Sexta-feira,
10/6/2005
Digestivo nº 230
Julio
Daio Borges
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O PRINCÍPIO
Uma reclamação quase atávica dos escritores brasileiros é a falta de uma publicação literária. Pois agora não podem mais reclamar; ou, ao menos, não tanto quanto antes. Chegou EntreLivros, enfim uma revista literária de quase 100 páginas, colaboradores de peso e algum contato mais consistente com o mercado. O contato com o público ainda será desenvolvido e, no momento, não temos como julgar – a não ser pelo fato de que dispomos de uma nova publicação sobre livros que não aborda (ou muito timidamente) as gerações de escritores a partir dos anos 90 e, mais grave, a geração internet. Tirando essa falha, EntreLivros está de parabéns. Estréia com Thomas Mann na capa e traz um dossiê de verdade sobre o maior romancista alemão, com uma bem-feita trajetória biográfica preparada por seu editor, Oscar Pilagallo, mais as intervenções sobre suas obras-primas, como Doutor Fausto, numa abordagem musical de João Marcos Coelho. Outro destaque, que a própria publicação aponta, é a reprodução de textos originais (traduzidos) do Book Review do The New York Times. Nesse sentido, é emblemática, por exemplo, a crítica de William Deresiewicz a Questão de Ênfase de Susan Sontag (pela Companhia das Letras, uma editora hoje tão forte que praticamente não é criticada em grandes revistas e jornais). Complementam a edição, colunas muito boas, como a de Milton Hatoum, contando como e por que se tornou escritor. Também algumas seções alternativas, procurando arejar o formato conhecido de revista literária – uma seção, por exemplo, com trechos de livros lançados e outra com a lista de todos os lançamentos do mês. Sem falar na entrevista com o sempre lúcido Ferreira Gullar, ainda um poeta que, beirando os 80 anos, tem algo a acrescentar. Que EntreLivros siga nessa linha, elevando o nível da discussão e trazendo a oportunidade de a literatura, no Brasil, ser mais bem representada em banca.
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EntreLivros | Uma pedra é uma pedra |
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RUMO CERTO
O Valor Econômico fez, agora em maio, 5 anos. Todo mundo lembra, em 2000, do seu começo com o gás todo. Com um caderno de cultura que rivalizava com os dos grandes jornais, com suplementos semanais da The Economist e da Business Week, e com brindes convidativos para assinantes (celulares, palmtops e gadgets em geral). Mas o Valor – embora tenha começado depois – sofreu os efeitos da Bolha financeira de tecnologia e enxugou seus quadros de notáveis. Dizia-se que o problema havia sido contratar profissionais (oriundos da concorrência) a peso de ouro e, apesar de produzir no fim das contas um dos melhores diários (não só econômicos), não conseguir arcar com a folha. (Tudo bem que as crises no jornalismo são sempre reputadas ao excesso, ou aos altos salários, de pessoal...) Independentemente de ter razão nos cortes, o fato é que o Valor hoje se apresenta como líder de mercado – coisa que os entusiastas da Gazeta jamais aceitaram – e detentor de mais da metade dos anúncios publicitários. A dúvida, no entanto, é a mesma de antes: o jornal já consegue se sustentar? É sabido que não recebe mais os aportes de seus criadores e financiadores, a saber, as Organizações Globo e o Grupo Folha, mas daí a andar com as próprias pernas... Uma olhada na edição de aniversário mostra que editorialmente o Valor está saudável. Com boas matérias, uma abordagem mais ousada em relação à nova economia e a coragem de colocar o dedo na ferida da velha. O Valor, por exemplo, é um dos poucos jornais que discute, seriamente, a crise da mídia de massa e da própria “abordagem de massa”, hoje ultrapassada, em setores como o da publicidade. Se isso é informação corrente, digamos, nos Estados Unidos, aqui, se não fosse a internet e o Valor, ninguém iria saber... Nossos votos são de que o Valor Econômico se mantenha com um pé na realidade atual e que continue renovando a imprensa diária (ainda que nem sempre lhe dêem a devida atenção).
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Valor Econômico |
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PROLOGUE
Nas fotos e na divulgação, as irmãs Katia e Marielle Labèque nos pareciam bastante preocupadas com a imagem. Não apenas a estética, mas também em termos de mensagem. Numa entrevista ao reformulado “Caderno Fim de Semana”, da Gazeta Mercantil, falaram com naturalidade de assuntos como formação, repertório, público, etc. Ao contrário de outros artistas, às vezes pelo viés da polêmica, não quiseram ressaltar sua independência ou suas idiossincrasias, atacando, como é comum justamente, o mercado, a audiência, os compositores... E a impressão, low-profile, se revelou inteligente no dia do concerto, como se, no fundo, dissessem: o que importa, em si, é a música. (Coisa óbvia, mas nem sempre observada.) Então elas abriram a Temporada 2005 do Mozarteum Brasileiro, na Sala São Paulo, com um Mozart impecável (para um público nem tanto) e todas as dúvidas a seu respeito se dissiparam. Elas conheciam música; elas sabiam o que era grande música. Emendaram com um Ravel, ressaltando – como chamou atenção no programa Eddynio Rossetto – a influência espanhola no compositor francês, a ponto de se cogitar a presença de acordes (na verdade, música incidental) do célebre Concerto de Aranjuez. Mais difícil, naturalmente, que o mestre de Salzburg, o autor do Bolero encerrou o primeiro bloco exigindo mais atenção e uma energia extra para acompanhar. Depois do café, seguimos com Leonard Bernstein e a relativamente popular peça West Side Story. Aplausos para as evidentes “America”, “I feel pretty” e “Somewhere” (entre outras). Mais aplausos, para a inteligente formação, nada convencional numa sala de concertos, com percussão e bateria (tocando num volume considerável). O que proporcionou ganhos na comunicação. E, como era de se esperar (devido à simpatia das irmãs performers), o bis trouxe música brasileira e um Pablo Bencid (o baterista) mais solto, graças ao seu background (ele é venezuelano). Foi um começo promissor para a Temporada 2005. Que as atrações do Mozarteum saibam combinar, como as Labèque, uma exímia execução e um exemplar contato com os pagantes.
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Mozarteum Brasileiro |
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>>> EVENTOS QUE O DIGESTIVO RECOMENDA
>>> Cafés Filosóficos
* O Século das Luzes e sua influência no espírito moderno - Michel Paty e José Oscar de Almeida Marques
(Qui., 16/6, 19h30, CN)
>>> Palestras
* Angus: As Cruzadas - Orlando Paes Filho
(Seg., 13/6, 19h30, VL)
* O mal, o bem e mais além - Flávio Gikovate
(Ter., 14/6, 18h30, VL)
* Jato de tinta - Hernán Muruá
(Qui., 16/6, 19hs., VL)
>>> Noites de Autógrafos
* Por causa do pior - Mauro Dias e Dominique Fingerman
(Seg., 13/6, 18h30, CN)
* Navegar no Ciberespaço - Lucia Santaella
(Seg., 13/6, 18h30, CN)
* Por que as comunicações e as artes estão convergindo? - Lucia Santaella
(Seg., 13/6, 18h30, CN)
* Comunicação: troca cultural? - Luís Mauro Sá Martino
(Seg., 13/6, 18h30, CN)
* Juízes nos bancos dos réus - Frederico Vasconcelos
(Ter., 14/6, 18h30, CN)
* Literatura Policial Brasileira - Sandra Reimão
(Qua., 15/6, 18h30, CN)
* Brasileiros e a Segunda Guerra Mundial - Francisco Cesar Ferraz
(Qua., 15/6, 18h30, CN)
>>> Shows
* Hollywood: Jazz no Cinema - Traditional Jazz Band
(Sex., 17/6, 20hs., VL)
* Aniversário de Paul McCartney - Banda Liverpool
(Sáb., 18/6, 19hs., VL)
* Espaço Aberto - Quatro a Zero
(Dom., 19/6, 18hs., VL)
* Livraria Cultura Shopping Villa-Lobos (VL): Av. Nações Unidas, nº 4777
** Livraria Cultura Conjunto Nacional (CN): Av. Paulista, nº 2073
*** a Livraria Cultura é parceira do Digestivo Cultural
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Julio Daio Borges
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