Quarta-feira,
24/1/2001
Digestivo nº 17
Julio
Daio Borges
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TUDO O QUE TEM A FAZER É FICAR PARADA COM CARA DE ESTÚPIDA
Exame, a revista corporativa, resolveu esmiuçar a escalada e as conquistas das mulheres no trabalho desde 1970. Embora, logo de saída, não haja comparação possível entre uma trajetória de séculos (masculina) e uma de décadas (feminina), Exame procurou razões para explicar o seguinte paradoxo: se as mulheres estão sendo contratadas, desde a base, em pé de igualdade com os homens, por quê é que no topo elas continuam em minoria escassa? Há um tempo atrás, prevalecia a teoria de que esse mundo - com seu cartesianismo, com suas máquinas, com sua objetividade - era lugar para homens, biologicamente e historicamente mais equipados que as mulheres, pouco afeitas ao racionalismo, ao mecanicismo, à praticidade. Hoje, essa teoria caiu por terra: primeiro, porque as mulheres se adaptaram (e pilotam qualquer engenhoca); segundo, porque as mulheres mostraram-se dotadas de certos talentos (insuspeitados) que os homens não têm; terceiro, porque a humanidade caminha para a androginia, em que os sexos e suas disparidades tendem a se diluir, cada vez mais. Onde está a resposta para o paradoxo então? A resposta está no tempo, e no amadurecimento daqueles que ainda vivem o dualismo estanque entre os dois sexos.
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Exame |
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COMPLEXO DE ÉDIPO REI
O Teatro Brasileiro de Comédia está cedendo uma de suas salas para a encenação de uma das mais sérias tragédias de todos os tempos: Édipo Rei, de Sófocles. O elenco, jovem demais para morrer, mostra muita dedicação e muito respeito pelo texto, trovejando em falas e contorcendo-se em gestos, como se aquela fosse a sua última apresentação sobre a Terra. Lamentavelmente, nem toda a platéia compartilha do transe, das agonias e dos horrores que cercam Édipo: a tradução peca por constantes referências à segunda pessoa do singular, distanciando o espectador médio do tempo em que se desenrola a cena. Os figurinos, simples, com predominância em preto, e a sonoplastia, puramente percussiva, visceral, remetem aos festivais da Antiga Grécia, em que o meio jamais competia com a mensagem. A história, todo mundo sabe: Édipo é abandonado pelo pais, Jocasta e Laios, que temem pela profecia de Apolo, que o condena a matar o pai e casar-se com a mãe; Édipo cresce como filho adotivo em Corinto, mas, também ciente da profecia, protegendo a vida de seus pais (adotivos), foge para Tebas, matando Laios no caminho e casando-se com Jocasta, na chegada - para ir descobrindo tudo isso, aos poucos. Para Sófocles, não há mortal que, na vida, escape da dor.
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TBC - Rua Major Diogo, 315 - Tel.: 3115-4622 |
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O CONSELHEIRO TAMBÉM COME (E BEBE)
A Brasserie do Nando fica na Francisco Leitão, uma travessa da Rua dos Pinheiros, quase paralela à Avenida Rebouças. Estabelecimento silencioso, de garçons bem educados, prima por uma decoração cuidadosa, com pratos na parede, telas suaves, e um cardápio ilustrado a mão. O Nando atende ao telefone e parece assistir a todos os movimentos de seu restaurante com muita atenção. A trilha sonora é pronunciadamente latina e as mesas, sóbrias, forradas com toalhas brancas. O cardápio é bastante criativo, oferecendo salada de endívias, com queijo brie e fatias de manga; ravioli de pêra, ao molho de rochefort; crepe suzette, que hoje está meio fora de moda, mas que tem o seu lugar; e uma boa gama de drinks, para quem quiser esquentar os motores. Não tem manobrista, mas tem estacionamento na porta. O luminoso de neon, na fachada, sugere o preciosismo do dono, que aposta todas as suas fichas, e que merece ganhar.
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Brasserie do Nando - R. Francisco Leitão, 20 - Tel.: 3062-3287 |
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QUINTETO EM FORMA DE CHOROS
Quem foi que disse que não havia música clássica contemporânea no Brasil? O Quinteto Villa-Lobos, de Antonio Carrasqueira (flauta), Luis Carlos Justi (oboé), Paulo Sérgio Santos (clarineta), Philip Doyle (trompa) e Aloysio Fagerlande (fagote), relança um CD de 1997, pela Kuarup Discos, provando que o gênero erudito ainda vive. Principiam, eles, por um quinteto de Mario Tavares, em três movimentos alegres, líricos e gingados. Partem para as Variações Sérias de um tema de Anacleto de Medeiros (de autoria de Ronaldo Miranda), em que se transmite sobriedade, elevação e equilíbrio. Percorrem os Instantâneos Folclóricos nš 1, de Raphael Baptista, propondo releituras sofisticadas para temas banais como Marcha Soldado e Atirei o Pau no Gato. Saltam para as sofisticações da Suíte para Quinteto de Sopros, de Radamés Gnattali. Embrenham-se na Serenata a Cinco, de Edino Krieger, e fecham com Villa-Lobos (Choros nš 2 e Quinteto em forma de Choros, que dá nome ao álbum). A execução é precisa e os arranjos, elegantes. Desafortunadamente, porém, o CD não é fácil de se encontrar.
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Gravadora Kuarup |
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UN-REAL WORLD
Enquanto se discute as fronteiras, os perigos e as influências do mundo virtual no mundo real, já existe gente fazendo a volta: pegando da vida (real) e jogando na arte (virtual). É o caso do filme Waking Life, em que uma técnica de animação revolucionária permitiu converter atores e situações filmadas em seqüências de pura computação gráfica. A revista Wired, de fevereiro, dedica uma de suas matérias aos inventores, Tommy Pallota e Bob Sabiston, que participam do Sundance Film Festival, e que pretendem comercializar sua ferramenta através do site da Flat Black Films (www.flatblackfilms.com). Se antes os estúdios (como o Disney) se desdobravam em sofisticados algoritmos para poder reproduzir expressões, trejeitos e traços humanos, depois de Waking Life, não é mais necessário despender milhões em imitações milimétricas e em humanóides clonados: imperfeições já podem ser perfeitamente retratadas, tomando como modelo a própria realidade. Chega a ser filosófico.
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Wired |
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>>> DIGA O SEU NOME E A CIDADE DE ONDE ESTÁ FALANDO
Rogério Gallo, de São Paulo: "Promovemos então o encontro entre esses artistas, em diversos pontos do País, para evidenciar a evidência."
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Julio Daio Borges
Editor |
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