Quarta-feira,
4/2/2004
Digestivo nº 160
Julio
Daio Borges
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ESCRITOR: UMA AMBIÇÃO
Paulo Polzonoff Jr. se formou na escola da polêmica do jornalismo brasileiro e acaba de lançar o que chamou de “manual do canastrão literário”: “O Cabotino – um guia de anti-ajuda para literatos”, pela recém-surgida editora Candide, de sua namorada Paula Foschia e do cronista Cláudio Lampert. A idéia por trás do empreendimento editorial não é nova: lançar, em livro, escritores oriundos da internet, ou que se consagraram através dela. Como o caso de Polzonoff, que, apesar de uma sólida carreira jornalística (no Paraná, no “Jornal do Estado” e no suplemento literário “Rascunho”), desfrutou de uma certa notoriedade no meio virtual: seja em revistas eletrônicas (como este “Digestivo”); seja através do seu site pessoal e blog (polzonoff.com.br). Agora é o teste do livro, pelo qual passam alguns outros “blogueiros” e pelo qual já passaram (e passarão) projetos estritamente virtuais (como o “02 Neurônio” e, logo mais, o site “Paralelos”). Polzonoff, porém (ao contrário da imensa maioria que se lança em forma de poesia, conto ou romance), preferiu arriscar um ensaio de crítica literária – para, justamente, desencorajar seus colegas de geração: segundo ele, apenas “escrevinhadores” ou então “proto-escritores”. “O Cabotino”, seu “manual”, se compõe de 17 capítulos (mais um preâmbulo), em que Polzonoff aborda alguns dos principais cacoetes dos “escritores” do fim do século passado (alguns apontados pelas antologias de Nelson de Oliveira) até os de hoje. Eis os títulos: “Viciados em realidade”; “Veniz cultural”; “De hermetismo e outras escatologias”; “Academicismos”; “Relação com a crítica” – e por aí vai. Num estilo leve e direto (jornalístico), Polzonoff coloca o dedo na ferida, mas estranhamente não dá nome aos bois. (Num determinado capítulo, por exemplo, usa apenas as iniciais.) De qualquer forma, é uma estréia louvável – ainda que Polzonoff fique nos devendo a sua realização “literária”; nem que seja para colocar em prática o que agora andou pregando.
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O Cabotino - Paulo Polzonoff Jr. - 106 págs. - Candide Editora |
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A FEELING I CAN’T HIDE
Muita gente pensa que a idéia do Big Brother é recente e que os resultados (da iniciativa) sempre caminham para o que há de pior na humanidade. Não foi assim em 1969, quando os Beatles decidiram filmar sua rotina de composições e ensaios. A idéia era extrair dali um especial de televisão e acabou surgindo “Let It Be”, um disco lançado posteriormente (em 1970, depois do fim da banda), onde Paul McCartney era o líder e que revelava como a convivência (do quarteto) se tornara insustentável. John Lennon reclamaria, em entrevistas, da rotina de ter de comparecer às 8 da manhã ao estúdio e de ter de encarar dúzias de técnicos, equipamentos e câmeras. Mas, com todas as reclamações, eles produziram “Get Back”, “The Long and Winding Road”, “Don’t Let Me Down” e “Across the Universe” (descontando a faixa título). Agora pergunte o que aquela excrescência, que é o Big Brother Brasil, produziu até hoje? Nestes quase 35 anos, “Let It Be” ficou também conhecido pelos arranjos orquestrais introduzidos por Phil Spector (o produtor do álbum) em cima do que já havia sido gravado. George Martin (o quinto Beatle) teve sua revanche em “Abbey Road” (1969, o disco subseqüente e o canto de cisne dos Beatles), quando exigiu que fosse tudo como sempre foi (ou seja: ele comandando todos os detalhes – desde os arranjos até a pós-produção). Pelo visto, Martin nunca engoliu as intervenções de Spector, nem o circo armado em torno do “Big Brother”. Parece que contaminados por esse mesmo espírito (mais “purista”, digamos), os Beatles remanescentes (para quem não sabe: Paul e Ringo) decidiram relançar “Let it Be” no ano passado. Mas do jeito que ele foi concebido (antes do verniz de Phil Spector). A verdade nua e crua. Daí, talvez, o título do novo CD: “Let It Be... Naked”. Musicalmente, não é nenhum ovo de Colombo. Provavelmente se justifica graças à importância social dos Beatles: quando música e História, no mundo, foram a mesma coisa.
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Let It Be... Naked - The Beatles - Apple/EMI |
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REVELATIONS
Você provavelmente vai assistir a “21 gramas”, de Alejandro González Iñárritu, e não vai entender nada até a metade. Então alguém vai soprar no seu ouvido: – “O filme vai e volta no tempo; preste atenção”. Ah, agora, sim. Não é o David Lynch que você pensava; onde todo mundo sai sem entender nada (quando simplesmente não abandona a sala no meio da projeção). Mas as idas e vindas não são a tônica de “21 Gramas” (como foram, por exemplo, nos longas de Quentin Tarantino; o “flashback” – que Paulo Francis, quando não dormia, dizia que era um recurso mais velho que Orson Welles). Enfim. “21 Gramas”, segundo nos explica Sean Penn (um dos protagonistas), é o quanto perdemos de peso no instante em que morremos. (“Como eles pesam isso?”, você pode legitimamente perguntar.) O fato é que a primeira produção de Iñárritu, depois de “Amores Brutos” (2000), gerou grandes expectativas. Também pela atuação de Penn (sempre imperdível) e de Benicio Del Toro, o “coadjuvante” que, devagar, vai se consagrando. O que cansa é a (já) velha incursão no “mundo cão” – uma moda que contagiou todos os cineastas metidos a sérios (antigamente, os “engajados”); principalmente os do Terceiro Mundo. González Iñárritu é do México. Então mergulhamos, pela enésima vez, no crime, nas drogas, no submundo em geral. Benicio Del Toro é um ex-detento tentando se recuperar; Sean Penn, um pobre diabo, vivendo com um coração emprestado, enquanto se apaixona pela viúva do doador (Naomi Watts, uma mãe de família destroçada, alternando-se entre aulas de natação e noitadas com barbitúricos). Bem, já deu para sentir... o clima. Tanto que decidimos sugerir aos exibidores: – Que tal uma nova classificação, baseada, exclusivamente, nas cenas de violência? Assim, oscilaríamos menos entre a Hollywood, dos blockbusters e dos desenhos “à la” Walt Disney, e a “vanguarda”, que ainda não se cansou de “épater les bourgeois”...
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21 Grams |
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>>> EVENTOS QUE O DIGESTIVO*** RECOMENDA
(CN - Conjunto Nacional; VL - Shopping Villa-Lobos)
>>> Noites de Autógrafo
* Teatro de Arena: Uma Estética de Resistência - Izaías Almada
(3ª f., 3/2, 19hrs., CN)
* A Voz do Cidadão: Mútua-ajuda da Cidadania - Jorge Maranhão
(3ª f., 3/2, 19hrs., VL)
>>> Exposições
* Exposição de Jurandi Assis
(duração: de 2 a 17/2, CN)
>>> Shows
* Benny Goodman: o rei do swing - Traditional Jazz Band
(6ª f., 6/2, 20hrs., VL)
** Livraria Cultura Shopping Villa-Lobos: Av. Nações Unidas, nº 4777
** Livraria Cultura Conjunto Nacional: Av. Paulista, nº 2073
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Julio Daio Borges
Editor |
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