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Quarta-feira, 14/7/2004
Digestivo nº 183

Julio Daio Borges

>>> SAPIENTIAM AUTEM NON VINCIT MALITIA Está surgindo uma “neodireita” na internet. Tudo começou, em 1994-1995, com Olavo de Carvalho. Na época, ele apareceu com um discurso “novo”: desancando a “hegemonia” da esquerda na mídia, conclamou uma “juventude” sem ideologia definida para lutar por um verdadeiro “debate de idéias”. Longe dos chavões da geração 1964-1968 (atualmente no poder) e longe das arenas onde as perguntas e respostas estavam viciadas. Há mais ou menos 10 anos, parecia interessante e até fez algum sucesso. De repente, Olavo de Carvalho estava pipocando nas principais publicações (“Jornal da Tarde”, “Folha de S. Paulo”, “O Globo”, “Bravo!”) e caindo nas graças de grandes nomes (Paulo Francis, Roberto Campos, Wagner Carelli). Mas, de repente também, ele começou a mostrar suas reais intenções. Era um “Nosso Senhor Jesus Cristo” que escapava daqui, era um preconceito contra as mulheres, os negros ou os homossexuais que escapava de lá. Era uma simpatia súbita pelos ideais da TFP e era uma visão de mundo tão distorcida quanto, por exemplo, a dos membros da Opus Dei. Olavo de Carvalho não era santo – e sob o pretexto de querer desanuviar algumas mentes confusas, estava doutrinando outras tantas. Muita gente, ao perceber a estratégia, pulou fora. Mas muita gente ficou – e continuou professando a “filosofia” de Olavo de Carvalho, adotando-o inclusive como guru. Foram os “olavettes”. Alguns deles fundaram o extinto site “O Indivíduo” e alguns deles, sim (a segunda dentição), vieram à tona com os “Wunderblogs”. Os “Wunders”, como são chamados, negam veementemente esse fato, mas quando foram recentemente abordados pela “Folha de S. Paulo”, que lhes pediu o nome de um pensador contemporâneo, não hesitaram em apontar... Olavo de Carvalho. Os “Wunderblogs” viraram agora livro e seria injusto reduzi-los à condição de discípulos de Olavo de Carvalho, principalmente por causa de Fabio Danesi Rossi (um ateu) e de Daniel Pellizzari (um neófito). Mas convém lembrar que os “Wunders” não são santos – e que uma “neodireita” pode ser tão nefanda quanto a “neo-esquerda” atual...
>>> Wunderblogs - Wunders - 300 págs. - Barracuda |
Olavo de Carvalho - O Indivíduo - Folha de S. Paulo
 
>>> PRÊT-À-PORTER Parece que, no cinema americano atual, há um beco sem saída para o qual todos os grandes diretores convergem: o humor – e o desejo de retratar “La Amérique profonde” (se é que essa expressão se adapta ao caso). Basta observar: pelo menos, quatro ou cinco nomes partem – desde o final da década de 1990 – para o pastelão. De Woody Allen (por força do contrato com a Dreamworks) até os Irmãos Cohen (agora sob o guarda-chuva da Touchstone Pictures). Passando por Quentin Tarantino (o único que não se rendeu totalmente à fórmula) e por Robert Altman (que oscila de acordo com o projeto em voga). E o “American Way”, nisso tudo? Woody Allen rodou um longa sobre a cafonice e a ignorância de uma família “emergente”; Quentin Tarantino estacionou seu imaginário na década que até hoje nos define (a de 70); Robert Altman ecoa mais quando emula (ou inspira?) David Mammet (e se prende a uma daquelas cidadezinhas do interior dos Estados Unidos). E os Irmãos Cohen, que eram alguns dos últimos cineastas por quem valia a pena sair de casa, não têm feito melhor. “Os Matadores de Velhinha” (atualmente em cartaz) é quase uma releitura de “A Fortuna de Cookie” (1999, de Altman). Tem também como protagonista uma “old lady” que, aparentemente inofensiva, dá um baile nas demais personagens. Ainda prevalece o virtuosismo em algumas cenas e, sim, eles domesticaram o Namoradinho da América, Tom Hanks – mas isso não basta para salvá-los de alguns clichês lamentáveis: um homem que sofre desarranjos intestinais; um quadro que muda de expressão conforme o entorno; criminosos que, para arrombar um cofre, cavam um túnel (igualmente presente em “Trapaceiros” [2000], de Woody Allen); e aqueles estereótipos mais chulos sobre raça, credo, classe e cor. Se não for coerção do estúdio, ou uma maldição que a todos assombra, pode ser – até (quem sabe) – uma crise, um surto geral de esterilidade. Aos quais todos estamos expostos. E, como o show tem de continuar (“the show must go on”), seguimos produzindo... – ainda que não tão convictos quanto antes (fomos). Talvez para não perder o sustento, e talvez para não perder simplesmente a mão. Enquanto a musa não vem; ou não (tão breve) retorna. E, se a inspiração foi a santa padroeira dos antes incomparáveis Irmãos Cohen, deve haver um jeito de fazê-la voltar. Pelo bem da sétima arte.
>>> The Ladykillers
 
>>> UM CONTO DE FADAS Na temporada do Mozarteum Brasileiro, sempre há uma apresentação onde o concerto é mais robusto, exigindo da platéia concentração e atenção fora do normal. Por longas horas. Não é, certamente, “para qualquer um”. Assim foi com a Bamberger Symphoniker, que em 2003 apresentou a 9ª Sinfonia de Schubert, uma obra de mais de 40 minutos, composta em seu “annus mirabilis”. Executada, evidentemente, sem intervalos. Agora, em 2004, é muito possível que nada supere, nesse sentido, a apresentação da National Polish Radio Symphony Orchestra, acompanhada pelo violonista Boris Belkin, no final do mês de junho. Quem assistiu à segunda sessão, atravessou o dilacerante “Concerto para violino nº 1”, de Bruch, e a incomparavelmente densa “Sinfonia nº 6”, de Bruckner. Como explicaria Sérgio Igor Chnee, em sua palestra introdutória (no “Clube do Ouvinte”, aberto a todos desde o início do ano), Bruckner reverenciava Wagner – e se este tivesse composto sinfonias, estas seriam as de Bruckner. Já do concerto de Bruch, conhece-se a clássica gravação de Isaac Stern, que vinha acondicionada em luxuosos estojos, até antes de sua morte (2001). O violino metaforicamente “grita” no “alegros”, mas proporciona, ao mesmo tempo, enlevos inesquecíveis no tempo “lento”, no caso, o “adagio”. Belkin, que se descabelou nos instantes mais agitados e que quase flutuou nos mais calmos, cumpriu brilhantemente a função. Tornando, aliás, este ano pródigo em violinos e virtuoses. Já Gabriel Chmura, o regente, que manteve a tensão do “majestoso” até o “finale”, em Bruckner, esquentou os motores na comparativamente suave abertura de Stanislaw Moniuszko, de aparentemente ínfimos 12 minutos. No fim, o peso sinfônico de Bruckner eclipsaria tudo – dentro da escola que fez, do gênero, um “tour de force”, poucas vezes exibido, assim, no Brasil. (E pensar que, antes do começo da temporada, tivemos a 9ª de Mahler – que, por alguma razão, não arrastou a emoção do público como agora, embora tenha sido corretamente executada.) E olhando na programação do resto do ano, talvez só o “Messias” de Haendel apague a marca que esses poloneses maravilhosos.
>>> Mozarteum Brasileiro
 
>>> EVENTOS QUE O DIGESTIVO RECOMENDA

>>> Cafés Filosóficos
* Cenários de Universo Eterno e o Modelo do Big Bang - Mario Novello
(Ter., 13/7, 19h30, VL)

>>> Palestras
* Comportamento do Consumidor e Pesquisa de Mercado - Helder Haddad Silva (Qui., 15/7, 19h30, VL)

>>> Noites de Autógrafos
* O Barbeiro de Valladolid - Guto Franco
(Seg., 12/7, 19hrs., VL)
* A Arte de Vender Sonhos - Ademir S. Stein
(Ter., 13/7, 19hrs., VL)

>>> Shows
* Música das Nações - Grupo Il Dolce Ballo
(Seg., 12/7, 20hrs., VL)
* “Bix” Biederbeck - Traditional Jazz Band
(Sex., 16/7, 20hrs., VL)
* Espaço Aberto - Dill Casella
(Dom., 18/7, 18hrs., VL)

* Livraria Cultura Shopping Villa-Lobos (VL): Av. Nações Unidas, nº 4777
** Livraria Cultura Conjunto Nacional (CN): Av. Paulista, nº 2073
*** a Livraria Cultura é parceira do Digestivo Cultural



>>> Circuito Erdinger & Kiss FM
Acontece nesta quarta-feira, dia 14/7, a partir das 21 hrs., no Bar Sagrado (Rua Dr. Renato P. de Barros, nº 994 - Itaim - Tel.: 11 3848-0302), onde estará se apresentando a banda Os Caras.

* a Erdinger é parceira do Digestivo Cultural
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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