Quarta-feira,
21/3/2001
Digestivo nº 24
Julio
Daio Borges
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O PETRÓLEO É NOSSO; A VERGONHA, TAMBÉM
A Petrossauro afundou mais uma vez. Junto com ela, moralmente, o Governo Federal. Historicamente, o Brasil. Também pudera: no momento do acidente, a P-36 operava com um contigente de pessoas muito superior à sua capacidade; antes e depois da detecção do vazamento de gás, funcionários terceirizados, não-qualificados e não-treinados, pouca ou nenhuma importância davam ao fato; com ou sem explosão, os sacrifícios humanos são meramente estatísticos - o que conta, na verdade, é a desvalorização das ações, os barris que deixaram de ser produzidos, e as anunciadas metas da Petrobrax. Henri Philippe Reichstul, o presidente da estatal, se diz "enlutado" apenas para conter os ânimos do mercado. Já Celso Lafer admite que o assunto é "triste", mas que a série de realizações da empresa superará a imagem "negativa". Pimenta da Veiga avalia que o acidente traz "pesar", mas que o País vai continuar "muito bem". Enquanto isso, a mancha de óleo se alastra - e ninguém tem a cara e a coragem para assumí-la.
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http://www.petrobras.com.br/ |
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ALGUÉM TEM DE DAR O PRIMEIRO PASSO
Amor à Flor da Pele, filme de Wong Kar-Wai, é de uma delicadeza, que chega a causar arrepios. A história é clássica, porém pouco explorada pelos politicamente corretos: um homem e uma mulher, fragilizados em suas respectivas relações, acabam se aproximando, pelas coincidências do dia-a-dia, e, zelosos, vivem uma seqüência de dilemas existenciais. Toda a beleza do longa está, justamente, na hesitação da dupla. Embora casados e fiéis, eles se apaixonam e, querendo evitar que o mundo desabe, dançam um dos mais elaborados e sofisticados balés da História da Sétima Arte. Os espectadores mais afoitos jamais entenderão os movimentos estudados, as frases contidas, as sutilezas e as entrelinhas de um amor proibido que, embora legítimo, não ousa se afirmar, não ousa dizer seu nome. O rigor e a expressividade, ambos singulares nos orientais, proporcionam, junto com os cenários e figurinos, uma verdadeira experiência estética.
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In the mood for love |
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J'ACCUSE...
Émile Zola e o sempre revisitado caso Dreyfus estão na primeira parte de O Século dos Intelectuais, de Michel Winock. O livro pretende refazer os passos dos três principais nomes da França do século XX, segundo o autor: Maurice Barrès, André Gide e Jean-Paul Sartre. O relato resgata o termo "intelectual" nas suas origens, no final do século XIX, conduzindo-o através de infindáveis polêmicas, debates acalorados e disputas muitas vezes fatais (como o episódio envolvendo o próprio Zola, que morreu sufocado pela fumaça de sua chaminé, quando regressava de um exílio político). Independentemente das tendências do narrador, o passeio pelas vidas, pelas cabeças e pelas batalhas de Anatole France, Charles Maurras, Jean Jaurès, Leon Blum e Georges Clemenceau, dentre outros, serve para aquecer o inverno árido de idéias e de agitação, que é esta nossa época.
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"O Século dos Intelectuais" - Michel Winock - Bertrand Brasil |
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AMAVA VERDI E O MELODRAMA
Luchino Visconti tem os 25 anos de sua morte lembrados pelo GNT. Num bem realizado documentário da RAI, tem-se um apanhado da carreira de um dos maiores diretores italianos do século XX. Desde o seu início, como assistente de Jean Renoir, e a convivência com Coco Channel, Jean Cocteau e Pablo Picasso, até seus últimos dias, no comando de O Inocente, sua derradeira produção cinematográfica. Passando, é claro, pelo seu teatro, herdeiro da Commedia dell'Arte, preceptor de Marcello Mastroianni, avalizado por Thomas Mann. Sem mencionar, é óbvio, as obras-primas como Rocco e Seus Irmãos, que incontestavelmente consagrou o neo-realismo e Alain Delon, Morte em Veneza, que tão habilmente desenvolveu o tema da morte, e Ludwig, que celebrizou o norte-americano Burt Lancaster e uma iniciante Claudia Cardinale. Embora de origem aristocrática e abastada, Luchino terminou ovacionado pelo seu povo, objeto de muitas de suas preocupações sociais.
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Visconti |
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SEMPRE PREFERI SUJEITOS A OBJETOS
Tempo para Olhar é o nome da exposição que reúne parte do acervo Pirelli / Masp, acumulado desde 1991. A fotografia, como arte, sempre se mostrou muito objetiva, impossibilitando tratados interpretativos sobre sua forma e apresentação. O que se pretende nessa mostra é, portanto, sondar as intenções do fotógrafo, do autor, pois como afirma o cartaz da entrada: "queremos sempre saber mais a respeito daquilo que se acha ali gravado". Os trabalhos podem ser divididos entre retratos puros, como os de Bina Fonyat, Américo Vermelho e Marcelo Buainain até experimentos com as mudanças de foco, como os de Edouard Fraipoint e Daniela Goulart, sem contar as texturas, colagens e sombras de Cris Bierrenbach, Odires Mlászho e Pedro Lobo. Enquanto se caminha por entre as obras, centenas de outras imagens são projetadas no patamar inferior. O museu também oferece visitas guiadas para quem se dispor a reservar.
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MASP - Avenida Paulista, 1578 - Tel: 251-5644 |
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>>> MINHA PÁTRIA É MINHA LÍNGUA
"É particular meu."
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Julio Daio Borges
Editor |
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