Quarta-feira,
11/8/2004
Digestivo nº 187
Julio
Daio Borges
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WE WANT THE AIRWAVES
Quem cresceu entre os anos 80 e os 90, entre as rádios, as danceterias, os programas de videoclipe e uma incipiente MTV, certamente se lembra de Fabio Massari. E do apelido de “Reverendo” (inventado por Gastão Moreira?), que, na telinha, o consagrou. Massari, na época, era apontado como dono de uma coleção lendária de Frank Zappas – e destoava entre os VJs, porque, obviamente, fazia parte de outra geração. Muito da história que explica o “Reverendo Fabio Massari” está no seu livro (lançado no ano passado – mas atemporal para quem viveu essa fase): “Emissões noturnas: cadernos radiofônicos de FM”. Lá se encontram desde fotos, recortes e anotações, que compõem a própria biografia do jornalista, até a trajetória, entre nascimento e morte, do inesquecível “Rock Report”. Massari, um lobo solitário na educação de roqueiros desenganados pela freqüência modulada, conta no prefácio um dos trunfos do “Rock Report”: ter sido a faculdade de Chico Science, que não perdia um e que foi, provavelmente, o último inventor “pop” tupiniquim engolfado por um acidente trágico. Massari aparece abraçado a Kid Vinil e a Edgard Picolli, num retrato de 1987, quando da fundação da rádio 89 (completamente outra). Hoje não é fácil imaginar toda aquela pesquisa musical indo ao ar e tantas entrevistas, naquele tempo antológicas, sendo reproduzidas na “Ilustrada” da “Folha de S. Paulo”. Massari revela suas fontes: volta e meia se abastecia na Itália (como o próprio nome indica; mais precisamente, em Milão) e revisitava uma bibliografia que continha desde “An Illustrated History of Pirate Radio” (1994), de Keith Skues, até “Os 10 Primeiros Anos do Programa Backstage” (1999), de Vitão Bonesso. O “Rock Report” viu a luz do dia em 1991 e teve mais de 200 edições. Os ídolos que perfilou parecem ícones de uma juventude perdida – mas o Reverendo, emprestando-lhes imortalidade, ainda faz história.
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Emissões noturnas: cadernos radiofônicos de FM - Fabio Massari - 152 págs. - Grinta |
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SAMBA DA BENÇÃO
É curta a saga dos meninos-prodígio. Quando deixam de ser meninos, deixam de ser prodígio. Ou então se encerram numa cápsula do espaço-tempo, para explodir futuramente em Michael Jacksons (ou aberrações similares). No Brasil, Yamandú Costa, embora tenha se consagrado como prodígio do violão, parece que, felizmente, se cansou das firulas todas. Uniu-se a Paulo Moura e gravou um CD em duo pela Biscoito Fino. É inevitável a comparação com Raphael Rabello, que teve a mesma idéia antes – no início dos anos 90. Aliás, é quase sempre fatal a sombra do violonista, chamado de Mozart do Choro, que morreu bastante cedo (aos trinta e poucos anos), por complicações relativas à contaminação pelo vírus da Aids. Rabello tinha um espírito mundano: não se encerrou no cânone e gravou com todo tipo de pessoa – de Ney Matogrosso a Cazuza, passando por ases como Arthur Moreira Lima e Deo Rian. E Paulo Moura. Yamandú, provavelmente antecipando o confronto com o fantasma, abre o disco com uma composição sua: “El Negro del Blanco” – que, approposito, intitula a obra. E é nas faixas de inspiração hispânica (ou hispano-americana) que ele se sai melhor. De andamento mais lento, quando não “frita” as cordas com seus dedos velozes. “Duerme negrito” e “La paloma” são provas cabais, embora a última destoe um pouco (injunção súbita do penúltimo filme de Pedro Almodóvar?). O “mainstream” parece, igualmente, dar as cartas em “De camino a la vereda”, ultimamente consagrada pelo grupo do Buena Vista Social Club (filme, livro, CD, etc.). “Gracias a la vida” fecha o espaço aberto à “latinidad” num arranjo bastante original – que nem de longe lembra Elis Regina (um feito quase improvável). É possível mencionar ainda a aceleradíssima “Taquito militar” (que virou quase um frevo) e “Decaríssimo” (um Piazzola muito pouco denso e soturno). Yamandú gravou um CD anterior onde entoava até “Sampa” e foi uma das maiores revelações do Prêmio Visa (referendado em verso e prosa). Talvez com Paulo Moura aprenda a não perseguir tanto a consagração – hoje um objetivo quase todo oposto à música.
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El Negro del Blanco - Paulo Moura & Yamandú Costa - Biscoito Fino |
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OS EXUS DA REDE
Se alguns sites se transformaram em catacumbas onde ninguém mais mergulha fundo, outros estão mostrando que têm história (e não simplesmente um arquivo morto), ao editar seu conteúdo em livro. O “Webinsider”, de Vicente Tardin, encaixa-se neste último caso e acaba de lançar o primeiro volume da coleção que leva seu nome: “Hermes, o deus da cybercoisa”, de Fernand Alphen (editora Brasport). Se o título assusta um pouco, o subtítulo explica tudo: “Crônicas do início da internet”. Assim como Tardin, Alphen é um sobrevivente do “boom” e da bolha, que resolveu publicar seu testemunho, dos primórdios até hoje. São textos descompromissados, escritos no calor da hora, que ficam datados em alguns momentos, mas que ainda guardam “insights”. Alphen nunca foi um profissional diretamente ligado à WWW (leia-se: um profissional de informática ou um “web-alguma-coisa”). Compõe, na verdade, um terceiro contingente (considerando os jornalistas como o segundo grande grupo): o dos publicitários e dos profissionais de comunicação das agências, que – como tantos colunistas do mesmo “Webinsider” – vêm lutando desde o começo para que a internet se afirme como mídia e para que, principalmente, seja vendável. Na coletânea, é uma batalha página a página. Vencida, pode-se dizer, de 1997 para cá. Alphen ficou igualmente conhecido como polemista virtual, depois de jogar com a ambigüidade do “spam” e depois de defender, por exemplo, o sexo virtual. Tardin, pelo seu lado de editor, agüentou o trote e soube atravessar as “flame wars” em que o “Webinsider” se meteu graças a pontos de vista nada ortodoxos. Agora colhe os louros dessa vitória. Seu site vai virar ainda mais alguns livros e, abrindo essa frente, quem sabe não sirva de modelo para – através do tempo – revelar os que têm e os que não têm credibilidade.
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Hermes, o deus da cybercoisa - Fernand Alphen - 116 págs. - Brasport |
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>>> EVENTOS QUE O DIGESTIVO RECOMENDA
>>> Café Filosófico
* A sexualidade na relação amorosa - Flávio Gikovate
(Qui., 12/8, 19h30, CN)
>>> Palestras
* A revolução da produtividade pessoal - Christian Barbosa
(Ter., 10/8, 19h30, VL)
* O mito de Hércules - Cristina Franciscato
(Qui., 12/8, 19h30, VL)
>>> Noites de Autógrafos
* Fico: a história de Raphael Levy - André Viana
(Ter., 10/8, 18h30, CN)
* A saúde mental do jovem brasileiro - Bacy Fleitlich-Bilyk, Ênio Roberto de Andrade, Sandra Scivoletto e Vanessa Dentzien Pinzon
(Ter., 10/8, 18h30, CN)
* Pare de fumar para sempre - Martin Raw
(Qua., 11/8, 19hrs., CN)
* Por um fio - Drauzio Varella
(Qua., 11/8, 19hrs., CN)
* O livro dos amuletos - Gabriela Erbetta e Michelle Seddig Jorge
(Sex., 13/8, 19hrs., VL)
>>> Shows
* Música das Nações - Paulo Álvares
(Seg., 9/8, 20hrs., VL)
* Benny Goodman, Harry James, Glenn Miller e Tommy Dorsey: os quatro ases do swing - Traditional Jazz Band
(Sex., 13/8, 20hrs., VL)
* Beatles Anthology - Banda Liverpool
(Sáb., 14/8, 19h30, VL)
* Espaço Aberto - Filó Machado
(Dom., 15/8, 18hrs., VL)
* Livraria Cultura Shopping Villa-Lobos (VL): Av. Nações Unidas, nº 4777
** Livraria Cultura Conjunto Nacional (CN): Av. Paulista, nº 2073
*** a Livraria Cultura é parceira do Digestivo Cultural
>>> Circuito Erdinger & Kiss FM
Atenção para a retomada neste segundo semestre: acontece nesta quarta, dia 11/8, a partir das 21 hrs., no Public Pub (Rua Delfina, nº 110 - Vila Madalena - Tel.: 3813-1367), onde está se apresentando a banda Acullia.
* a Erdinger é parceira do Digestivo Cultural
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Julio Daio Borges
Editor |
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