Sexta-feira,
7/4/2006
Digestivo nº 273
Julio
Daio Borges
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O CONSELHEIRO AINDA COME (E BEBE)
Como Olivier Anquier, que acabou se estabelecendo no Brasil por amor, também Jean Pierre Roumilhac veio do país de Napoleão para empreender, gastronomicamente falando, no de Dom João VI e Dom Pedro I. “Pelo amor de uma brasileira”, ele assume com um sorriso e com seu sotaque bastante forte. Em novembro do ano passado, Jean Pierre inaugurou o La Toque, no conhecido Vale do Silício paulistano, a Vila Olímpia. Na rua Gomes de Carvalho, o La Toque trouxe para São Paulo o conceito da bem-sucedida cadeia parisiense Flo: gastronomia sofisticada e ao mesmo tempo prática & rápida (uma mistura, se é possível imaginar, entre a agilidade do fast-food e a elaboração do slow-food). É simples: Jean Pierre Roumilhac importou o chef David Monarque, que estruturou a cozinha da rede Flo, comandando-a por mais de seis anos, e inaugurou, no La Toque, um bufê e um serviço de entregas de virtualmente alta gastronomia. Ou seja: o La Toque tem hoje uma pâtisserie com alguns dos melhores doces da cidade, mas, sem perder a elegância e o charme, recebe, na hora do almoço, executivos das mais variadas castas. O La Toque tem uma chef brasileira, Mariana Hatanaka, produzindo mais de duzentas “doçuras” por dia, e, sem perder a delicadeza e a sensibilidade, despacha sobremesas, entradas e pratos principais numa embalagem piramidal que ficou famosa até pelo design. Assim, você pode começar, por exemplo, com um steak tartare ou uma alcachofra norueguesa, passar por fricassés, tomates à provençal, quiches ou paellas, e terminar em éclairs, papilotes e Paris Brests. Por menos do que você pensa, ou mesmo se estiver no meio de uma reunião de trabalho – e precisar encomendar. Jean Pierre Roumilhac não sabe explicar por que tão poucos franceses são empreendedores como ele, principalmente no Brasil, mas avisa que tem mais planos para o País – no ramo da hotelaria.
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La Toque |
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CRISTAL
Até pela própria natureza da música do Brasil, é muito difícil combinar erudito com popular sem soar repetitivo ou mesmo esquisito. Geralmente, os instrumentistas querem desenvolver as possibilidades da música erudita brasileira, mas precisam, ao mesmo tempo, do apelo da popular, para atingir determinado público. (Já que o público de música de qualidade, no Brasil, parece que vem diminuindo — enquanto parece que vem aumentando o público de "popularíssima".) Pois Andrea Ernest Dias, à flauta, e Tomás Improta, ao piano, conseguiram esse feito quase inigualável: incluir, num mesmo disco, desde Chico Buarque até Villa-Lobos; desde Pixinguinha até Jacob do Bandolim; desde Garoto até Tom Jobim. O álbum, pela Biscoito Fino, é muito bem concebido, no sentido de mostrar que esses compositores todos estão muito próximos, se você souber fazer a gradação — como fizeram Andrea e Tomás. E se as escolhas dos nomes são aparentemente óbvias, quando ouvimos, percebemos que as do repertório não são. Há, por exemplo, Moacir Santos — que andava esquecido até a sua redescoberta, via Ouro Negro (2001) —, com "Coisa nº 9". Há até dois pesos pesados "de fora": um erudito, Gabriel Fauré; e outro popular, Cole Porter. Como Andrea e Tomás conseguiram amarrar o todo é um segredo que só eles sabem, como bem observou Edu Lobo no encarte. A flauta de Andrea é envolvente e lembra aquele sentimento de se ouvir um Paulo Sérgio Santos, que conseguia tocar com Guinga e, concomitantemente, soar etéreo executando as nossas "Bachianas Brasileiras". E o piano de Tomás não compete, faz as "camas" e sola na hora exata. Numa época em que se pensa tanto para adquirir um CD, é uma obra para não causar arrependimento.
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Flauta e Piano - Andrea Ernest Dias e Tomás Improta - Biscoito Fino |
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PARABOLICAMARÁ
O centro e a periferia, alguém precisa escrever esse livro. Chris Anderson está finalizando The Long Tail, mas não se sabe se é o mesmo conceito... Enquanto isso, no Brasil, o MinC, através da Rede Brasil de Produtores Culturais Independentes, com patrocínio da Petrobrás, vai mostrar os resultados de seu mais ambicioso programa, o Cultura Viva, num evento organizado só para isso, a Teia ou a Rede de Cultura do Brasil, que acontece de 6 a 9 de abril, em São Paulo. Será no prédio da Bienal, com ramificações no Mam, no Mac do Ibirapuera e no Sesc Vila Mariana. O Cultura Viva, que consolidou sua primeira etapa de trabalho no ano passado, foi concebido em 2003, pelo MinC, com a ambição de, justamente, fugir da padronização imposta, globalmente, pela cultura de massas. Como? Resgatando manifestações autênticas da cultura popular, ou local, através dos chamados Pontos de Cultura – centros espalhados por todos os estados brasileiros, com o objetivo único de, além de preservar, fomentar manifestações criativas originais e, de preferência, fora do eixo Rio-São Paulo. Afora o balanço do Cultura Viva, a Teia pretende reunir na capital paulista mais de mil representantes da cultura popular brasileira, mais de mil produtores dos Pontos de Cultura e mais de seiscentos empreendedores da chamada economia solidária. Sem contar fóruns, debates e trocas de experiências, como agora se anuncia, está prevista, ainda, uma extensa programação artística, na mesma linha, com exposições, peças de teatro, sessões de cinema, muita música e até iniciativas multimídia. E se os grandes centros sempre distribuíram sua cultura, muitas vezes de maneira impositiva, em direção à “periferia” do Brasil, pelo menos nos primeiros dias de abril, essa “mão” será invertida. E se a periferia vem ganhando força, ao menos na internet, e o centro, perdendo, a Teia parece uma grande oportunidade para, oficialmente, se reconhecer isso.
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TEIA - Rede de Cultura do Brasil |
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>>> EVENTOS QUE O DIGESTIVO RECOMENDA
>>> Noites de Autógrafos
* O que não me contaram sobre Jesus - Lamartine Posella
(Seg., 10/04, 18h30, VL)
* Rompendo o Marasmo - Armando Castelar e Fabio Giambiagi
(Seg., 10/04, 19h00, CN)
* A MP do Bem - Ives Gandra da Silva Martins, Marcelo Magalhães Peixoto e André Elali (orgs.)
(Ter., 11/04, 18h30, CN)
* Diabetes - Patricia Costa de Albuquerque Schil
(Ter., 11/04, 19h00, VL)
>>> Shows
* Concerto - Quarteto Portinari
(Seg., 10/04, 20h00, VL)
* Traditional Jazz Band – 40 anos - Traditional Jazz Band
(Sex., 14/04, 20h00, VL)
* Livraria Cultura Shopping Villa-Lobos (VL): Av. Nações Unidas, nº 4777
** Livraria Cultura Conjunto Nacional (CN): Av. Paulista, nº 2073
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Julio Daio Borges
Editor |
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