados e pensamentos caiu de moda nos últimos anos, ou então sucumbiu aos apelos da auto-ajuda. Ruy, felizmente, é do tempo em que se "nivelava por cima", sendo que uma máxima poderia equivaler a uma janela para determinado autor.
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Mau humor - Ruy Castro - 362 págs. - Companhia das Letras |
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O POVO NA TEVÊ
A Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados tem ganhado a mídia. Com a campanha "Quem financia a Baixaria é Contra a Cidadania" (maiúsculas por conta dos idealizadores), requentou o velho debate sobre se a tevê deve ser controlada ou não. É uma pauta recorrente em jornalismo - de discussão infinita, pois, uma vez retomada, não chega nunca a uma conclusão. Não vai ser agora. (Ou vai?) O deputado federal Orlando Fantazzini (PT-SP) parece empenhado: arranjou briga com o apresentador "Ratinho"; organizou "happenings" no Fórum Mundial Social; e atualmente abastece um site em favor da causa (eticanatv.org.br). Vale frisar que a idéia de controle não é má. Enfrenta sempre o mesmo tipo de resistência da classe artística: é, inevitavelmente, confundida com "censura". Jô Soares vive repetindo, por exemplo, em seu programa, há quase dez anos, que o único "controle" que deve haver é o "remoto". Todo mundo sabe que não funciona. Crianças não têm poder de decisão; adolescentes têm "meio" poder de decisão; adultos, às vezes, não têm "nenhum" poder de decisão. O Brasil parece ter ainda problemas com certas palavras. Censura é uma delas. Cidadania, outra. O site da campanha está infestado de palavras-chave e tudo indica que, mais uma vez, o debate vai ficar dando voltas - para não resultar em nada. (Ninguém fala em "moral", fala em "ética" [como se não fossem quase a mesma coisa].) Enfim. Uma das armas de Fantazzini e seus apoiadores (entidades e empresas) é a publicidade. O objetivo é intimidar os anunciantes de programação de baixo nível através de leis, tratados e denúncias. (Há espaço para quem se indignou enviar seu e-mail.) Tudo muito teórico ainda. Por quê? Porque os anunciantes querem vender - e, se procuram mídia de massa, vão acabar caindo nas atrações que exploram o tal "mínimo denominador comum": sexo, violência, mau gosto, etc. Os ataques ao capitalismo (ainda?) e à globalização (novidade...), como "os grandes responsáveis", estão escamoteados em artigos e entrevistas variados. Que não se transforme em mais uma discussão política - embora, pelo andar da carruagem, seja inevitável.
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Ética na TV |
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>>> RIR É O MELHOR REMÉDIO
"Atrás de todo homem bem-sucedido, existe uma mulher. E, atrás desta, existe a mulher dele." (Groucho Marx)
* esta é uma citação devidamente autorizada do livro Mau humor: uma antologia definitiva de frases venenosas, com tradução e organização de Ruy Castro
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Julio Daio Borges
Editor |
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