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Quarta-feira, 31/1/2001
Digestivo nº 18

Julio Daio Borges

>>> I CHOOSE US Nicholas Cage, um dos rostos mais expressivos da Hollywood atual, está em Um Homem de Família. Apesar da carga de conservadorismo que emana do título, o filme discute com habilidade a opção, cada vez mais extremista, entre carreira e família. Ainda que pule de um estereótipo a outro (do executivo infalível, refinado, milionário de Wall Street, ao pai de classe média, endividado, conformado e piegas), o roteiro leva o espectador a ponderar entre os dois estilos de vida. Vale à pena, nem que seja para explorar as contradições da fita, afinal, ninguém constrói um império, ou galga os mais altos degraus de uma organização, na solidão, sem nenhuma estabilidade emocional; afinal, nem toda a família é feliz, nem todo o casamento é bem-sucedido, nem todos os filhos são uma benção; afinal, nem todo mundo que investe apenas no lado profissional chega ao topo do mundo; afinal, nem todas as esposas permanecem eternamente belas, nem todos os maridos se mantém para sempre românticos, nem toda a sociedade é estável, planificada e pródiga como a americana.
>>> http://www.family-man.com/
 
>>> SE QUISER TIRAR ALGO DE MIM, TIRE O TRABALHO, A MULHER NÃO João Rubinato, o sambista paulista que consagrou a arte de falar errado, cantou na TV Cultura, por ocasião dos 447 anos de São Paulo. Adoniran Barbosa nasceu em Valinhos e nunca morou no Jaçanã, no Bexiga ou na Vila Esperança, embora tenha homenageado esses bairros em suas músicas. Começou no rádio como ator cômico, pois não passava no teste de cantor. Ainda que ovacionado nas décadas de 1960 e de 1970, notadamente por Elis Regina e os finos da bossa, não conseguia entender o sucesso, nem tampouco embriagar-se com ele. Permaneceu o homem simples do Brás, vivendo uma tal pobreza de espírito, que ficava difícil atribuir-lhe achados lingüísticos tão singulares como os de Tiro ao Álvaro, As Mariposas, Saudosa Maloca e Samba do Arnesto. Mesmo hoje, assistindo a trechos dos especiais de 1972, 1976 e 1980, não há como casar a cadência de suas composições, o ritmo de suas melodias, com o intérprete que atropelava a orquestra e não respeitava, definitivamente, o andamento dos compassos.
>>> Clique Music
 
>>> ORA (DIREIS) OUVIR ESTRELAS Ruy Castro escreveu sobre o príncipe dos poetas em Bilac Vê Estrelas, na série Literatura ou Morte, da Companhia das Letras. Em princípio, pode-se estranhar que um dos nossos maiores eruditos em cultura popular do século XX tenha decidido perfilar uma figura que é puro século XIX. A dúvida se esvai, porém, dada a habilidade de Ruy Castro como biógrafo, e dada a leveza da novela, que não pretende aprofundar-se no caráter bilaquiano da personagem. Ao mesmo tempo, o autor não consegue fugir a uma espécie de síndrome de Jô Soares; ou seja: no afã de querer fazer rir a qualquer preço, acaba simplificando e caricaturando personalidades como Santos-Dumont, José do Patrocínio e o próprio Olavo Bilac. Em verdade, o tom de galhofa e de escárnio que cerca a reputação do poeta deve-se à imagem que os modernistas de 1922 fizeram dele, e de seus ideais parnasianos, tomados como a mais decantada manifestação de artificialismo e de esterilidade poética. Ruy Castro não mexe nesse vespeiro, apenas urde uma trama no Rio do começo do século.
>>> "Bilac Vê Estrelas" - Ruy Castro - 152 págs. - Cia. das Letras
 
>>> UM NOVO OLHAR SOBRE O COTIDIANO A World Press trouxe os seus premiados, em fotojornalismo, para o Centro Cultural Fiesp. A exposição reúne os melhores do mundo, de acordo com o júri internacional da fundação. No primeiro corredor, em destaque o realismo, com tons políticos, pinçando cenas da Guerra de Kosovo, da perseguição ao Albaneses, dos conflitos no Timor Leste, das rebeliões na Indonésia. No segundo corredor, um pouco mais de colorido, com as Danças Chinesas, os esportistas da Austrália, a Robótica que quer se humanizar, a Medicina que navega dentro de uma artéria através de um micro-submarino. Se por um lado, tira as esperanças, dados os retratos da brutalidade e da violência flagrantes; por outro, devolve a crença na raça, por meio da arte, por meio da ciência, pelo exemplo daqueles que, superando os limites do Homem, levam o planeta inteiro mais à frente.
>>> Centro Cultural Fiesp - Av. Paulista, 1313 - Tel.: 284-3639
 
>>> ESTOU PARA PUBLICAR, PODEM MORRER Mário Covas está morrendo há três anos na imprensa. Ainda causa rebuliço, contudo, a maneira com que se expõe, e o pouco caso com que trata a própria doença. Leva-nos a refletir sobre a morte, e os seus significados, numa sociedade tão pouco espiritualizada quanto essa em que vivemos. Chamam Covas de herói, porque ele resiste à morte, porque ele a combate, porque ela é o inimigo maior contra o qual lutamos desde que nascemos. Esquecem-se, porém, de que morrer é tão natural quanto nascer, de que a morte está dentro da vida, de que o ato de morrer é só mais um ato dentre os tantos outros que, inescapavelmente, teremos de viver. Não existe, portanto, vergonha ou covardia em aceitar a morte resignadamente. Quem sabe haja até muito mais heroísmo do que no desejo vão de querer colocar-se acima das leis que regem a vida dos homens desde o início dos tempos.
>>> Observatório da Imprensa
 
>>> MINHA PÁTRIA É MINHA LÍNGUA
"I was trying to reach him, but he is not right now."
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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