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Quarta-feira, 7/7/2004
Digestivo nº 182

Julio Daio Borges

>>> ESTUDANDO O JOGO Existem alguns mistérios insolúveis na imprensa brasileira. O primeiro é: como um País tão comprovadamente musical não consegue ter sua revista de música? Afinal, a sina das publicações do gênero tem sido das mais terríveis. Ultimamente, não passando dos primeiros números; ou então abrindo intervalos cada vez mais longos entre um número e outro. Um segundo mistério insolúvel ou, se quiserem, um paradoxo, é o das publicações sobre futebol, o esporte nacional. Quem cresceu com a “Placar” sabe que ela foi, em certo sentido, um êxito; e, agora, há o “Lance!”, jornal diário que, aparentemente, sobrevive saudável. Mas o Brasil merecia mais: merecia uma revista bem acabada, com análises mais profundas e assinaturas de grandes nomes. Pois foi essa, exatamente, a aposta da editora Conrad. Sua revista se chama, sugestivamente, “Revista 10”, e foi lançada em junho. Kaká, candidato a Namoradinho do Brasil no ludopédio, orna a capa – e concede uma entrevista, caprichada, a Marcelo Rubens Paiva. Enquanto isso, Washington Olivetto, que aprendeu escrevendo seus “Piores Textos”, conta como é doce torcer pelo Monaco – e perambular por lá. Francisco Cornejo, doente e pobre, lembra como descobriu o subnutrido Maradona na infância. Nilton Santos rememora os 100 Anos do Botafogo, o “Arquivo 10” ressuscita a disputa entre as Alemanhas Ocidental e Oriental, e a seção “Replay” dá uma aula sobre as famosas vinhetas eletrônicas da Globo. Tudo isso em textos elegantes, bem-acabados e, principalmente, acessíveis aos não-versados em futebol. O papel é igualmente de primeira e o projeto gráfico, moderno e “arejado”. O único defeito talvez – e nesse caso é um defeito grave – é o preço de R$ 9,90. Tudo bem, a “Revista 10” não é para o povão (que dificilmente a compreenderia), mas vai ser difícil convencer alguém a pagar quase R$ 10 para ler sobre futebol. (Quando o “Lance!”, por exemplo, custa não mais que R$ 1.) Enfim, como leitura sobre o esporte não há nada melhor em português luso-brasileiro. Que a “Revista 10” não sucumba, então, à maldição histórica; e que seu preço não seja, portanto, um entrave.
>>> Revista 10
 
>>> PEDRAS QUE CANTAM Oswaldinho aparece com óculos de vovó, Sivuca, com a mesma cara de anos e Dominguinhos, também, igual. Todos na contracapa do CD que o trio gravou para a Biscoito Fino: “Cada um belisca um pouco”. E se há, ainda, alguma rebarba das festas juninas, não poderia haver trilha sonora mais adequada. Tem “Qui nem jiló”, “Eu só quero um xodó” e “Xote das meninas”. E tem também, obviamente, “Asa Branca”. É disco para acordar de manhã, e pular da cama dançando forró (para quem gosta). E, também, para quem não gosta (pensando melhor). Dominguinhos, com sua chinela, olhar perdido no horizonte – nem parece parceiro de Chico Buarque aos 60 anos. Sivuca, eternamente confundido com Hermeto Paschoal (mais ou menos na linha Moares Moreira-Alceu Valença), mantém o ar compenetrado, evocando Santa Claus (eu sei que a época não é agora). Oswaldinho quase se esconde atrás de seu instrumental; igualmente de sandálias, está na sua vez de “solar”... Tentamos, descobrir, em vão, qual é qual – ao escutar. Dominguinhos parece o mais lírico, em “Adeus Maria Fulô”. Mas, logo depois, salta acelerado em “Isso aqui tá bom demais”. Pela idade, quem parece ultrapassá-lo, ainda mais veloz, é Oswaldinho. Sivuca, que não deve estar voando baixo, sob lentes grossas, deve ser também responsável pelos acompanhamentos, pelos adendos e pelas molduras. Pensando bem, não importa “qual é qual”. O resultado é tão agradável e revigorante! Transborda em alegria e bom humor. Por isso, é inevitável descambar para a piada. Quando não estão sorridentes, os três estão tocando, ou dando gargalhadas. Em pouco mais de meia hora, é uma experiência que passa rápido, rápido. Não teria sido possível, logicamente, sem a direção de Fagner (vale mencionar) e, igualmente, sem o apoio de músicos como João Lyra e Toni 7 Cordas. Tirando os olhos vesgos de Sivuca, não há nada que mereça ser aprumado. É ouvir sem parar.
>>> Cada um belisca um pouco - Dominguinhos, Sivuca & Oswaldinho - Biscoito Fino
 
>>> ANDANTE MAJESTOSO Luis Fernando Verissimo escreve, na capa, que Luiz Fernando Carvalho inventou um novo gênero, entre o cinema e a televisão. Osmar Prado brada, nos extras, que trata-se de um “marco histórico”. Fábio Assunção confessa, em entrevista, que nunca tinha tido tanta dificuldade em interpretar. Ana Paula Arósio sorri; Maria Adelaide Amaral conversa com o autor na tumba; Walmor Chagas compara a um “presente” que recebeu. Estamos falando de “Os Maias”, que a Globo realizou e que sai, neste momento, em DVD (4 unidades totalizando 940 minutos, mais de 9 horas). E, realmente, não existem palavras para classificar o trabalho. É, praticamente, irresistível sair da sessão (ou das sessões) confirmando o entusiasmo dos que participaram: em matéria de televisão, no Brasil, nunca houve nada igual (e se houve, é no máximo comparável, não chegando a superar). A começar pela fidelidade canina ao texto de Eça de Queiroz. Não é à toa que algumas das passagens mais saborosas são as “falas” do narrador, em “off”, na voz de Raul Cortez. A terminar pela composição “rembrandtiana” de Luiz Fernando Carvalho, cuja beleza plástica já se sustenta por si. Passando pelas locações deslumbrantes, pelas atuações memoráveis dos mesmos Walmor Chagas, Osmar Prado e Selton Mello, e pelas transformações (em todos os sentidos) dos idolatrados Ana Paula Arósio e Fábio Assunção. Se a televisão sempre foi restrita aos limites de uma arte chinfrim, “Os Maias” provou que ela pode ser – sim – uma grande arte. E o público, como era de se esperar, não respondeu à altura... Os realizadores se desculpam, nos depoimentos, por não terem sido “compreendidos” e pelo Ibope ter sido decepcionante. Mais isso não diminui a obra. (Às vezes, até, pelo contrário...) Algumas das maiores acusações a “Os Maias”, na época, mencionavam sua “lentidão” e obrigaram, o diretor e a autora, a uma “novelização” forçada. Os DVDs, felizmente, privilegiaram o “corte” de Luiz Fernando Carvalho, poupando o espectador dos enxertos de outras obras, como “A Relíquia” (que merecerão DVDs separados). Em resumo: ainda que haja controvérsias, a caixa é, de fato, imperdível. Também para os amantes da boa literatura. Afinal, nem o próprio Eça provavelmente imaginou – numa adaptação – tamanha grandiosidade.
>>> Os Maias - Globo Video
 
>>> EVENTOS QUE O DIGESTIVO RECOMENDA

>>> Palestras
* Feng Shui - Gisele Cury
(3ª f., 6/7, 19h30, VL)

>>> Noites de Autógrafos
* São Paulo 450 Anos Luz - Okky de Souza e Gilberto Dimenstein
(2ª f., 5/7, 18h30, CN)
* Wunderblogs.com - Vários
(2ª f., 5/7, 19hrs., VL)
* Olha o crachá no prato - Evie Mandelbaum Garcia
(4ª f., 7/7, 19hrs., VL)

>>> Shows
* Música das Nações - Fábio Presgrave e Paulo Gori
(2ª f., 5/7, 20hrs., VL)
* Vinícius, sem mais saudade - Céline Imbert e Marcelo Ghelfi
(5ª f., 8/7, 19h30, VL)
* Espaço Aberto - Tais Nader
(Dom., 11/7, 18hrs., VL)

* Livraria Cultura Shopping Villa-Lobos (VL): Av. Nações Unidas, nº 4777
** Livraria Cultura Conjunto Nacional (CN): Av. Paulista, nº 2073
*** a Livraria Cultura é parceira do Digestivo Cultural



>>> Circuito Erdinger & Kiss FM
Acontece nesta quarta-feira, dia 7/7, a partir das 21 hrs., no Kia Ora (Rua Dr. Eduardo de Souza Aranha, nº 377 - Vila Olímpia - Tel.: 11 3045-3597), onde estará se apresentando a banda Mig 25.

* a Erdinger é parceira do Digestivo Cultural
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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