Quarta-feira,
28/3/2001
Digestivo nº 25
Julio
Daio Borges
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MR. WATSON, COME HERE - I WANT TO SEE YOU
Por esta nem Alexander Graham Bell esperava: a comunicação telefônica pela internet começa a fazer frente às grandes companhias ligadas ao ramo. Quem noticia é a The Economist, de 24 de março de 2001. Embora hoje em dia, com conexões e entroncamentos automatizados, o custo de ligações interurbanas tenha caído significativamente, o consumidor não viu as tarifas baixarem e, nos Estados Unidos, vem se tranferindo para as teias da Grande Rede. De maneira suscinta e simplificadora, a revista argumenta que a transmissão de pacotes de dados, via internet, é muito mais econômica do que os circuitos das ancestrais redes telefônicas. Ainda que a conversa fique truncada, pois a voz segue por partes, os usuários se dizem acostumados, posto que conviveram arduamente com os seus telefones celulares.
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The Economist |
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DEUS AO MAR O PERIGO E O ABYSMO E DEU, MAS NELE É QUE ESPELHOU O CÉU
A língua portuguesa também teve o seu Shakespeare, o seu Homero, o seu Dante. Por mais que não alcance, hoje, o mesmo prestígio literário do inglês, do francês, do alemão, o português de Luís Vaz de Camões, o português d'Os Lusíadas, é uma das mais altas manifestações do espírito e do gênio humano. E Ruth Escobar soube fazer jus a esse legado, em sua montagem do épico, na nova sala de teatro da Estação Júlio Prestes. A começar pela absoluta fidelidade ao texto, citado literalmente, do início ao fim do espetáculo. Dividida em dois atos de uma hora cada, a peça se apóia em oito episódios principais: Fantasmagoria, A Partida, O Atlântico, África Negra, África Islâmica, Índia, A Ilha dos Amores e A Volta. Os figurinos e, mormente, a música e a movimentação cênica revelam extensa pesquisa de fontes ocidentais e orientais, nos séculos que fizeram a fama e a glória de Portugal. O elenco, numeroso porém bem orquestrado, e os cenários, vultuosos porém eficientes, emprestam grandiloquência e potência à encenação. Marat Descartes, com sua voz de trovão, ressuscita o maior poeta da civilização luso-brasileira, em todos os tempos.
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Sala Estação das Artes - Praça Júlio Prestes - Centro |
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AS DROGAS FAZEM VOCÊ VIRAR OS SEUS PAIS
É crescente a onda de revalorização e de revitalização do Rock Brasileiro dos Anos 80. Desde Lulu Santos, cinqüentenário e acústico, até o resgate último da Legião Urbana, em Como é que se diz Eu Te Amo. Passando, complementarmente, pela ressureição bem produzida do Capital Inicial (com Kiko Zambianchi), e pela repentina popularidade do Ira!, aclamado durante show do Rock in Rio III, junto ao Ultraje a Rigor. Para o presente caso da Legião Urbana, embora haja certa pieguice e megalomania na penúltima fase de Renato Russo (que o disco registra), é reconfortante topar com um ídolo da juventude que, ao menos, se preocupava em usar os plurais, conjugar os verbos e colocar os pronomes (ainda que afirmasse "cantar em português errado"). Por mais musicalmente ingênuo e poeticamente adolescente que soasse, Renato Russo, ainda sim, tinha uma mensagem, tinha um discurso. Entoava, pelo menos, outros refrões que não os do culto ao corpo e do gozo do próprio aparelho reprodutor.
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Clique Music |
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ESTOU CONVENCIDO DE QUE O ATO DE TRANSFORMAR É TRANSFORMADOR
Augusto Boal está na capa de março da revista Caros Amigos, propagandeando as conquistas de seu Teatro do Oprimido. Também inventor do Teatro Fórum e do Teatro Invisível, acredita ter superado seu mestre Bertold Brecht. Voltando mais uma vez ao conceito que fez dele figura notória, Boal declara que, quando não existe "diálogo", existe apenas opressão, e "monólogo". Aplica essa fórmula a pretos e brancos, mulheres e homens, carrascos e vítimas. Como quase todos os agitadores políticos de sua geração, crê ele que a liberdade é um dos maiores anseios do homem contemporâneo, e que, portanto, só uma visão nítida da realidade poderá salvá-lo. Trata-se de um erro de generalização. Afinal de contas, toda tradição populista do Brasil mostra claramente que nem todos homens querem ser líderes: a vasta maioria quer ser mesmo é liderada.
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Caros Amigos |
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O CONSELHEIRO TAMBÉM COME (E BEBE)
A pizzaria Veridiana fica em Higienópolis, na rua de mesmo nome, quase em frente à Universidade Mackenzie. Descendente da linhagem que deu origem à Via Blu, na rua Lopes Neto, no Itaim Bibi, a Veridiana tem as paredes pintadas de vermelho, e serve aquela mesma massa fina e crocante, abrindo as portas de seu movimentado bar, pois a espera é longa. Os garçons e as garçonetes se deslocam, velozmente, entre os três extensos patamares, e você pode encontrá-los ásperos e apressados, pois o tempo urge. O local é agradável, apesar da badalação, e o chopp, claro e escuro, tem a consistência e o sabor das casas especializadas. As mesas, numerosas e muito próximas, permitem que você participe ativamente da conversa e dos segredos de quem está ao lado, portanto, cuidado com o que for falar. O preço, em consoância como que se oferece, e o bom humor dos manobristas não vão te decepcionar.
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Veridiana - R. Dona Veridiana, 661 - Tel.: 3258-8831 |
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>>> DIGA O SEU NOME E A CIDADE DE ONDE ESTÁ FALANDO
Alfredo Boal, de São Paulo: "Eu gosto do livro não porque seja do meu filho, mas porque é realmente rigoroso. Analisa a análise que o CPC fazia da realidade."
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Julio Daio Borges
Editor |
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