Sexta-feira,
17/3/2006
Digestivo nº 270
Julio
Daio Borges
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OVERMANOS E OVERMINAS DO BRASIL, UNI-VOS!
O anúncio, por e-mail, não teve esse estardalhaço todo. Era só um parágrafo, prometendo mundos e fundos. Na internet, quase todo mundo, que está começando, promete mundos e fundos. É normal. O “maior”, o “melhor”... Sem perceber, talvez, que, na nova mídia, não funciona o mesmo raciocínio (da velha). Vide a AOL no Brasil, empurrando literalmente CDs debaixo da porta das pessoas. Apesar de uma ou outra idéia boa (que nunca compensou a antipatia inicial), saiu de fininho do País. Mas o Overmundo – de que estamos falando– tem o apoio do MinC. Segundo um de seus “editoriais”, se é que podemos assim chamar, foi, inclusive, uma sugestão do MinC – com apoio, financeiro, da Petrobrás, via Lei Rouanet. É um site muito bem feito, como têm sido as iniciativas pós-Web 2.0 (como o Newsvine – embora não seja boa a comparação...). O fato é que o Overmundo pretende mapear as mais variadas manifestações culturais fora do chamado “eixo”. É o antimainstream por excelência – coisa que todo mundo é, mais ou menos, hoje em dia (mas não pode, nem deve, também, ser xiita). Outra novidade: além de colaboradores em praticamente todos os estados brasileiros, o Overmundo elege a importância das matérias cadastradas segundo a votação dos leitores. Entram na capa (ou na “home”) aquelas que merecem mais cliques da audiência. Muito democrático, mas tem um defeito: no primeiro dia, com todas as ferramentas funcionando, a matéria com mais destaque foi aquela sobre um “empresário” da indústria de cinema pornô da Amazônia... Livre escolha. Mas um pouco “over”, convenhamos. A inspiração – louvável – é wiki, a implementação, uma homenagem ao Digg e o lançamento, não adianta, é de grande mídia (com show aqui e acolá, por todo o Brasil). Se o Overmundo pode tudo, que seja apenas o melhor possível.
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Overmundo |
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OS BRUTOS TAMBÉM AMAM
Às vezes, de tanto chutar, Arnaldo Jabor acaba acertando. Como acertou sobre O Segredo de Brokeback Mountain. De fato, o filme é bom porque é incômodo. Porque, embora trate de um amor homossexual, não tem nada de necessariamente “gay” (no que este adjetivo tem de mais pejorativo – Paulo Francis: “Uma palavra tão bonita... o que foram fazer com essa palavra!”). Para um homem acostumado a admitir para si “os gays estão lá e eu estou aqui”, Brokeback Mountain é um balde de água fria sobre crenças já estabelecidas. Jack Twist (Jake Gyllenhaal) é bonito e Ennis Del Mar (Heath Ledger) dá entender, até para o expectador mais machão, que poderia acontecer com qualquer um. De repente, no meio de uma “trombada” noturna, numa barraca, no alto de uma montanha... alguém pode encontrar, além de satisfação momentânea... um grande amor! E a sempre incômoda opção. Mesmo casando e tendo filhos depois... Mas a sexualidade é sempre problemática. Vale recordar que J.M. Coetzee inicia seu Desonra (Prêmio Nobel de Literatura de 2003) com o personagem principal acreditando, na meia idade, haver resolvido “o problema do sexo”. Ele não era gay, nem “homo” – estava falando de prostituição. E não havia resolvido coisa nenhuma. Senão o livro não teria um título desse teor... Tudo bem, Brokeback Mountain, na estética e na poética, é meio água com açúcar. Vida sexual hoje é água com açúcar. Assunto de novela das seis; capa de revista semanal de fofoca. E – vamos admitir – no meio da caretice, e da falta de gosto, daquele ambiente nos Estados Unidos, valia quase qualquer coisa, para "sair"... Quase qualquer coisa. Pedro Almodóvar fez, sobre o tema, uma obra-prima. Ang Lee, não – mas, quem sabe, ele não torna, agora, mais palatável o Almodóvar.
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TUTTI, OGGI E QUI
O pessoal pensa que italiano é importante só em São Paulo, que, gastronomicamente falando, é a cidade das pizzarias. Pois os italianos, para quem não sabe, estão em quarto lugar na lista de povos mais influentes na formação do nosso País (atrás apenas de portugueses, índios e negros). A editora Italianova percebeu isso e teve uma idéia que, lendo aqui, parece óbvia, mas que não havia sido implementada até então: uma editora com uma base em São Paulo e outra, em Milão. Assim, desde 2003, a Italianova (seu nome no Brasil) promove o intercâmbio entre autores de lá e daqui. São, aproximadamente, três livros por trimestre (um livro, em média, por mês) e a editora já trouxe Alessandro Costatini, sobre o atualíssimo tema do “bullying”, Fabiano Dalla Bona, sobre o casamento entre literatura & gastronomia, e Silvio Golognese, claro, sobre a imigração italiana – entre outros, muitos outros. Enquanto isso, a Italianova levou pra lá: Daniel Piza, assinando perfil sobre Ayrton Senna, Denise Paraná, sobre Lula e o Brasil, e até best-sellers nacionais como o de Içami Tiba, Quem ama, educa. A Italianova pode, por conta disso, ser encontrada em mais de 600 livrarias no país de Dante (a meta é chegar em 1200 dos 1800 pontos-de-venda). Além do ineditismo de concentrar autores brasileiros numa única editora, na terra de Fellini, a Italianova vai promover, em 2006, uma invasão de clássicos brasileiros, na Itália, em parceria com o Instituto Cultural Brasil-Itália, ligado ao consulado brasileiro em Milão. Cristina Almeida, a sócia brasileira, e Max Pilotti, o sócio italiano, estão mostrando que a formação brasileira continuará a dever muito à italiana.
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Italianova | Italianuova |
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>>> EVENTOS QUE O DIGESTIVO RECOMENDA
>>> Palestras
* Novas Janelas para o Universo - Maria Cristina Abdalla e Thyrso Villela Neto
(Ter., 21/03, 19h30, CN)
>>> Noites de Autógrafos
* Os caminhos do Teatro Paulista - Clóvis Garcia
(Seg., 20/03, 18h30, CN)
* Através do Vidro - Elvira Schuartz
(Ter., 21/03, 18h30, CN)
* Marketing de Lugares - David Gertner, Donald H. Haider, Philip Kotler e Irving Rein
(Ter., 21/03, 19h00, VL)
* China: o renascimento do império - Claudia Trevisan
(Qua., 22/03, 18h30, CN)
* Bens e costumes na Mantiqueira - Lucilia Siqueira
(Qui., 23/03, 18h30, CN)
>>> Shows
* Concerto - Eudóxia de Barros
(Seg., 20/03, 20h00, VL)
* Um bar em Kansas City - Traditional Jazz Band
(Sex., 24/03, 20h00, VL)
* Livraria Cultura Shopping Villa-Lobos (VL): Av. Nações Unidas, nº 4777
** Livraria Cultura Conjunto Nacional (CN): Av. Paulista, nº 2073
*** a Livraria Cultura é parceira do Digestivo Cultural
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Julio Daio Borges
Editor |
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