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Sexta-feira, 19/8/2005
Digestivo nº 240

Julio Daio Borges

>>> COMPLETUDE A idéia parecia simples. Mas, como toda idéia simples, não adiantaria nada se não fosse bem executada. E, por isso, deu certo a Casa do Saber, que praticamente comemorou seu primeiro ano de existência, e seus mais de quatro mil alunos, com a inauguração da nova filial, no bairro de Higienópolis. Para amigos da Casa, antes da aula inaugural na rua Itambé, Jair Ribeiro, um dos sócios-fundadores, confessou que pensava o seguinte: se para o brasileiro é quase uma obrigatoriedade conhecer a ilha de Fernando de Noronha, por exemplo, por que para os habitantes do século XXI não deveria ser obrigatório conhecer... o pensamento de Espinosa? E por mais que se acuse a Casa de “Daslusp” – embora eles mesmos se divirtam com o rótulo –, não há como não reconhecer esse mérito: Jair Ribeiro e seus amigos provaram que a elite econômica paulistana estava interessada... em conhecimento (!). Ao contrário de todas as evidências; ao contrário de todas as pesquisas de mercado. E lançaram uma moda: pipocam hoje palestras em todo canto e a filosofia, outrora inacessível e obscura, virou – de novo – vedete, com direito até a inserção em programa de tevê (na Globo!). Foi, aliás, a filosofia novamente atração na nova Casa do Saber na rua do Mackenzie: Antonio Medina Rodrigues, um dos últimos eruditos em matéria de classicismo, lançou mão de representação teatral para quase encenar O Banquete de Platão (e o amor...!). O próprio Jair serviu de figurante, quando Medina tencionava demonstrar a origem hermafrodita de cada ser humano (como uma justificativa para a eterna busca pela “alma gêmea”...). Era uma representação também do novo flerte entre intelectuais e a elite econômica (já que, depois da ressaca do PT, os primeiros devem estar cansados desse negócio de “povo”...). Mas o que há de importante para o público é que a nova Casa fará aulas abertas (gratuitas) de todos os seus cursos. Basta ligar e reservar. Quem não experimentou – porque, por exemplo, implicava com o preço –, não tem por que não experimentar agora.
>>> Nova Casa do Saber
 
>>> UMA VIAGEM PELOS MEUS DISCOS Você não conhece o Guilherme Werneck. Você de repente, por um link, descobre seu podcast, o Discofonia. A princípio, o site parece um blog (em termos de webdesign os podcasts não diferem mesmo muito dos blogs). Você pensa: “Ah, então, é isso? Um blog???” Aí você lê um pouco e você clica (no título, por exemplo) e – só assim – a experiência começa. Abre uma janela do Windows Media Player (ou de outro tocador de MP3 que você tenha no seu computador). Uma música toca. Em seguida, é provavelmente o Guilherme falando. Ele te cumprimenta e você mecanicamente responde. “Bem-vindo ao Discofonia número tal...”, o Guilherme diz. Você escuta desconfiado. A hora passa e você se pergunta no final: “O que é isso afinal? É um programa de rádio?”. É um podcast; mas você encontra seus amigos e não vai conseguir lhes explicar. Podcast tem de escutar. Próximo passo: ouvir todos os Discofonias pra trás e investigar a vida do Guilherme Werneck (“Quem é esse cara? Por que ele faz esse negócio? A troco de banana?”). Você, a seguir, descobre que não importa muito saber quem é o Guilherme Werneck e, sim, apreciar, a cada programa (ou a cada edição), a qualidade do que ele faz. Muuuito melhor do que a vasta maioria dos programas de rádio – pelo simples fato de que, descontando alguns gatos pingados, programas de rádio não se fazem mais. Um dia, o Guilherme pode acordar e homenagear o Dom Um Romão, que morreu agora; num outro, pode dedicar um Discofonia inteiro ao baixista William Parker, que ele adora; e em outro ainda, ele pode explorar o pop-rock argentino, que ninguém explora – vai dizer, isso não é melhor do que rádio comercial? Se você acha que não é, é porque você é – além de ruim da cabeça e doente do pé – surdo do ouvido, me desculpe. Clique pra escutar; você não vai acreditar.
>>> Discofonia | Guilherme Werneck
 
>>> O VÔO DA BAILARINA A Ná Ozzetti às vezes está para as cantoras convencionais assim como a música atonal está para a música tonal. No início, para quem escuta, Ná Ozzetti soa... “esquisita”. Meio desafinada, meio dissonante, até meio sem ritmo. Mas como é elogiada pela crítica...! Ela e seu irmão Dante (incensados a cada disco). Se você é “público” e quer entender o talento de Ná Ozzetti sem ter de passar pela via-sacra de ouvir “acordes dissonantes pelos cinco mil alto-falantes”, então o seu CD é André Mehmari Ná Ozzetti – Piano e voz, pela MCD. O repertório, pra começar, não é difícil: Caetano Veloso, Antonio Carlos Jobim, Lennon&McCartney. E ao contrário de outros “piano&voz” que desnudam o intérprete, confirmando se ele é mesmo um engodo, este revela Ná Ozzetti para nós – sem firulas. Até o Zé Miguel Wisnik, que é aquele sujeito apagado e de voz murcha (remember São Paulo 450 Anos), soa interessante em “Pérolas aos poucos”. Já as canções que não precisam de impulso, como “Because” dos Beatles, ganham remodelagem de verdade (e não o efeito fake de, por exemplo, um acústico). Mehmari acrescentou a esta, sabiamente, um prólogo beethoveniano – e casou. A escolha não-óbvia de peças de conhecidos compositores já é um mérito em si. De Chico Buarque, outro exemplo, em vez de pegar as mesas pisadas e repisadas, Ná Ozzetti arriscou a bela “A Ostra e o Vento” (para afrontar aqueles que reclamam de falta de “música nova” do autor). E, claro, Ná não deixa o irmão de fora, mas o faz apropriadamente, com a ótima “Nosso Amor” (parceria com Luiz Tatit). Aliás, nem o pianista (ela deixa): “Eternamente” é uma beleza. Enfim: poderíamos passar aqui por cada uma das 15 faixas mas não seria necessário; o CD vale. E, como disse Gioconda Bordon, no melhor programa de fim de tarde do rádio brasileiro, o Estação Cultura, que venha o próximo!
>>> André Mehmari Ná Ozzetti: Piano e voz - MCD
 
>>> E CONTINUA A ERA DOS FESTIVAIS...

Não perca, durante o fim de semana, um post do Editor, direto do "Roteiro Gastronômico do Queijo e Vinho e da Primavera na Montanha" e da "Festa da Cerejeira e Flor", de Campos do Jordão.

>>> ...E O CONSELHEIRO TAMBÉM TOCA NO RÁDIO

E não perca, na quinta-feira, 25 de agosto, às 18 horas, a entrevista de Julio Daio Borges no programa Estação Cultura de Gioconda Bordon.

>>> EVENTOS QUE O DIGESTIVO RECOMENDA



>>> Palestras
* Psicanálise hoje: no atoleiro dos discursos - Raquel Capurro
(Sex., 26/8, 10h30, VL)

>>> Cafés Filosóficos
* Pensar contra Nietzsche - com Nuno Nabais (Univ. de Lisboa), Kathia Hansa (Univ Católica do Peru) e Scarlet Marton (USP)
(Qui., 25/8, 19h30, CN)

>>> Noites de Autógrafos
* O Marechal da Vitória: uma história do rádio, TV e futebol - Tom Cardoso e Roberto Rockman
(Ter., 23/8, 19hs, CN)
* Caos e Dramaturgia - Rubens Rewald
(Qua., 24/8, 18h30, CN)
* O Direito dos Estrangeiros - Paula Richter
(Qua., 24/8, 19hs., CN)
* PLIM, PLIM: A peleja de Brizola e a fraude eleitoral
Paulo Henrique Amorim e Maria Helena Passos
(Qua., 24/8, 20hs, VL)
* Epopéia Paulista na Estação da Luz - Marcos de Sousa e Hiro Okita
(Qui., 25/8, 19hs, CN)
* Blue Bus - Elisa Araújo e Julio Humgria
(Sex., 26/8, 19hs., VL)

>>> Shows
* Chicago & Kansas City - Traditional Jazz Band
(Sex., 26/8, 19hs., VL)
* Espaço Aberto - Yanel Matos
(Dom., 28/8, 18hs., VL)

* Livraria Cultura Shopping Villa-Lobos (VL): Av. Nações Unidas, nº 4777
** Livraria Cultura Conjunto Nacional (CN): Av. Paulista, nº 2073
*** a Livraria Cultura é parceira do Digestivo Cultural
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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